O Tópico é meu, o texto de Alex Medeiros:
Alguém já disse que a noção de tempo na era da informática é bem diferente daquela dos calendários. As constantes inovações tecnológicas, os avanços quase semanais na internet, dão ao espaço de três ou cinco anos uma sensação de décadas.
O advento das redes sociais e sua ágil e instantânea interatividade dão a impressão de que pertencem ao vácuo de um passado remoto as ferramentas do e-mail, do msn, do Orkut e até dos blogues. E com iphones, blackberrys, smartphones e tablets, então…
Mas, toda essa mudança gerou também uma usina de possibilidades para a alimentação de neuras, taras e crimes contra a honra de outrem. Surgiram em velocidade exponencial os falsos perfis, ou “fakes”, oriundos da primeira geração das redes, o Orkut.
Antes do Twitter e Facebook se tornarem também uma onda no Rio Grande do Norte, o universo da blogosfera provocou polêmica, principalmente em Natal, com blogues apócrifos como “Priziaka”, “Jesus Apócrifo” e “Xeleléu”, o mais famoso deles.
As agressões e acusações contra políticos e autoridades foram alvo de investigação, tendo os agentes policiais até identificado alguns IPs, os registros que revelam de onde teclam os falsos perfis. O “Xeleléu” gerou até ações contra o portal UOL.
Nos últimos meses, depois que a elevada rejeição ao governo da prefeita de Natal, Micarla de Sousa, segundo publicaram algumas pesquisas, provocou ações de protestos e críticas que culminaram no movimento “ForaMicarla”, os “fakes” voltaram.
E voltaram numa multiplicação quase incontável. São dezenas, alguns com irrisórios seguidores e outros com centenas, a travarem na “timeline” do Twitter uma guerra de desaforos sem fim, como leões de chácaras de ambos os lados da luta política.
Em quanto os estudantes invadem as ruas e a Câmara Municipal, exigindo investigação em aluguéis que consideram ilegais por parte da prefeitura, os “fakes” pró e contra Micarla digladiam-se nas redes sociais verbalizando seus crimes de difamação.
Endereços como @xoinseto (contra a prefeita), @milenatristorn (a favor), @XoFulo (contra Rosalba), @amigosborboleta (pró-Micarla) @PauloSBarbosa (contra Micarla), são assíduos nas postagens de pancadarias virtuais, que repercutem na rua.
Nas conversas que tive nos cafés e por telefone, há suspeitas de todos os tipos. Dizem que até gabinetes políticos funcionam como casamatas internéticas para o bombardeio de denúncias vazias e injúrias pessoais.
Também ouvi que já grampearam alguns IPs. No meio dessa batalha de radicalismo sem rosto, o mais preocupante é o envolvimento emocional dos perfis verdadeiros, que tomam partido pelos perfis das suas preferências políticas, como espectadores insones que escolhem um lutador nas lutas de UFC na TV.
Quem é contra a prefeita, por exemplo, acha um absurdo a existência de “fakes” agredindo a imagem de personalidades que assumem a oposição ao governo; quem é a favor considera uma barbaridade os palavrões digitados contra a alcaidessa. No meio do tiroteio que agita o Twitter, as balas ensandecidas atingem o bom senso de ambos os lados da pendenga, gerando um clima de animosidade na vida real. Ninguém sabe aonde isso pode levar. Diante dos “fakes” das redes, o “Xeleléu” não entra nem na categoria dos delinqüentes.
Muito bom. Acho a onda fake tão covarde quanto o silêncio comprado com cargos públicos, assessorias fantasmas e patrocínios suspeitos.