Saúde

O que se sabe sobre a dexametasona, que começou a ser usada contra a Covid-19

Foto: digicomphoto/Getty Images

Nesta semana, um remédio se tornou o protagonista de diversas manchetes desde que um estudo britânico mostrou que ele pode reduzir as chances de morte em casos graves de Covid-19. É a dexamestasona, um medicamento corticoide com ação anti-inflamatória receitado para alergias graves, artrite reumatoide e outros problemas. Mas é preciso analisar o cenário com calma.

Uma consórcio de pesquisadores britânicos, liderados por uma equipe da Universidade de Oxford, administrou doses de dexamestasona em pacientes com Covid-19 admitidos nos hospitais públicos do país. A iniciativa faz parte do projeto RECOVERY, um programa britânico estabelecido em março para testar diversos tratamentos no combate à doença, entre eles a dexamestasona, o combo anti-HIV lopinavir-ritonavir e a hidroxicloroquina, que saiu da lista após os resultados mostraram que não apresenta benefícios.

Ao todo, a equipe administrou doses baixas de dexamestasona para 2.104 pacientes aleatórios por dez dias, e comparou os dados desses pacientes com outros 4.321 que não receberam o tratamento (ambos os grupos receberam os cuidados padrões geralmente utilizados contra a doença). No grupo de controle, que não tomou o remédio, 41% dos pacientes em estado crítico, que precisavam de respiradores, morreram após um mês. Já entre os pacientes em estado severo, que precisaram da administração de oxigênio mas não foram entubados, as chances de morrer eram de 25%.

Segundo os cientistas, o uso da dexamestasona reduziu em 30% a mortalidade entre os pacientes entubados, e em 20% entre os pacientes em estado severo, mas que não foram entubados. Para casos moderados e leves, em que o paciente não precisava de ajuda para respirar, não houve nenhum benefício.

A pesquisa foi considerada um avanço por especialistas em grande parte do mundo, especialmente porque se trata de um estudo de grande porte, controlado e randomizado (quando se escolhe pacientes aleatoriamente para receber o tratamento e os compara com um grupo de controle que não os recebeu), o que é a forma cientificamente correta de se provar a eficácia de terapias.

Logo após a divulgação dos dados, o governo do Reino Unido anunciou que vai incluir a dexamestasona na lista de tratamentos recomendados para a Covid-19 nos hospitais do sistema público de saúde do país. A cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde, Soumya Swaminathan, se manifestou elogiando o estudo e disse que os resultados poderão ter impacto global no tratamento da doença.

Mas alguns especialistas em saúde pediram cautela com os resultados. A maior razão disso é que o estudo ainda não foi publicado em uma revista científica e os dados completos ainda não foram divulgados – somente um press-release. Ou seja, ainda não é possível que outros especialistas analisem se o estudo foi de fato bem feito e se os resultados são confiáveis (é a chamada revisão por pares, considerada importantíssima na ciência). Os pesquisadores afirmaram que pretendem publicá-lo o mais rápido possível e que já estão enviando seus resultados para órgãos de saúde no Reino Unido e também internacionais.

A segunda ressalva é lembrar que o medicamento não é a cura para o coronavírus, e muito menos um método de prevenção. Ele é, segundo o estudo britânico, um bom método para reduzir a letalidade entre pacientes graves. Em pacientes leves, não há nenhum efeito – ou seja, não adianta comprar na farmácia e tomar em casa. O remédio só faz sentido se for administrado em hospitais.

A droga tem ação anti-inflamatória, e casos graves e críticos de Covid-19 se caracterizam por apresentar uma alta inflamação nos pulmões. É por isso que o medicamento não funciona em casos leves, cujos sintomas geralmente são tosse, febre e outros que não envolvem inflamação. Dependendo do caso, a dexametasona pode até agravar a Covid-19.

Isso porque ela é um corticoide – e, como tal, tem efeito imunossupressor. Reduzir a ação do sistema imunológico pode ser perigoso, agravando a infecção pelo vírus. Os resultados de outros experimentos que utilizaram corticoides para tratar infecções virais respiratórias, como no caso da gripe H1N1, são ambíguos – alguns apontavam que os riscos de usar as substâncias eram maiores do que seus benefícios. Por isso a OMS e outros órgãos de saúde pediam cautela com o uso desses medicamentos no tratamento de Covid-19. Os pesquisadores britânicos escolheram testar especificamente a dexamestasona porque evidências anteriores indicavam que ela tinha bons resultados em quadros de síndrome respiratória grave e não era tão nociva.

Na corrida por tratamentos contra a Covid-19, vários remédios já despontaram como grandes promessas, que depois acabaram não se confirmando. O antiviral remdemsivir era a droga que tinha tido melhores resultados até agora, mas seus benefícios foram modestos: ela diminui o tempo de internação, mas a redução na letalidade da doença é insignificante. Remédios como cloroquina e hidroxicloroquina, que receberam muita atenção de políticos como Jair Bolsonaro e Donald Trump, se mostraram ineficazes em diversos estudos controlados, e outras apostas ainda não tiveram resultados convincentes. O uso do plasma convalescente – um soro feito com o sangue de pessoas que se curaram da doença e possuem anticorpos – já apresentou bons resultados em estudos pequenos e pontuais, mas não há nenhum ensaio clínico grande, controlado e aleatório que comprove sua eficácia.

Super Interessante

Opinião dos leitores

  1. À medida que novas pesquisas e novos estudos forem aparecendo, outros fármacos e remédios surgirão. Existem vários tipos de Corticoides, cada um com uma propriedade diferente, que podem se ajustar às necessidades de cada paciente – e a depender da condição física de cada enfermo. Não podemos perder a esperança nos profissionais de saúde. Mas, também NÃO podemos politizar o uso de medicamentos

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Saúde

Dexametasona: OMS vai mudar orientações para tratar pacientes em estado grave por Covid-19

Foto: Reprodução – 16.jun.2020 / Reuters

A Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que vai atualizar as orientações sobre o tratamento de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus. A medida, segundo a OMS, busca refletir os resultados de um teste clínico recente, que mostrou que um esteroide barato e comum pode ajudar a salvar os pacientes em estado grave.

Os resultados anunciados nessa terça-feira (16) mostraram que a dexametasona, usada desde os anos 1960 para reduzir a inflamação causada por doenças como artrite, diminuiu a taxa de mortalidade em cerca de um terço dos pacientes com Covid-19 internados em estado grave.

As orientações clínicas da OMS para tratar os infectados são voltadas a médicos e outros profissionais da saúde. A agência busca utilizar os dados mais recentes para informar essa categoria sobre a melhor maneira de lidar com todas as fases da doença, do processo de triagem até a alta.

Ainda que os resultados dos estudos com a dexametasona sejam preliminares, os pesquisadores envolvidos no projeto disseram que os dados indicam que o medicamento deveria,, imediatamente, se tornar padrão no tratamento de pacientes em estado grave.

Para os doentes que respiram por meio de ventiladores pulmonares, o tratamento mostrou uma redução de aproximadamente um terço da mortalidade. E para aqueles que apenas precisam de oxigênio, a taxa foi reduzida em cerca de um quinto, segundo os estudos preliminares compartilhados com a OMS.

A melhora foi identificada apenas em pacientes em estado grave. A ação da substância não foi analisada em pessoas com sintomas leves.

A notícia sobre a dexametasona surge no momento em que as infecções pelo novo coronavírus se aceleram em alguns países, como Estados Unidos, e em que Pequim decidiu cancelar diversos voos para ajudar a conter uma segunda onda de contaminação.

“Esse é o primeiro tratamento mostrado que reduz a mortalidade de pacientes com Covid-19 que precisam de oxigênio ou de ventilador pulmonar”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em um comunicado na noite de terça-feira. A agência disse que aguarda a análise completa dos dados do estudo dentro dos próximos dias.

CNN Brasil

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Saúde

“Dia histórico no tratamento da Covid-19”, comemoram infectologistas sobre dexametasona

Foto: Ilustrativa

A Sociedade Brasileira de Infectologia comemorou, em comunicado, fato de o anti-inflamatório dexametasona ter certa efetividade no tratamento da Covid-19, como constatou um estudo sério conduzido pela Universidade de Oxford.

“Temos o primeiro tratamento farmacológico para Covid-19 que mostrou impacto em reduzir a mortalidade! Finalmente temos uma boa notícia”, diz o comunicado.  “Dia histórico no tratamento da Covid-19”.

A recomendação é a de que pacientes com um quadro mais grave de Covid-19 recebam uma dose diária de dexametasona, ao longo de dez dias.

O Antagonista

Opinião dos leitores

  1. Se o JB indicar ela perde toda credibilidade.
    Irão aparecer médicos dizendo esse novo medicamento não é apropriado é um placebo. Kkkkk

  2. Para nós do RN, não é novidade, basta olhar os protocolos indicados por alguns médicos potiguares . Mas como é uma informação vinda de fora, agora é válida.
    Parabéns aos Médicos que tiveram a coragem de exercer a medicina baseado nas suas experiências clínicas.

  3. P…Q…P……Sempre aparece alguém torcendo contra. Vá ser pessimista assim no QUINTO DOS INFERNOS………….

    1. Oxi, e Bolsonaro agora virou médico ?? , kkkkkk.

  4. Tomara que realmente surta efeito. Pelo menos é uma medicação comum. O famoso "Decadron", Melhor uma "formigada nas partes baixas" do que morrer por COVID. Kkkkkkk

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Saúde

BARATO E AMPLAMENTE DISPONÍVEL: Na luta contra o novo coronavírus, medicamento dexametasona vem salvando vidas e ganha reconhecimento mundial

Foto: Representação em impressão 3D do novo coronavírus

Um medicamento barato e amplamente disponível pode ajudar a salvar a vida de pacientes gravemente doentes com novo coronavírus. O tratamento com esteroides em baixa dose de dexametasona é um grande avanço na luta contra o vírus mortal, dizem especialistas do Reino Unido, segundo informações da BBC.

A droga faz parte do maior teste do mundo testando os tratamentos existentes para verificar se eles também funcionam para o novo coronavírus.

Redução de 1/3

O tratamento com dexametasona reduz em um terço a mortalidade entre os pacientes mais graves de covid-19, de acordo com os primeiros resultados de um grande teste clínico anunciados nesta terça-feira (16).

“A dexametasona é o primeiro medicamento que observamos que melhora a sobrevivência em caso de covid-19”, anunciaram os autores de um estudo clínico randômico que recebeu o nome de Recovery. A droga foi aplicada em doses de 6 mg uma vez por dia em 2.104 pacientes no Reino Unido, que fizeram parte do teste.

Com base nesses resultados, os pesquisadores apontam que, com o tratamento, uma morte seria evitada entre cada oito pacientes ventilados ou para cada 25 pacientes que necessitem apenas de oxigênio.

Diversos tratamentos

A dexametasona é um glicocorticoide sintético que faz parte da classe dos corticosteroides. Altamente antiinflamatório e imunossupressor, é usado em doenças reumatológicas e alérgicas como asma, por exemplo.

Também pode ser usada em tratamentos intensivos e de curto prazo em casos de doenças reumatológicas, distúrbios da pele, alergias, transplantes, tumores e problemas oculares, pulmonares, gastrointestinais, neurológicos e sanguíneos.

A dexametasona não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro medicamento da mesma classe, bem como a algum componente de sua fórmula. O medicamento deve ser usado com precaução em casos de diabetes, úlcera estomacal, osteoporose, doenças psiquiátricas, problemas no fígado ou rins, hipertensão, catarata ou glaucoma, herpes ativo, insuficiência cardíaca, tuberculose, entre outros.

Atualmente, não existem tratamentos ou vacinas aprovados para a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus que matou mais de 437.000 pessoas em todo o mundo.

Jornal de Brasília, com Estadão, UOL e AFP

Opinião dos leitores

  1. Obrigado mas nao precisamos desse ai, ja temos a hidroxocloroquina, o exercito ja produziu em alta escala para todo o Brasil e temos mais ainda pq os EUA nos deu!

  2. Barato? Já estou vendo por aí… Brasil sem estoque de Dexametasona e caixas antes no valor de R$ 15,00 agora são R$ 150,00. Brasil que se fala né?

  3. É simples. Quem não quiser tomar avise antes ao médico, despois que tiver entubado não vai conseguir falar nada. Faça também um testamento em vida, ajudará seus filhos, que não têm culpa dos pais serem assim…
    É simples né? Pois faça, todos vão pegar mesmo.

    1. Nem os EUA quer, tá mandando milhões de comprimidos pro Brasil. Vamos ter medicamento pra Malária durante muitos anos. Porque pra Covid-19, que é bom, NADA!

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