Tecnologia

Redes sociais estão excluindo contas inautênticas; entenda porque isso acontece

Foto: Diego Cervo/EyeEm/Getty Images

Nos últimos dias, Twitter e YouTube confirmaram que estão trabalhando para “limpar” suas plataformas de contas tidas como inautênticas, o que gerou um burburinho nas redes sociais. Muitos usuários foram conferir suas contas e notaram que seus perfis perderam seguidores, seja no microblog ou na plataforma de vídeos do Google.

Segundo especialistas ouvidos pela CNN, esses movimentos são fruto de uma pressão social para que as redes se dediquem a tornar suas plataformas ambientes mais legítimos, em que a troca de informações entre usuários reais prevaleça sobre a ação automatizada de robôs.

Essa pressão, avalia o pesquisador e analista de redes sociais Fabio Malini, vai na contramão dos interesses financeiros das plataformas, que “vivem de engajamento para ter publicidade, e acabam sendo tímidas” na fiscalização de atividade inautêntica. Isso porque mesmo contas que não representam pessoas do mundo real e são ativadas de maneira automática, os chamados robôs, acabam servindo como gatilhos para que determinados conteúdos ganhem relevância nas redes.

Assim, os robôs ajudam a fazer “bombar” certo tema, mas boa parte do engajamento que prolonga o debate é alimentado por usuários reais, isto é, seres humanos que acabam reagindo a esses conteúdos, seja de forma crítica ou na defesa desses temas.

Até por isso, explica Malini, seria um engano considerar que a exclusão de contas feita pelo Twitter tenha focado somente em robôs. “O Twitter está fazendo uma limpa de contas que não têm atividade na plataforma há algum tempo, não são necessariamente robôs”. “Podem ser contas que usuários criaram e depois abandonaram, podem ser contas que tinham como objetivo inflar a popularidade de alguém e depois ficou inativa”, por exemplo.

De acordo com o pesquisador, que integra o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), é justamente a inatividade o traço mais relevante das contas apagadas.

Para minimizar o impacto sobre contas de usuários praticamente inativos, mas que têm interesse de permanecer na plataforma, o Twitter permitiu que esses perfis, inicialmente suspensos, pudessem ser recuperados pelos usuários através de ferramentas de confirmação, uma espécie de “prova de vida” geralmente feita por e-mail ou número de telefone celular.

À CNN, o Twitter informou que desenvolve um trabalho “frequente e global que tem como objetivo manter as contas seguras e prevenir tentativas de manipulação das conversas via spam”. “Este trabalho consiste em solicitar que contas que apresentem comportamentos suspeitos ou incomuns mudem sua senha ou verifiquem informações como número de celular, por exemplo. Enquanto as contas não passam por esse processo, elas ficam desabilitadas, com funcionalidades limitadas, e deixam de entrar no cálculo para contagem de seguidores”.

André Eler, diretor-adjunto da consultoria de análise de dados Bites, diz, no entanto, que a periodicidade dessas “limpezas” não é dita de maneira exata pelas redes sociais, e também não há critérios plenamente transparentes sobre o que caracteriza uma conta inautêntica. “Tem muito perfil que não publica nada e é autêntico”, defende.

“É possível que haja critérios bem claros para a limpeza, elas [as plataformas] só não publicizam quais são esses critérios, o que sempre vai gerar uma desconfiança do usuário”, continua Eler.

O especialista da Bites disse ter verificado que contas que na segunda-feira (14) registraram perdas relevantes em seu número de seguidores também verificaram ganhos atípicos na terça-feira (15), o que ele atribui à reabilitação das contas que foram autenticas por usuários após a suspensão do começo da semana.

Oficialmente, o YouTube diz não permitir “nenhuma prática que aumente artificialmente o número de visualizações, marcações ‘Gostei’, comentários ou outras métricas usando sistemas automáticos ou veiculando vídeos para espectadores que não os selecionaram”. O site exemplifica como comportamentos não tolerados a publicação de vídeos que ensinam a comprar tráfego e de vídeos com área clicáveis – os “cards” da rede – que direcionam espectadores a outro vídeo de maneira enganosa.

Em nota, o YouTube afirmou que identificou e removeu de sua plataforma “contas que eram, na verdade, spam em nossos sistemas”. “Como resultado, alguns criadores e canais poderão ver uma queda no número de assinantes. Em média, essa redução será de menos de cinco inscritos”.

Ação de robôs é superestimada

O peso da ação dos robôs nas redes sociais é, muitas vezes, superestimado, sustenta André Eler. “A gente tem que tirar da cabeça essa visão de que robôs comandam as redes. Há um problema quando usam esses robôs para artificialmente influenciar o debate, para enganar o algoritmo, mas, na prática, esses robôs não têm um alcance tão grande. É raro a gente ver movimentos que sejam impulsionados só por robôs”.

De acordo com Eler, em geral, os robôs são parte de movimentos maiores, coordenados por pessoas, por grupos com interesses específicos. Também é errado avaliar que a ação de robôs é sempre e necessariamente danosa. “Há robôs que eu gosto, que eu sigo, que eu sei que eu vou falar alguma palavra e vão interagir comigo”, pontua, citando como exemplo robôs usuários do Twitter operados por robôs e que podem servir a propósitos cotidianos, como lembrar a uma pessoa sobre algum conteúdo publicado anteriormente.

“Os robôs existem, são basicamente programas que ajudam a repercutir alguns conteúdos específicos”, sintetiza.

Efetividade da limpeza

Segundo Fabio Malini, a iniciativa das plataformas de tentar limitar a ação de contas inautênticas é limitada do ponto de vista de tentar frear as chamadas “mensagens divisivas”, que criam ou fortalecem polarização nas redes sociais. Embora as redes estejam aperfeiçoando suas técnicas para restringir a ações inautênticas, essas empresas ainda encontram dificuldade em lidar com disputas entre fãs que podem tornar mais áridos seus ambientes virtuais.

“As plataformas não definiram ainda o que é e o que não é robô. Boa parte desse engajamento [em disputas de fãs] vai acontecer graças a um comportamento automatizado, seja humano ou não”, analisa.

Na opinião de André Eler, só a proposta de tentar diminuir a ação considerada ilegítima nas plataformas já mostra, por parte das empresas, “uma disposição melhor, um jeito de aperfeiçoar o processo” de filtragem “sem punir as pessoas só por terem um comportamento diferente”.

Além disso, diz Eler, há robôs mais bem programados, com comportamentos mais próximos do que se espera de seres humanos, que impõem dificuldades adicionais para que as redes os identifiquem como robôs.

“A gente não tem nenhuma ilusão de que esse trabalho constante das redes um dia vai acabar completamente com os robôs, mas, pelo menos, passa mais confiança de que as redes não estão abandonando os usuários em uma terra sem lei, de contas inautênticas”, argumenta.

CNN Brasil

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Judiciário

Celso de Mello divulgará vídeo de reunião ministerial excluindo falas sobre China e Paraguai

Foto: Reprodução

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), divulgará o vídeo da reunião ministerial praticamente na íntegra e decidiu retirar apenas dois trechos, que contêm comentários sobre a China e o Paraguai. A decisão já foi redigida durante a madrugada e já encaminhada ao STF.

A informação foi apurada pelo analista de política Fernando Molica, da CNN, na tarde desta sexta-feira (22). De acordo com Molica, ainda não há informações sobre se o acesso ficará público ou restrito às pessoas e autoridades envolvidas na investigação.

Esta sexta-feira (22) é a data-limite estabelecida pelo próprio ministro para tomar uma decisão sobre o sigilo do vídeo da reunião ministerial, realizada no Palácio do Planalto há exatamente um mês, no dia 22 de abril. A expectativa é que a decisão seja tomada até 17h (horário de Brasília).

O material é peça-chave para apurar as denúncias do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que afirmou, em depoimento à Polícia Federal em 2 de maio, que a reunião mostra uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em interferir na Polícia Federal.

Quebras de protocolos

Segundo apuração da CNN, a gravação foi comparada ao registro de algo impróprio ou questionável por ministros do Supremo Tribunal Federal.

“Para gente que cuida de segurança, uma reunião como essa não caberia nem ser gravada, para o registro de palavrões? Condutas? É como gravar uma ida ao bordel”, afirmou um ministro.

Apesar da reunião configurar um ato institucional de governo, para magistrados, o tom do encontro quebrou protocolos, pelo o que se sabe até agora, e o governo deveria imaginar que uma eventual divulgação poderia ocorrer. “Isso só mostra a personalidade suicida do presidente. É uma situação complicadíssima”, afirmou um ministro.

Há temor de que o vídeo tenha um poder explosivo, que poderia motivar desgaste à imagem do governo e também abertura de outros inquéritos. De acordo com relatos não oficiais de quem participou da reunião, há xingamentos contra a China, principal parceiro comercial do Brasil, e também a defesa de que ministros do STF sejam presos.

Ainda segundo a apuração, Celso de Mello teria ficado bastante ‘surpreso’ ao assistir o vídeo. De acordo com relato de auxiliares da Suprema Corte, o ministro repreendeu alguns trechos do material e a decisão sobre a divulgação é considerada difícil.

O ministro começou a assistir ao vídeo na noite da segunda-feira (18). Peritos da Polícia Federal concluíram a transcrição na terça-feira (19) e o laudo já foi entregue à equipe que conduz a investigação junto à Corte. O trabalho durou uma semana.

Bolsonaro defende divulgação parcial

Nesta quinta-feira, na véspera da data-limite da decisão de Celso de Mello, Bolsonaro pediu mais uma vez que a íntegra da gravação do evento não venha a público.

“Eu só peço: não divulgue a fita toda. Tem questões reservadas, tem particularidades ali de interesse nacional. O resto, o que eu falei… Tem dois pedacinhos de 15 segundos que é questão de política externa que não pode divulgar. O resto, divulga. E tem bastante palavrão, tá”, disse Bolsonaro, durante live nas redes sociais. “Se o ministro resolver divulgar, vou cumprir a decisão judicial.”

O presidente já declarou em algumas oportunidades que não há menção sobre a Polícia Federal ou à superintendência do Rio de Janeiro no vídeo.

“Não existe no vídeo todo a palavra Polícia Federal nem superintendência, quem cuida da minha família não é a PF. Todos meus filhos têm segurança, sem exceção”, disse, em conversa com jornalistas em 12 de maio.

Em outra ocasião, Bolsonaro afirmou que quem espera que o vídeo seja um “xeque-mate”, vai “cair do cavalo”.

A defesa de Moro defende a divulgação do conteúdo na íntegra. Segundo o próprio ex-ministro, não há assunto pertinente a segredo de Estado ou que possa gerar incidente diplomático, muito menos colocar em risco a segurança nacional.

O Palácio de Planalto defende a tese de que Jair Bolsonaro foi mal interpretado no encontro com ministros. Segundo membros do governo, na reunião o presidente, ao falar sobre o risco de alguém prejudicar sua família, estaria se referindo à segurança física e cobrando o responsável pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e não o ministro da Justiça Sergio Moro. Por essa versão, não haveria qualquer tentativa em interferir em investigações da PF.

Denúncias

De acordo com Sergio Moro, o presidente teria cobrado, na reunião em questão, relatórios de inteligência e informação da Polícia Federal. Em outra ocasião, por Whatsapp, teria dito: “Moro, você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.

Algumas falas de Bolsonaro no encontro com os ministros já foram conhecidas em documentos entregues pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao encaminhar o vídeo para análise.

Nas falas transcritas em documentos da AGU, Bolsonaro reclama de não receber “informações” da Polícia Federal e da inteligência das Forças Armadas e diz que vai “interferir”. O presidente também afirma que não esperará alguém prejudicar “sua família toda de sacanagem” porque não poderia “trocar alguém da segurança na ponta da linha”.

Segundo a AGU, estas seriam as declarações pertinentes às acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro sobre a interferência do presidente na direção da PF e na superintendência da corporação no Rio.

No mesmo documento, a AGU se manifestou favorável à divulgação de “todas” as falas de Bolsonaro na reunião, com exceção daquelas sobre outros países, chamados de “nações amigas” no pedido. O órgão também pediu o sigilo sobre tudo o que foi dito por outros participantes da reunião.

CNN Brasil

Opinião dos leitores

  1. Vcs tão achando graça nessa falta de freios do STF sobre o Executivo porque é contra alguém de quem vcs não gostam. Não vou entrar no mérito, mas isso ainda vai se virar contra vcs. Vcs estão alimentando uma fera que ainda vai lhes devorar. #táavisado

  2. Eu sou a favor de uma intervenção militar no STF pois eles tem mostrado um enorme despreparo para com prejudicar a economia do país a tempo sem necessidade julguem mas sem fazer pirotecnia como vem sendo feito procurando os holofotes!

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