Saúde

Imunidade de rebanho para controlar Covid-19 é “falácia”, diz grupo de cientistas, em carta ao The Lancet

(Foto: Unsplash)

Nessa quarta-feira (14), 80 pesquisadores de vários países divulgaram uma carta em que apontam a imunidade de rebanho para a Covid-19 como sendo “uma falácia perigosa não suportada por evidências científicas”. O documento, publicado no periódico The Lancet, é assinado por especialistas em saúde pública, epidemiologia, medicina, pediatria, sociologia, virologia, doenças infecciosas, sistemas de saúde, psicologia, psiquiatria, política de saúde e modelagem matemática.

“É fundamental agir decisiva e urgentemente”, escrevem os pesquisadores. “Medidas eficazes para suprimir e controlar a transmissão precisam ser amplamente implementadas e devem ser apoiadas por programas financeiros e sociais que incentivem respostas da comunidade e abordem as desigualdades que foram ampliadas pela pandemia.”

O apelo é especialmente voltado às regiões que estão enfrentando uma segunda onda de infecções pelo novo coronavírus. Além disso, os cientistas chamam atenção para aqueles locais em que o número de casos de Covid-19 não variou muito desde o início da pandemia.

“Restrições contínuas provavelmente serão necessárias no curto prazo, para reduzir a transmissão e consertar sistemas ineficazes de resposta à pandemia, a fim de evitar bloqueios futuros”, afirma o documento. “O objetivo dessas restrições é suprimir com eficácia as infecções por Sars-CoV-2 a níveis baixos que permitam a detecção rápida de surtos localizados e uma resposta ágil por meio de sistemas eficientes e abrangentes de localização, testagem, rastreamento, isolamento e suporte, para que a vida possa retornar ao próximo normal sem a necessidade de restrições generalizadas.”

Os especialistas também explicam que a transmissão descontrolada entre os mais jovens traz riscos de saúde e morte significativos em toda a população. Por isso, ressaltam que são necessários esforços especiais para proteger os mais vulneráveis e que, para funcionarem, devem ser acompanhados de estratégias multifacetadas em nível populacional. “A proteção de nossas economias está intimamente ligada ao controle da Covid-19”, pontuam os cientistas. “Devemos proteger nossa força de trabalho e evitar incertezas a longo prazo.”

Eles também afirmam que não há evidências de que aqueles que já tiveram a doença tenham imunidade protetora duradoura ao Sars-CoV-2, e alertam que ter apenas uma imunidade decrescente ao novo coronavírus não encerraria a pandemia de Covid-19, mas resultaria em ondas repetidas de transmissão ao longo de vários anos. Esse fenômeno, por sua vez, poderia colocar populações vulneráveis ​​em risco indefinido.

Isso porque, conforme já foi observado anteriormente com outras doenças, estratégias de imunidade de rebanho baseadas em infecções que ocorrem naturalmente, isto é, passando de uma pessoa para outra, resultaram em epidemias recorrentes. O ideal, portanto, é suprimir a disseminação do vírus até a vacinação de boa parcela da população global.

Além disso, os autores alertam que as abordagens de imunidade de rebanho baseadas em infecções naturais podem impactar a força de trabalho como um todo e sobrecarregar a capacidade dos sistemas de saúde de fornecer cuidados agudos e de rotina.

“A evidência é muito clara: controlar a disseminação da Covid-19 pela comunidade é a melhor maneira de proteger nossas sociedades e economias até que vacinas e terapias seguras e eficazes cheguem nos próximos meses. Não podemos permitir distrações que minem uma resposta eficaz; é essencial que ajamos com urgência com base nas evidências”, concluem os pesquisadores.

Galileu

 

Opinião dos leitores

  1. Temos o maior exemplo de imunidade por rebanho em nosso país, há mais de um mês são praias cheias,bares lotados e aglomerações em todos os lugares e a quantidade de óbitos caindo.
    Comprova mais ainda que o isolamento vertical seria o ideal para convivermos com o vírus chinês, em raros momentos houve lotação nos hospitais.

  2. Tratam a ciência como uma bengala. "Você vai questionar a ciência?". Essa tal de ciência foi a que mais errou no manejo inicial da pandemia.

    1. Se o Sr. se desse conta que o acúmulo de conhecimento é o que faz a ciência avançar, nao faria esse comentário rasteiro.
      Óbvio que a ciência erra, mas sempre no intuito de acertar. E mesmo errando no início, os acertos foram muito maiores.
      Mas para argumentar com um povo que tomou o poder e seus terraplanistas, negacionistas que nao acreditam nem em vacinas, nao adianta nada. As notícias de WA são mais importante e confiáveis.

  3. Cada dia que passa notícias divergentes, existe um interesse gigante por trás disto tudo. A história vai passar a limpo.

  4. Mas, o Presidente da República pensa que sua própria opinião é melhor do que a Ciência…

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Saúde

Cidade de São Paulo “pode estar próxima da imunidade de rebanho”, avalia biólogo

Foto: Reprodução/CNN Brasil

A expressão “imunidade de rebanho” ganhou destaque de discussões entre os especialistas e governantes depois da pandemia do novo coronavírus. Em entrevista à CNN, na manhã desta segunda-feira (13), Fernando Reich, especialista em biologia molecular explicou como funciona este método e afirmou que a cidade de São Paulo pode estar próxima de atingir a fração necessária para a imunização de rebanho. No entanto, ele alerta que essa não é a melhor solução para combater o novo coronavírus.

“As pessoas só ficam imunes depois que elas saram. Se você tiver que ter 70% das pessoas infectadas para ter imunidade de rebanho, ela só vai chegar quando esta proporção for alcançada pelo número de pessoas infectadas. Para saber quantas pessoas já estão imunes, o melhor método é você medir a fração de pessoas com o anticorpo na população”, disse.

“Em São Paulo, eu participo de um grupo que está medindo isso e concluímos, na última medição que fizemos, em que 11% das pessoas da cidade de São Paulo já tinham anticorpos. Em bairros mais pobres, chegavam a 16%. A grande dúvida que estamos tendo nos últimos tempos é qual a fração de pessoas com anticorpos medida corresponde à imunidade de rebanho? Será que é 70%, 40%? Ninguém sabe isso direito”, explicou.

Na visão do especialista, a realidade da capital paulista poderá ser analisada nas próximas semanas, uma vez que a cidade já está adotando medidas para a flexibilização da quarentena.

“Suponhamos que a imunidade de rebanho seja atingida com 70% de fração como é que se explica a queda [dos números] em São Paulo, com variação entre 11% a 16%? Mas isso a gente já vai saber, muito provavelmente, nas próximas semanas, porque quando você atinge a imunidade de rebanho e você reabre a cidade não tem nova onda [do vírus] em curto prazo. Quando abrirmos novamente a cidade de São Paulo, dependendo do que acontecer, nós saberemos”, acrescentou.

Reinach explicou ainda as realidades distintas entre a europa e em como as cidades brasileiras lidaram com a evolução do vírus. Em países como Itália, por exemplo, ao optar por medidas restritivas, o país apresentou queda na curva de casos, no entanto, não houve a imunização de rebanho. Sendo assim, a vacina poderá ser o caminho mais viável e rápido para a imunização da população.

“Nos países desenvolvidos, que fizeram lockdown, muito provavelmente tem muita gente ainda para ser infectada. Provavelmente a vacina chegará nestes locais antes da imunização de rebanho. Já em locais como Manaus, por exemplo, que não houve um controle da doença, existe a possibilidade de você ter a imunidade antes da vacina chegar”, exemplificou o especialista.

“Entretanto, é importante lembrar que a imunidade de rebanho não é uma boa solução. Ela tem um custo em mortes muito alto porque para você chegar lá você tem que ter uma fração da população infectada e muito se discute qual é a porcentagem necessária para chegar neste dado”, detalhou Reinach.

“Na Europa, o que aconteceu foi que a queda no número de casos foi impulsionada por causa de um lockdown e um distanciamento social. No entanto, em locais onde tais medidas não ocorreram efetivamente, a queda é observada por meio da imunidade de rebanho”, concluiu.

CNN Brasil

 

Opinião dos leitores

  1. Seguiram a risca a oms e os especialistas políticos sim, por isso o recorde de mortos no país, parabéns dória.

  2. Parece que a população de São Paulo seguiu a risca os conselhos do Presidente da República.

    1. Falou em rebanho já se agitaram.
      A população de SP seguiu a risca as recomendações dos cientistas e da oms, graças a Deus.

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