Saúde

Pólen de árvores pode ajudar a espalhar o Sars-CoV-2 pelo ar, mostra estudo

Foto de árvore de Salgueiro. Japatino/Getty Images

Estudo indica que pólen liberado pelo salgueiro-branco, uma espécie comum nos EUA, pode carregar o vírus e distribui-lo por grandes grupos de pessoas

O pólen é um pó muito fino, com grânulos microscópicos, que contém os gametas masculinos das plantas. Ele flutua no ar, ou é transportado por insetos, até chegar ao pistilo – a parte feminina das plantas, que é fecundada pelos gametas. Muitas espécies liberam pólen, que é mais comum na primavera e causa rinite alérgica em algumas pessoas. Mas um novo estudo indica que ele também pode ter outro efeito: ajudar a carregar o Sars-CoV-2 pelo ar e espalhá-lo por uma área maior.

O estudo, que foi publicado ontem na revista do Instituto Americano de Física (AIP), simulou em computador a propagação dos grãozinhos de pólen do salgueiro-branco (Salix alba), uma árvore comum nos EUA. Os autores consideraram o seguinte cenário: 10 mil grãos de pólen, com vento fraco (4 km/h) e temperatura ambiente de 22 graus, e dois contingentes de pessoas -com 11 e 97 indivíduos, respectivamente- localizados a 20 metros de distância da árvore.

Quando o pólen chega até as pessoas, o coronavírus presente no ar (que foi expelido por alguma delas) adere aos grânulos – e se propaga levado por eles. No grupo menor, de 11 pessoas, isso não faz muita diferença: a nuvem de pólen simplesmente atravessa o grupo e vai embora rápido. Mas no grupo maior, de 97 pessoas, o resultado é outro. Os corpos das pessoas freiam a passagem do ar, fazendo com que o pólen circule entre elas – e o vírus cubra grande parte do grupo, mesmo com os indivíduos a 2 metros um do outro (distanciamento que costuma ser recomendado como medida de prevenção do contágio).

Grãos de pólen liberados por salgueiro-branco e seu espalhamento, ao longo de dois minutos, num grupo de 97 indivíduos.  Foto: AIP Physics of Fluids/Reprodução

Sem a presença do pólen, os vírions desceriam mais rapidamente para o chão, pois estão contidos em microgotículas de saliva (que as pessoas emitem ao falar). Quando o Sars-CoV-2 adere ao pólen, que é mais leve, ele se libera das microgotículas – e pode ficar no ar por mais tempo, bem como cobrir maiores distâncias levado pelo vento.

O estudo também traz um mapa comparando a presença do salgueiro-branco com os casos de Covid-19 registrados nos EUA no ano passado entre abril e agosto – período que engloba a primavera e o verão no hemisfério Norte. Veja abaixo:

Áreas dos EUA com pólen do salgueiro-branco (itens A e B) e regiões com maior incidência per capita de Covid durante o período de polinização. Foto: AIP Physics of Fluids/Reprodução

O estudo se limitou à simulação aerodinâmica, e não entrou na parte biológica. Não modelou, por exemplo, a carga viral dentro da nuvem de pólen, ou quantas das 97 pessoas poderiam desenvolver Covid-19 após serem expostas a ela (inclusive porque a “dose mínima infectante”, quantidade de vírions que um indivíduo precisa aspirar para ter a doença, ainda não foi determinada pela ciência).

O salgueiro-branco não é comum no Brasil – aqui prevalecem outros tipos, como o salgueiro-chorão (Salyx babylonica), que pode ser encontrado em vários estados.

A relação entre pólen e Covid já havia sido apontada, de forma indireta, por um estudo europeu que analisou 130 localidades em 31 países – e constatou que as áreas com mais casos da doença costumavam ter maiores níveis de pólen.

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Saúde

Estudo sugere que coronavírus pode se espalhar pela descarga do vaso sanitário

Foto: Shutterstock

Eis um bom motivo para fechar a tampa do vaso antes de acionar a descarga: um novo estudo de modelagem por computador mostra como um vaso sanitário pode enviar uma nuvem de pequenas partículas contendo matéria fecal para o ar – que pode levar o coronavírus.

Médicos mostraram que o coronavírus pode viver e se replicar no sistema digestivo, e evidências do vírus foram encontradas em dejetos humanos.

Essa é, portanto, uma possível rota de transmissão.

Agora, uma equipe da Universidade de Yangzhou, na China, usou a modelagem por computador para mostrar como a água liberada na descarga do vaso sanitário pode se espalhar no ar por até 1,80 metro de altura, de acordo com o estudo publicado na revista Physics of Fluids.

“Pode-se prever que a velocidade será ainda maior quando um banheiro for usado com frequência, como no caso de um banheiro de uma família durante um horário movimentado ou de um banheiro público que serve uma área densamente povoada”, alertou Ji-Xiang Wang, da Universidade de Yangzhou. Outros estudos também sugeriram que o norovírus, uma causa comum de vômito e diarreia, pode se espalhar através de vasos sanitários.

Em abril, os pesquisadores sugeriram que os banheiros podiam ser um local de disseminação do coronavírus.

Resultados da simulação de uma descarga única. Foto: Yun-yun Li, Ji-Xiang Wang, Xi Chen

“As evidências de contaminação pelo coronavírus em amostras de superfície e no ar fora das salas de isolamento, assim como os dados experimentais que mostram que esse vírus pode viver em aerossóis por três horas, devem suscitar preocupações sobre esse modo de transmissão e requerer pesquisas adicionais”, escreveram Carmen McDermott e colegas da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em abril, no Journal of Hospital Infection.

“A transmissão fecal parece ocorrer em pacientes sem sintomas gastrointestinais, o que pode indicar que indivíduos assintomáticos sejam uma fonte de disseminação do coronavírus”, acrescentaram.

Pelo menos um pesquisador não envolvido no estudo disse que a conclusão fazia sentido, mesmo que seja teórica.

“A carga viral na matéria fecal e a fração do aerossol resultante contendo o vírus é desconhecida. Mesmo se o vírus estivesse contido nos aerossóis produzidos, não se sabe se ele ainda seria infeccioso. Também não há evidências claras da transmissão fecal-oral”, observou Bryan Bzdek, pesquisador de aerossóis da Universidade Britânica de Bristol, em comunicado.

“Os autores do estudo sugerem que, sempre que possível, devemos manter o assento do vaso abaixado ao dar descarga, limpar o assento do vaso sanitário e quaisquer outras áreas de contato com frequência e lavar as mãos depois de usá-lo. Embora este estudo não consiga demonstrar que essas medidas reduzirão a transmissão do SARS-CoV-2, muitos outros vírus são transmitidos pela via fecal-oral. Portanto, essas são boas práticas de higiene.”

CNN Brasil

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Saúde

Corrida e caminhada podem espalhar coronavírus num raio de até 10 metros

(FernandoPodolski/Superinteressante)

Essa distância, bem maior que a recomendada pelas autoridades, é o mínimo necessário para evitar que pessoas fazendo exercícios sejam expostas ao SARS-CoV-2, diz estudo

Fique em casa, só saia para atividades essenciais – e, ao fazê-lo, procure manter 1,5m ou 2m de distância das outras pessoas. Essa tem sido a orientação das autoridades sanitárias da maioria dos países. Mas, segundo um estudo publicado por duas universidades europeias, ela só é válida para quem está parado: ao caminhar ou correr, um indivíduo pode exalar ou inalar microgotículas contendo vírus num raio muito maior, de até 10 metros.

Os cientistas utilizaram um túnel de vento e ferramentas de CFD (fluidodinâmica computacional) para entender como partículas contendo o vírus podem se espalhar dependendo da atividade física que uma pessoa está realizando. Ao correr ou andar de bicicleta, o indivíduo se desloca muito mais depressa do que se estivesse andando. Isso significa que, se ele for portador assintomático do SARS-CoV-2, pode espalhá-lo por uma área maior. Os praticantes de atividades físicas também correm maior risco de pegar o vírus, justamente porque se deslocam mais depressa – e podem acabar entrando em “nuvens” que contenham SARS-CoV-2 em suspensão.

Testes anteriores, realizados em condições de laboratório por cientistas da Universidade da Califórnia e do NIAID (Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA), constataram que o coronavírus pode ficar até 3h suspenso no ar. Já foi demonstrado que o coronavírus pode ser transmitido pela fala – e acredita-se que isso possa ocorrer, também, por meio da respiração.

O estudo europeu, que foi realizado pela Universidade Católica de Leuven (Bélgica) e pela Universidade de Tecnologia de Eindhoven (Holanda), simulou várias situações, com vários graus de distância entre os indivíduos. Quando duas pessoas estão caminhando em ritmo moderado, a 4 km/h, elas deveriam manter uma distância de 5 metros entre si. Entre corredores, o raio de contágio pode ser de até 10 metros – considerando dois indivíduos, um atrás do outro, correndo a 14 km/h (velocidade relativamente alta, mas comum entre corredores experientes). Quanto maior a velocidade do exercício, maior a distância que precisaria ser mantida para evitar o contato com as partículas.

Quando o corredor que vem atrás se mantém na diagonal do que está na frente, por exemplo, uma distância de 3 metros já seria suficiente. Mas os cientistas não consideraram o efeito de possíveis rajadas de vento, que poderiam deslocar as partículas – e aumentar ou reduzir o raio de contágio.

Também vale ressaltar que se trata de um estudo de aerodinâmica: os pesquisadores avaliaram padrões de emissão e suspensão de partículas, mas não calcularam se elas conteriam vírus suficiente para infectar alguém. O contágio por aerossol, ou seja, vírus em suspensão no ar, é considerado plausível por infectologistas – mas a concentração viral necessária ainda não foi determinada.

Super Interessante

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  1. Isso é para os viciados em corridas. Além de estourar os joelhos e atrapalhar o trânsito, ainda espalha Covid-19 com mais força.

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