Mundo

Abdulrazak Gurnah, romancista tanzaniano, ganha Prêmio Nobel de Literatura 2021

Foto: Divulgação / Twitter

Abdulrazak Gurnah, romancista tanzaniano, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2021. O anúncio foi feito na manhã desta quinta-feira (7) pela Academia Sueca.

Segundo a Academia, o prêmio foi concedido “por sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes.”

“Seus romances fogem de descrições estereotipadas e abrem nossos olhares para uma África Oriental culturalmente diversificada, desconhecida para muitos em outras partes do mundo”, afirmou a Academia.

Gurnah nasceu em 1948 e cresceu na ilha de Zanzibar, chegando na Inglaterra na década de 1960 como refugiado. O romancista começou a escrever aos 21 anos de idade e publicou dez livros e diversos contos ao longo da carreira. A temática de refugiados é a base de todo seu trabalho.

O romancista é conhecido sobretudo pelo livro “Paradise”, de 1984, ambientado no leste da África durante a Primeira Guerra Mundial. A obra foi finalista na época do Booker Prize de ficção.

Seu livro de estreia (“Memory of Departure”) foi lançado em 1987 e conta a história de um jovem talentoso que tenta uma nova vida sob a proteção do tio em Nairobi, mas em vez disso, é humilhado e precisa retornar para sua família problemática, incluindo um pai alcoólatra e uma irmã que é forçada a se prostituir.

“Pilgrims Way” (1988) e “Dottie” (1990) foram os livros seguintes do romancista. Sua obra mais recente, “Afterlives”, foi lançada em 2020, e conta a história de Hamza, um jovem que é forçado a ir para a guerra ao lado dos alemães e se torna dependente de um oficial que o explora sexualmente.

Gurnah atuava como Professor de Inglês e Literaturas Pós-coloniais na Universidade de Kent, em Canterbury, aposentando-se recentemente.

Para ler a matéria na íntegra acesse AQUI.

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Diversos

Antônio Fagundes sobre revisionismo na literatura: ‘É um absurdo mudar clássicos’

Antonio Fagundes como o personagem Alberto, dono de uma editora, na novela ‘Bom Sucesso’ Globo / Victor Pollak/Divulgação

Ator requisitado na TV, cinema e teatro, Antonio Fagundes, 71 anos, dificilmente parava em casa – isso antes de 2020 impor uma quarentena e o distanciamento social. Inicialmente, o tempo, por assim dizer, de molho, foi visto por ele como uma chance de ler ainda mais – o ator consome de dois a três livros por semana. Por fim, o ano acabou sendo muito mais agitado do que Fagundes esperava. “Fiz tantas lives e li tantos roteiros que me mandaram, que acabei trabalhando bastante”, diz. Entre os projetos abraçados por ele nos últimos meses está sua primeira investida na escrita de um livro. Publicado pela editora Sextante, Tem um Livro Aqui que Você Vai Gostar traz 150 dicas de leitura do ator e leitor voraz. Apesar da seleção robusta, aparentemente destinada aos que já possuem o hábito de ler, Fagundes vê no título uma maneira de instigar novos leitores. A VEJA, ele fala sobre alguns dos livros escolhidos e dá dicas de como desenvolver a paixão pela leitura:

Sendo um leitor voraz, seus amigos costumam pedir com frequência indicações de livros? Na verdade, como costumo falar sobre livros no Instagram, as pessoas me perguntam o que estou lendo. No fundo, acho difícil indicar livro para uma pessoa. É necessário conhecer os gostos dela, bagagem cultural e histórica, além de vocabulário. Não dá para recomendar Platão para quem nem leu O Pequeno Príncipe. Pensando nisso, percebi que não dava para indicar um livro ou dois, por isso saiu uma lista de mais de 150. Se alguém comprar e ler pelo menos um dos livros ali, já estou feliz.

O senhor empresta livros? Nunca. Livro que eu leio é meu para o resto da vida (risos). Não empresto. Prefiro comprar outro e dar de presente. Assumo que nem sei quantos livros tenho em casa.

Em um capítulo, o senhor fala de clássicos que todo mundo diz que leu, mas nunca leu, só viu um filme, como Dom Quixote. Prefere então os livros às adaptações? O filme, eu digo, tem alguém lendo o livro para você. Estão interpretando, tem um cenário, figurino, tipo de ator. Já vem pronto. O cinema é imediato. Na leitura, esse processo é com você. O leitor é o dono da história. Você lê a descrição e imagina a cara do personagem, a roupa, se está calor. Você entra na história com mais profundidade. Frankenstein, por exemplo, ficou famoso com um filme que não tem nada a ver com o livro. Ao ler esta obra da autora Mary Shelley, você entende a humanidade. É o Prometeu moderno, ele questiona até onde a ciência pode ir, faz uma associação da humanidade diante do criador Deus, pode ser até uma leitura feminista. Por isso é importante ler o livro e não só ver o filme.

Quantas vezes o senhor leu Dom Quixote? Acho que umas quatro vezes, e ainda não entendi tudo direito. Que livro deslumbrante! É muito rico. Tem um livro dentro do livro dentro do livro. É moderníssimo.

No livro, o senhor diz que leu cada peça de Shakespeare três vezes. Que paixão é essa? E digo que três também foi pouco. Como disse Harold Bloom: Shakespeare inventou o humano. E interessante que eu não tenho vontade de montar Shakespeare. Uma adaptação, especialmente no Brasil, demanda mexer muito no texto para torná-lo mais palatável. O que descaracterizaria a obra. Por isso, prefiro ler as peças, que são riquíssimas. Repletas de possibilidades, enfoques filosóficos, sociológicos…

Hoje vemos um movimento de revisionismo de obras do passado, assim como o “cancelamento” de seus autores. Alguns deles estão entre as indicações dos seus livros, como H.P. Lovecraft, acusado de racismo, e Arthur Conan Doyle, o autor de Sherlock Holmes, tido como machista. Como vê esse momento? Acho um absurdo mudar clássicos. É necessário estimular as pessoas a entenderem o que é machismo, por exemplo, mas não destruir a obra do cara. Ele era machista na época dele, e na época era o que tinha que ser. Estamos evoluindo – se bem que não sei se evoluímos tanto assim na verdade. Mas destruir a obra de alguém para atender uma corrente não é uma coisa boa. Eu prefiro separar obra de autor.

Suas dicas de leitura são variadas, mas é perceptível um gosto por livros obscuros, como thrillers e suspense. Se fizer um apanhado, eu gosto de tudo. O gênero que eu gosto é o do livro bom. Sobre suspenses e thrillers, gosto bastante do Stephen King, do Lovecraft, e de nacionais como Raphael Montes e Patrícia Melo. Eles escrevem muito bem o gênero policial, que é pouco explorado no Brasil. Nosso país, aliás, tem um problema com gênero. Nosso cinema ou é comédia ou cult, são poucos de ficção científica, terror, policial. E fico feliz de ver autores jovens como eles sendo reconhecidos pelo bom trabalho.

Seu livro também traz dicas práticas de como se dedicar à leitura e adquirir esse hábito. Um dos vilões apontados é o celular. Como lida com esse vício moderno? Eu coloco limites. Uso o Instagram uma hora por dia. Na sexta-feira, coloco o celular na gaveta e só tiro de lá na segunda de manhã. Ando até pensando em fazer isso um dia no meio da semana também.

Veja

Opinião dos leitores

  1. Excelente ator! Um dos maiores do Brasil! E, certamente, será um sucesso com esse livro. Na verdade, qualquer livro que provoque curiosidade sobre a literatura, e que dê dicas incentivando o hábito da leitura, em um País que lê tão pouco como o nosso, merece ser celebrado, divulgado e festejado!

  2. Como se isso não bastasse, a moda entre alguns professores ditos progressistas é tentar acabar com o resto da lingua portuguesa querendo impor uma aberração chamada linguagem neutra.

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Diversos

Semana literária em colégio faz referência ao universo feminino na literatura

Semana literária no CEI Mirassol faz referência ao universo feminino na literatura Durante a Semana LÃ-tero-Poética, o Sebo Potiguar trouxe livros para exposição e vendaCom o tema “Mulher, inspiração e poesia”, os alunos do 6° ao 9° ano do CEI Mirassol irão realizar, nesta sexta-feira, dia 22, atividades em comemoração à Semana Lítero-Poética, projeto que está sendo desenvolvido na escola desde a última semana. Durante o dia, os alunos irão promover apresentações que retratam o universo feminino em diversas obras literárias. Também haverá recital poético, troca de livros e momento musical, com a presença do professor de música Carlinhos Moreno.

“Desde o início do ano, os professores de português vem desenvolvendo atividades sobre escritores como Câmara Cascudo, Mário Quintana, Ariano Suassuna, Machado de Assis, Cecília Meireles e Zila Mamede, com o objetivo de apresentar, nesta sexta-feira, releituras de obras clássicas em formato de cordéis, charges, músicas, cartazes e poemas, relacionando com as figuras femininas que esses autores criaram”, explica a orientadora do Fundamental II, Clícia Barros.

O Sebo Potiguar também estará presente com exposição e venda de obras literárias sugeridas pelo colégio, como forma de incentivar o contato com a literatura e disponibilizando livros por preços acessíveis.

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Cultura

Isolda Melo Lemos lança livro nesta quinta no Bella Napoli

Matéria do repórter Tádzio França, da Tribuna do Norte, que o BG, aqui, reproduz:

“Hoje me deu uma vontade enorme de conversar com você. Contar coisas a meu modo. Simples. Lembranças que me dão uma sensação estranha”. Assim começa a narrativa emocionada que Isolda Melo Lemos dedicou à filha, em 1995, para que esta lesse aos 18 anos. Um registro de lembranças sofridas, da época mais difícil de sua vida durante o exílio no Chile e a Ditadura Militar no Brasil. O livro “Do ventre da cordilheira: Uma carta para Yasmine” é um testemunho essencialmente pessoal, mas fala sobre um tempo que deve ser lembrado para nunca mais ser revivido. A segunda edição do livro será lançada na quinta-feira, às 19h, na Trattoria Bella Napoli, Tirol.

A nova edição vem acrescida de fotos – cedidas pelo fotógrafo Sílvio Tendler, que estava com Isolda e o marido Rubens Lemos no Chile – e três extensas cartas escritas à mulher por Rubens entre 1972 e 73. “São cartas de amor e de angústia. Escolhemos as mais significativas, mas nenhuma de cunho político. São palavras escritas no calor do momento”, afirma Yasmine Lemos. Para Isolda, a reedição retoma o mesmo sentimento que a fez lançar o livro há 17 anos. “Eu queria desabafar. Uma boa parcela da juventude não sabia mais o que havia sido a ditadura e todo o sofrimento que a geração passada viveu”, diz.

Reviver os “anos de chumbo” – mesmo que em recortes de memória, editados pela emoção – é uma experiência que sempre deixa Isolda Lemos emocionada. E não haveria como ser diferente. “Aprendi que a pior palavra do mundo é ‘teje preso’. Nunca se esquece um algoz”, diz. Ela conta que começou a escrever essas memórias em meados dos anos 80, de forma descompromissada, sem maiores pretensões. “Mostrei ao meu marido, e ele ficou impressionado. Depois mostrei a alguns amigos e intelectuais, como Agnelo Alves, e todos me estimularam a continuar. Eles viam como um relato histórico precioso”, conta. O lançamento, em 95, foi um sucesso – com direito à presença da prefeita paulista Luíza Erundina.

Tempo que deve ser lembrado para não ser revivido

“Do ventre da cordilheira” relata a ida de Isolda para o exílio no Chile e a volta ao Brasil. Alguns momentos felizes entremeados de perseguições e violência. Em 1971 Isolda foi para o Chile, com filho de dois anos no colo, encontrar o marido que estava auto-exilado no país. Todos os territórios estavam minados. O Chile, sob o governo socialista de Salvador Allende, à sombra do futuro golpe  Augusto Pinochet. No Brasil, a ditadura com paranóia anticomunista e repressão.

Isolda confessa que não tinha interesse, e nem entendimento maior sobre a política da época. “Fui apenas para morar com meu marido, procurar uma vida melhor. Mas saiu tudo diferente do que eu imaginava”, diz. Rubens Lemos, que trabalhava como professor, foi demitido à pedido das forças direitistas. Isolda conta que teve de vender as joias dadas pela avó para sobreviver. Já em 1972, estava grávida de Yasmine. Foi aconselhada pela família a voltar para o Brasil. O marido iria depois. O momento de embarque foi registrado por um policial: a foto mostra Isolda acenando, com Rubens filho nos braços e grávida de Yasmine. Ao lado dela está um agente policial disfarçado de comissário de bordo.

A volta ao Brasil foi o início de um pesadelo. Logo ao desembarcar no Galeão, Rio de Janeiro, foi conduzida com o filho a uma delegacia do Dops – Departamento de Ordem Política e Social. “Disseram que se houvesse algo comprometedor na minha bagagem, eu seria presa e meu filho conduzido a uma creche. Fiquei desesperada e pensei em pular com meu filho de uma janela do prédio”, conta. Foi liberada, e após 15 dias resolveu voltar para Natal. No aeroporto foi submetida a mais constrangimentos pela polícia repressora. “Pediram pra tirar minhas digitais e ver meus documentos. O avião atrasou 20 minutos por minha causa. Os passageiros me olhavam com desconfiança”, lembra.

Em 1973, Rubens Lemos volta a Natal para ver a filha recém-nascida. No entanto, ao ser convidado por um amigo para um jantar, ele e Isolda são presos e levados para uma colônia penal, a futura João Chaves. “Ficaram uma semana sem saber nós. A nossa família estava desesperada”, diz ela. Na colônia a tortura foi basicamente psicológica. A apreensão de não saber o que aconteceria, e de não poder falar com a família. “Foi só através de almas caridosas e de conhecidos ocasionais que pudemos dar sinal de vida aos familiares. Houve solidariedade de muitas partes”, ressalta.

Isolda e Rubens foram levados algemados à Polícia Federal. Ela foi liberada, mas ele, enviado à Recife para “averiguação”. Foram três meses de degradação para o jornalista. Trinta dias só na solitária, e todos os tipos de tortura. “Meu marido voltou destruído. Não tinha mais dentes, magro, sem as unhas. Mas não se abateu. Pouco tempo depois, pediu emprego a Agnelo e Aluízio Alves”, conta. Segundo Isolda, Rubens pôde trabalhar como jornalista, mas só escrevia sobre esportes e música popular brasileira. Nem pensar em assuntos políticos.

A partir daí as coisas foram se acalmando, mas sempre sob aquele estado de tensão e liberdade vigiada. Após o fim da ditadura, Rubens aderiu ao incipiente Partido dos Trabalhadores (PT), se tornando o primeiro candidato a governador pela sigla no Estado. Isolda conta que aos 40 anos, as sequelas psicológicas daquela época começaram a surgir. “Tinha sempre medo que alguém viesse me prender, e até hoje não consigo acompanhar um desfile de 07 de setembro”, diz. Segundo ela, foi “penoso escrever essas memórias. Fazia rápido para terminar logo. Chorei muito”, completa. Yasmine conta só leu leu o livro uma vez. “Não consigo ler de novo. É angustiante para mim”, conclui.

Serviço

Do ventre da cordilheira: Uma carta para Yasmnine
Lançamento: Quinta, às 19h, na Bella Napoli, Tirol (Av. Hermes da Fonseca, 960).

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