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Global faz sucesso com canal no YouTube sobre sexo e relacionamento: ‘Não dá mais para trepar sem gozar’

Foto: Arte de Luiz Costa sobre foto de Gabriel Monteiro

Toda quinta é dia de DR na casa de Maria Flor. E mais de 30 mil pessoas podem assistir à atriz e seu marido, o filósofo e roteirista Emanuel Aragão (com quem está casada há dois anos), debaterem sexo oral, masturbação, monogamia, divisão de tarefas… Desde que, há dez meses, lançaram o canal Flor e Manu, no Youtube, o casal divide sua intimidade com o público, falando, sem pudor, de temas ou situações que vivem no casamento.

O sucesso é tanto, que a DR virou a peça “Tudo que você sempre quis dizer sobre o casamento”, prevista para estrear no Rio em setembro. Os frutos não são apenas profissionais. O exercício de discutir a relação tem provocado nos dois uma constante reflexão sobre a qualidade da relação. E se hoje Flor fala abertamente sobre sexo e tabus, é graças à construção de uma liberdade pessoal. O que talvez tenha começado quando deu um basta no casamento anterior, por causa de uma calça justa e uma frase dita pelo ex-parceiro (“você está vulgar”). Na verdade, a luta vem antes. “Fui bem reprimida na adolescência e não tinha diálogo sobre sexo com meus pais”, conta ela, filha da roteirista Marcia Leite e do técnico de som Renato Calaça. “Somos criadas para dar prazer aos homens e reprimir o próprio prazer”.

Em sua casa no Horto, que foi completamente alagada na enchente do início do mês, a atriz falou ainda mais sobre sexo, mas também sobre seus trabalhos. Aos 35 anos, longe da TV desde 2017, se dedica ao teatro e ao cinema. Em junho, estreia temporada carioca da peça “A ponte”, sobre o reencontro de três irmãs. No segundo semestre, lança “Filme ensaio”, seu primeiro filme como diretora, e estrela a comédia romântica “Quatro amigas numa fria”, de Roberto Santucci. Contou também que está escrevendo um livro. Batizado de “Transparente”, fala de uma atriz que termina uma relação e tenta se redescobrir. Qualquer semelhança…

O que a experiência de dirigir e produzir acrescentou no seu trabalho de atriz? Você mudou?

Bastante, acho que fiquei mais generosa. Quando a gente vê de dentro, percebe que é complicado fazer, e, às vezes, o ator dá muito trabalho.

O que é sucesso para você?

Já foi ser atriz famosa, capa da revista. Hoje acho que é produzir minha peça, fazer algo que me dê felicidade, faça sentido. Ter dinheiro, ser famosa, o que isso traz? Cada vez mais, vemos atrizes valorizadas porque são jovens, bonitas, têm a pele boa, o corpo magro. Isso acaba, entra outra no lugar. O negócio é construir algo de que você possa ter orgulho e dizer “isso me formou como ser humano”. Porque ser atriz não me define, sou uma pessoa.

Como se imaginava aos 35 anos?

Tinha uma projeção careta, achava que estaria com três filhos, rica, sarada, pleníssima ( risos ). Mas a vida é muito mais estranha…

Pensa em ser mãe?

Às vezes. Tenho um enteado ( Martim, filho de Emanuel ) de 5 anos e dá para ver a realidade de ter uma criança. Isso me assustou, o trabalhão que dá.

Que tipo de madrasta você é?

Sou mais rígida. Martim fala: “A Flor não vai gostar disso” e “Aqui em casa, tem que levar o prato na cozinha porque a Flor gosta que leve”. Mas sou toda manteiga derretida com ele.

É a favor do aborto? Já fez?

Sou, super. Nunca engravidei, nem sei se sou capaz. Mas penso que uma hora vou ter que tomar essa decisão. Muitas vezes eu penso em não ter. O problema é me arrepender, chegar aos 60 e pensar que deveria ter tido, que na minha arrogância de 35 anos, de querer usar meu tempo para fazer e acontecer, não consiga entender a beleza que é abrir mão de coisas para viver outras lindas.

No canal no YouTube, vocês falam de assuntos íntimos, simulam sexo oral… Não é muita exposição?

O que não é exposição hoje? A gente está exposto o tempo todo. Eu não me importo. Quando dizem que estou chata, que falo muito, é até bom porque penso sobre mim mesma. A gente fala de coisas pelas quais passamos e muita gente se identifica. As pessoas não estão conseguindo se comunicar mais, a gente perdeu a capacidade do diálogo, a noção do outro.

Acha que o debate sobre sexo sempre partiu da ótica masculina?

Sim. É a ereção e o orgasmo masculino, o sexto é pautado por isso. Precisamos abrir o leque. Quando falo sobre masturbação feminina na peça, as pessoas ficam em silêncio, constrangidas. A gente questiona a ideia de o homem precisar mais de sexo do que a mulher. Fomos criadas para agradar, para servir. É uma busca feminina se libertar, ser livre sexualmente. Talvez, nas próximas gerações, isso nem seja questão, se Deus quiser! Minha geração não foi livre. A gente foi criada para dar prazer para ao homem e reprimir o nosso prazer, a gente não pode gritar, sentar de perna aberta, dizer “ah, quero namorar esse menino” ou “vai mais pra direita…”.

Como você foi se libertando?

Conforme fui me relacionando. Ganhei não só uma consciência do meu próprio corpo, como uma liberação para dizer “isso não tá bom, vamos fazer assim?”. Não dá mais para trepar e não gozar.

Teria uma relação aberta?

Não tenho estrutura emocional, maturidade, para lidar. Acho que gera muito sofrimento e viver já é sofrido.

Namoraria uma mulher?

Namoraria. Várias. Falo pro Emanuel: “Se a gente se separar, vou casar com uma mulher”. Não penso em nenhuma específica, mas em como vejo mulheres potentes, interessantes, desafiadoras a minha volta e desejo estar perto delas. Admiro a rebeldia, a maluquice, a liberdade de dizer o que pensam, fazer o que querem. A vontade de criar um lugar, um espaço que seja delas. Admiro muitas mulheres. E tenho muitas amigas que confio e que são mulheres incríveis, como Andréa Beltrão e Mariana Lima. Essas duas eu namoraria com certeza.

Já tolerou atitudes de namorados que hoje não aguentaria?

Muita coisa. Tipo “você está vulgar”. Me separei por causa dessa fala. O casamento já estava ruim, mas quando ele falou isso, a minha admiração foi embora. Pensei, “vai se foder!”. Era uma calça colada.

Em fevereiro você fez um post refletindo sobre racismo na época em que namorou o ator Jonathan Haagensen, que é negro. Como foi?

Foram várias situações. Sempre que ele estava dirigindo a gente era parado pela polícia. Tínhamos uma técnica de trocar de lugar no carro: eu pulava para dirigir. Funcionava. Havia um julgamento social também. Meu avô falou pra mim: “Você está namorando um escuro”. Me descabelei. Imaginava que seria difícil para ele, mas ter coragem de verbalizar isso? Não só foi muito racista, como não olhou para mim. Depois, nunca mais consegui lidar com o meu avô.

O que busca em uma relação?

A tentativa de honestidade. Eu cansei de fingir, de mentir. Fazer de conta que está tudo bem, que o mundo não está colapsando, que a gente não está triste. Procuro me relacionar com pessoas que estão tentando falar a verdade do que sentem e pensam. Mas é difícil, nesse mundo de superficialidade e eficiência, encontrar pessoas que queriam conversar e não dar respostas prontas para tudo.

O Globo

 

Opinião dos leitores

    1. Tico, o problema tá nas nos homens que não procuram conhecer o corpo das mulheres pra satisfaze-la como elas merecem, só pensam na cabeça do próprio p…

    1. Interessante, mulher vai pra cama com homens e diz que não goza. Sozinha, bota o dedo na xereca e goza em 2 mim. onde está o problema, no homem ou na mulher?

      Se a mulher não gosta de homem, só gosta de dedo, o problema está nela.

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