Comportamento

“A esquerda criou palco, ganhou um espelho e não gostou do que viu”, diz filósofo UFBA, sobre polêmicas no BBB 21

Foto: TV Globo

“Ele é sujinho. Se esfregar bem…”, “louco” e “abusador” e “quer usar a agenda LBGT” foram algumas das declarações que geraram polêmica na 21ª edição do Big Brother Brasil, reality show transmitido pela TV Globo.

Mas a forte repercussão nas redes sociais não se deu apenas pela natureza dos comentários, mas de quem veio — representantes do que muitos consideram ser militantes da diversidade e contra o preconceito.

Se ao público coube o julgamento moral, na opinião de Wilson Gomes, filósofo e professor titular de Teoria da Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), são sinais reveladores da “fragmentação da esquerda identitária”, que não tem “um projeto de sociedade unificado”.

“A esquerda criou palco, ganhou um espelho e não gostou do que viu”, opina Gomes, pesquisador e autor de 11 livros, entre eles Crônica de uma Tragédia Anunciada: Como a Extrema-Direita Chegou ao Poder.

“Esse BBB se tornou um laboratório a céu aberto da fragmentação dessa esquerda identitária que não tem um modelo de sociedade, que é dividida em tribos e que não concilia o discurso da diferença com o da igualdade”, disse ele em entrevista à BBC News Brasil. “Não há, portanto, espaço para conciliação. É como se cada pedaço da sociedade tivesse que cuidar de si. Ou, como digo, ‘farinha pouca, meu pirão identitário primeiro’.”

Algumas lideranças do movimento negro, no entanto, dizem que os participantes não falam pela causa, tese com a qual Gomes não concorda.

Ele, que também pesquisa comunicação e política nas redes sociais, diz acreditar que a edição deste ano do Big Brother Brasil quis se aproveitar “do rescaldo do movimento Black Lives Matter” dentro de um contexto em que há um esforço de valorização e cobrança por maior representatividade das minorias em espaços públicos. De fato, metade do elenco BBB21 é negra, maior porcentual da história do programa.

Mas, segundo ele, apesar disso, o que o público do lado de fora viu foi um “conflito sem limites das tribos identitárias colidindo uma com a outra”.

“As tramas amorosas e sexuais, recorrentes em outras edições do programa, foram substituídas por ‘tretas’. O público achou aquilo assustador enquanto a esquerda tradicional, que oferece complacência enorme em relação aos abusos desses grupos identitários, ficou desnorteada”.

“O que vemos ali é cada um buscando sua superioridade moral e se permitindo comportamentos autoritários e agressivos simplesmente por causa de seu pertencimento a um grupo estruturalmente desvantajado ou historicamente marginalizado”.

Na visão de Gomes, parte-se assim da visão de que o pertencimento “a essa minoria que sofreu, me dá um ‘Super Trunfo’. E, portanto, o que eu faço tem uma espécie de excludente de ilicitude”.

O filósofo faz alusão ao jargão jurídico — quando uma pessoa pratica um ato geralmente considerado ilícito ou impróprio sem ser punida por isso — para comentar polêmicas como a que aconteceu durante uma festa, quando o participante Gilberto Nogueira afirmou ser um homem negro, declaração que incomodou a rapper Karol Conká e o comediante Nego Di. Este disse: “Ele é sujinho. Se esfregar bem…”. Karol Conká e Nego Di se declaram negros.

Em outro desdobramento, Conká foi acusada de violência psicológica contra o ator Lucas Penteado (de “Malhação”), que também se declara negro, chamando-o de “louco e abusador”. Isso se agravou depois que Lucas tratou outra participante, Kerline, com uma “abordagem invasiva”, repleta de “nomes assustadores”, segundo relato dela própria. Kerline acabou tendo uma crise de choro, e o episódio fez com que alguns participantes do programa agissem duramente contra Lucas, deixando de falar com ele ou proibindo que ele se sentasse à mesa, por exemplo.

Já a psicóloga social Lumena acusou Lucas de autopromoção ao protagonizar com Gilberto o primeiro beijo entre homens em 20 anos do programa. Ela disse: “Lucas tá usando os pretos para se autopromover. Primeiro foi uma agenda racial e agora uma agenda LGBT. Eu não fico falando da minha mulher e que sou sapatão”. A fala deu origem a brincadeiras e críticas nas redes sociais, com usuários criando uma fictícia “carteira de bissexual” a ser submetida à autorização prévia de Lumena.

‘Racismo do bem’

Isolado e criticado pela grande maioria dos colegas, Lucas decidiu deixar o programa na manhã de domingo (7).

Gomes vê o que chama de “complacência” da esquerda com relação a comportamentos como estes em torno da desistência do participante Lucas.

“Há uma esquerda que passa pano para os abusos autoritários, linchadores e canceladores da esquerda identitária. Tem sido sempre assim. Eles vivem nessa complacência, embora estes sejam comportamentos que violem as crenças da própria esquerda”, diz.

Wilson Gomes destaca a ausência de espaços para a construção de diálogos. Foto: Divulgação

“Parece que estamos falando de dois tipos de racismo: um racismo que é condenável quando o vetor vai do branco para o negro e outro racismo para o qual ‘se passa pano’, que tem que ser chamado de outro nome, porque vai de um negro para outro negro, ou do negro para o branco”.

“A crítica não é então por princípio. Seria por conveniência? Os conservadores acusam os progressistas justamente disso quando falam sobre o suposto ‘racismo do bem’ ou ‘ódio do bem'”.

“Na minha visão, a crítica tem que ser por princípio: racismo é racismo, não importa de onde venha, abuso psicológico é abuso psicológico, não importa de onde venha. Autoritarismo que humilha outras pessoas é autoritarismo, não importa de onde venha”, argumenta.

Segundo Gomes, esse tipo de atitude acaba fortalecendo a direita, que ele também classifica como identitária, mas, em sua avaliação, muito mais “unificada”.

“O cientista político americano Mark Lilla fala sobre como esses movimentos hiper-identitários foram muito importantes para a ascensão do trumpismo e eu ousaria dizer para a ascensão do bolsonarismo também. Afinal, se alimentam desse híbrido identitário”, assinala.

“Pode ser que o defensor das armas e o antiabortista tomem caminhos separados no futuro, mas não há dúvida de que existe um projeto de sociedade unificada na direita, a partir de uma visão conservadora do mundo.”

Nesse contexto, Gomes lamenta a ausência de espaços para a construção de diálogos.

“As pessoas falam dentro das suas próprias tribos. Na luta antirracista da atualidade, não há espaço para um Nelson Mandela ou um Martin Luther King, pessoas com discurso universalista, conciliador”, diz.

“Não vejo a criação de pontes, a construção de diálogos. A esquerda de hoje é como um arquipélago. A feminista que não se junta com mulher negra, que, por sua vez, não se junta com o homem negro. Trata-se de várias ilhas que, quando se juntam, se chocam. É isso que estamos vendo no programa”, conclui.

BBC

 

Opinião dos leitores

  1. Entrevista muito antenada e com um olhar aguçado para o momento atual aí amplificado pelo programa da rede globo.
    O que já se observava antes ficou escancarado na TV, pessoas que se utilizam de movimentos que tem causas nobres de maneiras distorcidas

  2. O PALCO DO BOLSOTRALHA SAO TIROS NA CABECA DOS OTARIOS QUE LHE ELEGERAM….E TOME A LIBERAÇÃO …A PRÓXIMA VITIMA SERA QUEM APLAUDE BANDIDO …COM PIRES NA MÃO E FOME NA BARRIGA

  3. Simplifica q dá certo…é só não roubar e não discriminar ninguém que a esquerda ganha moral… não acredito que isso aconteça

  4. Ou seja, a esquerda hipócrita prega a diversidade de idéias e pensamentos mas não aceita o contraditório. Vivem de utopias.

  5. Esse negócio é complicado, esse BBB e o momento que vivemos precisa ser refletido com mais seriedade, não é crível que permitamos o desmantelo do tecido social, isso se já não for tarde.

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Comportamento

FOTO: Mulher descobre traição de namorado pelo reflexo dos óculos dele em selfie

Foto: : Reprodução/TikTok

Uma mulher resolveu expor publicamente a traição do namorado após descobri-la de uma forma inusitada: ela enxergou as pernas de uma outra mulher refletidas nos óculos usados pelo homem, em uma selfie que ele mesmo enviou para ela.

Sydney Kinsch compartilhou a foto em um vídeo do TikTok, explicando que foi por meio dela que ela descobriu a traição do homem com quem mantinha um relacionamento havia quatro anos.

O vídeo, que foi assistido mais de 1.5 milhão de vezes, mostra Sydney, com a foto do parceiro ao fundo. Em uma legenda, ela escreve: “Aquela vez em que meu namorado há quatro anos me mandou uma foto no Snapchat me traindo”. (ASSISTA AQUI em matéria na íntegra).

A imagem mostra o homem dentro de um carro, usando óculos de sol. Enquanto uma das lentes reflete o volante, com um das mãos do rapaz quando o veículo, a outra reflete pernas de uma mulher sentada no banco do passageiro.

“Verifique os reflexos nos óculos dos seus namorados, moças”, adverte Sydney. Nos comentários, várias pessoas questionaram a mulher sobre a certeza da traição partir do que era apenas uma foto, mas ela explicou.

“Eu liguei para ele e perguntei se ele percebeu que me mandou a foto de uma vadia no Snapchat, mas ele não tinha ideia, então me chamou de louca e tal”, ela disse. “Ele disse que era a namorada de um amigo e que ele estava em um grupo, mas eu descobri uma semana depois que ele vinha me traindo havia um mês”.

Já outros espectadores do vídeo preferiram só elogiar as habilidades investigativas de Sydney, com um deles afirmando que “homem sempre pensam que podem se safar” e outro, ironizando: “Não sei para que usar os óculos, ele não é muito brilhante”.

UOL

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