Se resolverem deixar pacificamente a Câmara Municipal do Natal, em cujo pátio estão acampados há mais de uma semana, os integrantes do Movimento #foramicarla terão dado um passo importante para coroar dias e noites de rebeldia que vão entrar para a história de Natal e do Estado.
Com a decisão judicial que manda desocupar o pátio da Câmara, os jovens que se ali se encontram e se revezam há dias não podem e nem devem se sentir derrotados. Primeiro, eles mostraram, a partir das redes sociais, que é possível, sim, fazer mobilização política sem recorrer aos tradicionais veículos de comunicação.
Segundo, mostraram que a Câmara Municipal, com todas as suas divisões e grupamentos políticos, que o Legislativo não está imune à pressão das ruas e dos grupos sociais. Critique quem quiser, aceite quem aceitar, mas a verdade é que o Movimento #Foramicarla, apesar dos arroubos, eventuais exageros e equívocos, deu uma aula de Cidadania.
A presença dos jovens no pátio da Câmara, que causou espanto, irritação, enxurrada de críticas dos mais conservadores e aplausos dos milhares que comungam da mesma insatisfação com os rumos que a cidade tomou nos últimos, fez muito mais do que isso.
A ocupação levou a população a refletir e carregou para o Palácio Frei Miguelinho atores sociais como a OAB, uma instituição para sempre ligada à redemocratização do País. Vozes se ergueram nas redes sociais – principalmente no Twitter – para defender o diálogo e uma saída pacífica para o impasse.
A Câmara, onde blocos e interesses governistas e de oposição vivem em eterna colisão – o que é próprio do regime democrático – terá que aprender lição de que esperteza política tem limites e de que é preciso ouvir e respeitar a voz que vem das ruas.
Quando Câmara e representantes do Movimento de ocupação aceitaram a mediação da OAB e recorreram à Justiça permitiram que mentes não envolvidas diretamente no conflito ajudassem a encontrar uma solução. Evitou-se, assim, a política do cassetete e a estratégia do confronto, com as quais sonhavam alguns em campos opostos.
Com a decisão judicial, cabe agora uma saída honrosa e honrada. Pacífica e respeitosa. Mas a Câmara não se pode dar ao luxo de se considerar vitoriosa e fazer de conta de que o movimento não aconteceu e que tudo não passou de um momento de rebeldia juvenil. Seria cometer um erro ainda maior.
Comente aqui