Diversos

Antônio Fagundes sobre revisionismo na literatura: ‘É um absurdo mudar clássicos’

Antonio Fagundes como o personagem Alberto, dono de uma editora, na novela ‘Bom Sucesso’ Globo / Victor Pollak/Divulgação

Ator requisitado na TV, cinema e teatro, Antonio Fagundes, 71 anos, dificilmente parava em casa – isso antes de 2020 impor uma quarentena e o distanciamento social. Inicialmente, o tempo, por assim dizer, de molho, foi visto por ele como uma chance de ler ainda mais – o ator consome de dois a três livros por semana. Por fim, o ano acabou sendo muito mais agitado do que Fagundes esperava. “Fiz tantas lives e li tantos roteiros que me mandaram, que acabei trabalhando bastante”, diz. Entre os projetos abraçados por ele nos últimos meses está sua primeira investida na escrita de um livro. Publicado pela editora Sextante, Tem um Livro Aqui que Você Vai Gostar traz 150 dicas de leitura do ator e leitor voraz. Apesar da seleção robusta, aparentemente destinada aos que já possuem o hábito de ler, Fagundes vê no título uma maneira de instigar novos leitores. A VEJA, ele fala sobre alguns dos livros escolhidos e dá dicas de como desenvolver a paixão pela leitura:

Sendo um leitor voraz, seus amigos costumam pedir com frequência indicações de livros? Na verdade, como costumo falar sobre livros no Instagram, as pessoas me perguntam o que estou lendo. No fundo, acho difícil indicar livro para uma pessoa. É necessário conhecer os gostos dela, bagagem cultural e histórica, além de vocabulário. Não dá para recomendar Platão para quem nem leu O Pequeno Príncipe. Pensando nisso, percebi que não dava para indicar um livro ou dois, por isso saiu uma lista de mais de 150. Se alguém comprar e ler pelo menos um dos livros ali, já estou feliz.

O senhor empresta livros? Nunca. Livro que eu leio é meu para o resto da vida (risos). Não empresto. Prefiro comprar outro e dar de presente. Assumo que nem sei quantos livros tenho em casa.

Em um capítulo, o senhor fala de clássicos que todo mundo diz que leu, mas nunca leu, só viu um filme, como Dom Quixote. Prefere então os livros às adaptações? O filme, eu digo, tem alguém lendo o livro para você. Estão interpretando, tem um cenário, figurino, tipo de ator. Já vem pronto. O cinema é imediato. Na leitura, esse processo é com você. O leitor é o dono da história. Você lê a descrição e imagina a cara do personagem, a roupa, se está calor. Você entra na história com mais profundidade. Frankenstein, por exemplo, ficou famoso com um filme que não tem nada a ver com o livro. Ao ler esta obra da autora Mary Shelley, você entende a humanidade. É o Prometeu moderno, ele questiona até onde a ciência pode ir, faz uma associação da humanidade diante do criador Deus, pode ser até uma leitura feminista. Por isso é importante ler o livro e não só ver o filme.

Quantas vezes o senhor leu Dom Quixote? Acho que umas quatro vezes, e ainda não entendi tudo direito. Que livro deslumbrante! É muito rico. Tem um livro dentro do livro dentro do livro. É moderníssimo.

No livro, o senhor diz que leu cada peça de Shakespeare três vezes. Que paixão é essa? E digo que três também foi pouco. Como disse Harold Bloom: Shakespeare inventou o humano. E interessante que eu não tenho vontade de montar Shakespeare. Uma adaptação, especialmente no Brasil, demanda mexer muito no texto para torná-lo mais palatável. O que descaracterizaria a obra. Por isso, prefiro ler as peças, que são riquíssimas. Repletas de possibilidades, enfoques filosóficos, sociológicos…

Hoje vemos um movimento de revisionismo de obras do passado, assim como o “cancelamento” de seus autores. Alguns deles estão entre as indicações dos seus livros, como H.P. Lovecraft, acusado de racismo, e Arthur Conan Doyle, o autor de Sherlock Holmes, tido como machista. Como vê esse momento? Acho um absurdo mudar clássicos. É necessário estimular as pessoas a entenderem o que é machismo, por exemplo, mas não destruir a obra do cara. Ele era machista na época dele, e na época era o que tinha que ser. Estamos evoluindo – se bem que não sei se evoluímos tanto assim na verdade. Mas destruir a obra de alguém para atender uma corrente não é uma coisa boa. Eu prefiro separar obra de autor.

Suas dicas de leitura são variadas, mas é perceptível um gosto por livros obscuros, como thrillers e suspense. Se fizer um apanhado, eu gosto de tudo. O gênero que eu gosto é o do livro bom. Sobre suspenses e thrillers, gosto bastante do Stephen King, do Lovecraft, e de nacionais como Raphael Montes e Patrícia Melo. Eles escrevem muito bem o gênero policial, que é pouco explorado no Brasil. Nosso país, aliás, tem um problema com gênero. Nosso cinema ou é comédia ou cult, são poucos de ficção científica, terror, policial. E fico feliz de ver autores jovens como eles sendo reconhecidos pelo bom trabalho.

Seu livro também traz dicas práticas de como se dedicar à leitura e adquirir esse hábito. Um dos vilões apontados é o celular. Como lida com esse vício moderno? Eu coloco limites. Uso o Instagram uma hora por dia. Na sexta-feira, coloco o celular na gaveta e só tiro de lá na segunda de manhã. Ando até pensando em fazer isso um dia no meio da semana também.

Veja

Opinião dos leitores

  1. Excelente ator! Um dos maiores do Brasil! E, certamente, será um sucesso com esse livro. Na verdade, qualquer livro que provoque curiosidade sobre a literatura, e que dê dicas incentivando o hábito da leitura, em um País que lê tão pouco como o nosso, merece ser celebrado, divulgado e festejado!

  2. Como se isso não bastasse, a moda entre alguns professores ditos progressistas é tentar acabar com o resto da lingua portuguesa querendo impor uma aberração chamada linguagem neutra.

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Televisão

Dispensado pela Globo após 44 anos de trabalho, Antonio Fagundes critica emissora por onda de demissões: ‘Arriscando sua história’

FOTO: Reprodução/TV Globo

Dispensado pela Globo após 44 anos de trabalho, Antonio Fagundes criticou a emissora pela onda de demissões que vem promovendo há alguns anos. “A Globo está se desfazendo de seu patrimônio e arriscando sua história”, declarou o veterano de 71 anos. Apesar de não ter tido seu contrato renovado, o ator é cotado para o remake de Pantanal.

Em entrevista à revista Veja, Fagundes disse que a estratégia para cortar gastos é um tiro no escuro. “Comparando, é como se um museu que durante décadas expôs a Monalisa de repente resolvesse se desfazer justamente dela. Pode ser bom, do ponto de vista administrativo e financeiro, mas corre-se um grande risco”, explicou.

“A Globo não é uma fábrica de sapatos, trabalha com arte, emoção e fidelidade. Durante cinquenta anos, o público assistiu a essas pessoas nessa emissora e tem um carinho especial por elas. É como se a empresa propusesse esquecer todo o passado e começar o futuro. Pode dar certo, mas também pode não dar”, avaliou o artista.

No ar até janeiro deste ano, quando chegou ao fim a novela Bom Sucesso (2019), Antonio Fagundes confessou que sabia que a dispensa poderia acontecer em algum momento.

“Todos esses anos de casa foram bons para mim e, claro, para a empresa também. Logo que entrei na Globo, passei um período contratado por obra, por minha opção. Queria ter liberdade de fazer só o que me interessasse. Com o tempo me rendi, até porque tinha conquistado certa independência na escolha dos trabalhos”, ressaltou.

“Só que a empresa mudou sua forma operacional. Entendo que não é específico comigo, que não fui mandado embora porque não sirvo mais. Até porque já estão querendo me contratar para o remake da novela Pantanal, no ano que vem”, afirmou o marido de Alexandra Martins.

Intérprete de papéis marcantes como o caminhoneiro Pedro da série Carga Pesada (1979 -1981) e o fazendeiro Bruno Mezzenga de O Rei do Gado (1996), Fagundes rebateu os comentários sobre ter ficado mais de quatro décadas na mesma emissora. “Escuto muito: ‘Você deu 44 anos da sua vida para eles’. Não, não dei nada para ninguém. Foi uma troca”, finalizou o astro.

Notícias da TV – UOL

Opinião dos leitores

  1. VAGABUNDO S VERGONHA DESSES, MAMOU A VIDA TODA NA REDE LIXO E AGORA SAI RWCLAMANDO. TU É UM VERME SEU LIXO.

  2. Se o Príncipe da corrupção Lula Boca de Álcool Macunaíma tivesse agido com 10% da coragem de Bolsonaro, o sistema globo estaria falido a vários anos. Porém, todavia, contudo e entretanto, o capo tupiniquim mordia e assoprava e acovardado foi tragado pelo noticiário da garganta profunda.

  3. QUEM PASSAR POR DERRADEIRO, FECHA A PORTA.
    Ôôô prejuízo da cota serena a globo lixo carrega nas costas por querer desqualificar o nosso Presidente Bolsonaro.
    kkkkk.
    Esse aí é duro viu?
    Ele avisou, sem medo.
    Se eu chegar lá, vcs vão ter só o que é de direito e nada mais.
    Promessa cumprida.
    Parabéns presidente Jair.
    Tamos juntos!!!
    Arrocha!!!

  4. A globo sempre se alimentou com dinheiro público , sempre de braços dados com os governos de qualquer tendência ideológica , o negócio era numeros.Agora pegou um governo dos culhoes roxos tá sentido o efeito rebote das vacas magras !

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Televisão

VÍDEO: Assessoria nega que Antonio Fagundes tenha sido agredido em posto; imagens fortes viralizaram nas redes sociais

A assessoria de comunicação de Antonio Fagundes negou que o ator tenha sido agredido em um posto de combustíveis após um vídeo começar a circular nas redes sociais nesta quinta-feira, 17.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo também desmentiu à Rádio Bandeirantes que o homem que aparece levando dois tapas no rosto na gravação seja o ator.

A informação foi dada ao apresentador José Luiz Datena, pelo secretário Mágino Alves Barbosa. Ainda não se sabe onde e quando o vídeo foi gravado. Em instantes, a TV Globo vai divulgar uma nota para esclarecer o ocorrido.

No vídeo, dois homens começam a discutir enquanto o mais velho – aparentemente bêbado e segurando uma garrafa de cerveja – xinga o mais novo de “seu merda”. O jovem se irrita e dá dois tapas na cara do senhor, que cai no chão do posto de combustíveis.

https://www.youtube.com/watch?v=TLmKgVwExJ0

Band

Opinião dos leitores

  1. Triste Mesmo que nãoque fosse o Fagundes, o babaca que bateu está errado.mas infelizmente não dá pra negar que é Antônio Fagundes! Espero que o coroa tenha um amigo, Filho pra devolver em dobro o que esse valentão merece…

  2. Idade e embriaguez passaram a ser passaporte para fazer o que quiser com quem quiser faz quanto tempo?
    Venha um desses desrespeitar a mim ou minha esposa para ver se vai ganhar flores e uma caixa de chocolate.
    Mas a geração mimimi agora se dói até pelos outros…

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Política

Antonio Fagundes: “No PT eu não voto mais”

mi_2610658528681436Ator fala sobre sua decepção com o partido, explica como a crise atinge o teatro e diz que o marketing determina a cena cultural

Há 50 anos Antonio Fagundes estreava com a peça “Farsa com Cangaceiro, Truco e Padre”, no Teatro Arena, em São Paulo. Foi o primeiro cheque que ele recebeu na vida, costuma brincar o ator de 66 anos.

‘Na época da ditadura, os espertos conseguiam falar pelas entrelinhas’

Hoje, do alto de uma trajetória de dezenas de espetáculos, novelas e filmes, Fagundes está em cartaz com “Tribos”, ao lado de Bruno, 26 anos, seu filho mais novo – é a terceira vez que atuam juntos. O espetáculo trata de uma família disfuncional composta por um casal de intelectuais e seus três filhos: um esquizofrênico, uma cantora e um surdo.

“Eu tenho a maior inveja das lutas de MMA. Quando um combate acontece, cerca de 30 mil pessoas assistem ao evento. Com 30 mil, eu loto esse teatro durante seis meses”

Carioca criado na capital paulista, o ator falou à ISTOÉ sobre como a platéia mudou ao longo dessas décadas de trabalho, a crise da política nacional e a cena cultural brasileira.

Leia entrevista completa aqui

Isto É

Opinião dos leitores

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