Política

Renan Filho, que conversa com Lula, cita estratégia de Bolsonaro para “escamotear os problemas do país”, diz que ‘há clara tentativa de insurgência nas PMs, mas estados estão tomando medidas para evitar’

Foto: Divulgação

O governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), avalia que é “equivocado dizer que não há risco” de tentativa de ruptura institucional no país em meio às manifestações do dia 7 de setembro, embora não veja o presidente Jair Bolsonaro com condições de dar um golpe. Para o governador alagoano, a crise institucional que o país vive é uma estratégia de Bolsonaro para “escamotear os problemas do país”.

Sobre a participação de PMs da ativa em atos políticos, o governador vê uma “clara tentativa de insurgência orquestrada” e diz que já puniu este ano dois policiais de alta patente por envolvimento em atos contra e a favor de Bolsonaro. Segundo ele, governadores estão tomando medidas para evitar esse problema, que vão desde avisos claros sobre a proibição de manifestações políticas a punições severas.

Leia a entrevista:

O sr considera que há risco de ruptura institucional nas manifestações convocadas para o feriado de 7 de setembro ?

É equivocado dizer que não há risco politicamente. É óbvio que há risco. O presidente (Jair Bolsonaro) faz ameaças todos os dias. O ato de 7 de setembro parece ser um pouco mais do que já vimos até agora, com uma temática de desmoralização das eleições, ataque ao STF e a democracia. Não acredito que Bolsonaro goze de condições para dar golpe. Não tem apoio internacional e a popularidade está baixa. Mas o risco de uma tentativa é grande. Pode haver no dia 7 um grupo que entre no STF, umas 50 a 200 pessoas. Mas pode não ser bem sucedido. Não sinto nas Forças Armadas a disposição de comandar o país, não há um projeto nacional. Mas não significa que não há risco. Dizer que não há risco é subestimar muito.

O governo de Alagoas fez algo para evitar envolvimento de PMs da ativa nos atos pró-governo?

Já abrimos procedimentos disciplinares este ano por manifestações para os dois lados. Teve um caso de um tenente-coronel, que era comandante de batalhão, e participou de ato pró-Bolsonaro. Foi afastado. E uma tenente-coronel que participou de uma manifestação anti-Bolsonaro. Os dois estão respondendo a processos administrativos disciplinares. As Forças Armadas são instrumento de Estado, não um poder moderador como eles (bolsonaristas) gostam de dizer. Há uma clara tentativa de insurgência e isso é orquestrado, mas os estados estão tomando medidas e se organizando para evitar isso.

Quais são essas medidas tomadas pelo estados para evitar a politização das PMs?

O Piauí, por exemplo, fez uma portaria, um ato do comandante da polícia dizendo o óbvio: que militares não podem participar de atos políticos. Para um militar, só a abertura de um processo administrativo disciplinar já é uma punição. E, em caso de reincidência, as punições precisam ser mais graves. O militarismo tem regras próprias e essas transgressões são passíveis de advertência até a perda da função pública.

Como o sr. vê a situação de crise institucional que o país vive hoje?

Eu vejo com preocupação. Precisamos tentar apaziguar e dialogar para tratar do Brasil e das questões sociais, como o desemprego e o iminente racionamento de energia. Eles são escondidos por essa crise institucional. O presidente tem uma personalidade intempestiva e beligerante, mas de vez em quando aproveita para escamotear os problemas do país com estratégias como ameaça à ditadura. É um misto de ameaça e cortina de fumaça. E essas estratégias se somam às fake news. Todo esse caldo vira crise institucional.

Não faltou ao fórum dos governadores, na última reunião na segunda-feira, uma manifestação mais contundente sobre a postura do presidente na crise institucional?

Faltou. Mas o fórum tem uma heterogeneidade de opiniões. Um país continental como o Brasil tem questões regionais e eleitorais. Mas a grande maioria concorda que é hora de defender as instituições, a democracia e que a gente não pode vacilar. Não dá para ficar achando que está tudo normal quando não está.

O sr. esteve com Lula, anteontem, num ato com governadores do Nordeste. Isso pode ser lido como uma sinalização de apoio? O sr, defende que o MDB se alie a Lula em 2022?

O MDB vai ter uma discussão nacional para ver se terá candidatura própria ou se apoiará algum candidato. Mas a gente tem conversado com Lula, já que ele tem uma proximidade com o Nordeste. Acho que se o partido não tiver um nome competitivo talvez seja melhor construir o apoio a uma candidatura que ajude do ponto de vista estratégico e de posicionamento. Nesse cenário, nosso estado é mais próximo de Lula, que tem um legado na região.

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. As velhas oligarquias lutam pela sua sobrevivência…todo apoio é válido, porém eles sabem que estão com seus dias de infâmia contados!!!

  2. Esse governador está com conversa afiada, ele deveria dar conta dos milhões que roubaram do povo de Alagoas e do Nordeste numa suposta compra de respiradores pagos e não entregues através da organização criminosa denominada consórcio do Nordeste, pois esse roubo matou várias pessoas nos leitos de hospitais por Covid 19, isso sim, podemos chamar de genocidio.

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