Saúde

Cidade que fez vacinação em massa em SP tem média de mortes até 4 vezes menor que vizinhas

Foto: Instituto Butantan/Divulgação

Mais de um mês depois do término de uma vacinação em massa contra a Covid-19, Serrana (SP) registra uma média de mortes causadas pela doença até quatro vezes menor, se comparada com municípios com população similar na região de Ribeirão Preto (SP).

Desde o início de maio até quarta-feira (19), a cidade escolhida para o Projeto S, estudo do Instituto Butantan sobre a efetividade da CoronaVac, registrou três novas vítimas, contra óbitos que oscilam entre 5 e 13 nas demais. Com isso, a média para cada 10 mil habitantes é de 0,66, contra 2,89 na pior situação epidemiológica entre as outras três localidades.

Serrana também apresenta melhores retrospectos com relação às médias móveis diárias e, agora, também na totalização de mortes quando comparada com outras cidades (veja ao longo da reportagem).

O comparativo foi feito com Orlândia (SP), Pontal (SP) e Jardinópolis (SP), que têm entre 45 mil e 50 mil habitantes, mas, diferente de Serrana, ainda não atingiram a mesma proporção de moradores imunizados contra a doença.

Enquanto as duas doses chegaram a 60% da população por meio do estudo, nessas outras cidades as doses chegaram a proporções que variam entre 6% e 10%.

Para especialistas como o médico infectologista Fernando Bellissimo, da USP de Ribeirão Preto, os números colocam em evidência um dos principais resultados esperados pela vacina desenvolvida pelo Butantan com a Sinovac, que é de reduzir a manifestação de casos graves da doença.

“Esse é o efeito esperado da vacina Coronavac: redução da mortalidade, sem grande efeito sobre a incidência. Ou seja, a vacina previne o adoecimento com maior gravidade, mas não a infecção pelo SARS-CoV-2. Portanto, não há imunidade de rebanho como alguns pretendem”, diz.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde de Serrana informou que não comentará números nem passará mais informações além das divulgadas periodicamente no boletim epidemiológico, até a divulgação dos resultados do estudo, prevista para o fim de maio.

O Instituto Butantan não comentou os dados até a publicação desta reportagem, mas confirmou que os resultados do estudo do Projeto S devem ser divulgados nos próximos dias.

Vacinação em massa

Iniciada em 17 de fevereiro, a imunização em massa foi concluída em 11 de abril, com mais de 27 mil pessoas vacinadas duas vezes, o equivalente a 60% da população de Serrana.

Por terem ficado de fora dos testes nas fases anteriores sobre a CoronaVac, não foram imunizadas no projeto menores de idade, mulheres grávidas ou em amamentação, pessoas com doenças graves e quem teve febre 72 horas antes da vacinação.

Localizada a 315 quilômetros de São Paulo, a cidade foi escolhida para o estudo clínico por ter um baixo número populacional, de 45.644 habitantes, além de estar próxima a Ribeirão Preto, que é considerada uma referência nacional em saúde.

Além disso, Serrana apresentou dados preocupantes de transmissão do vírus em um inquérito sorológico realizado pelo Instituto Butantan em 2020, que estimou que a cidade tinha 10,6% dos moradores infectados pelo novo coronavírus.

Além da queda nos casos e mortes após a vacinação em massa, entre os indicadores positivos profissionais da área também registraram queda de 55% no número de pacientes atendidos pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e uma proporção sete vezes menor de pessoas que desenvolveram complicações da doença.

Um acompanhamento divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, também indicou baixa constante na média móvel de casos da doença desde meados de março.

Mortes e casos por 10 mil habitantes

Com base em números divulgados pelas prefeituras, é possível apontar que, desde março, a média de mortes por grupo populacional está em queda em todos os municípios avaliados. Mas, entre eles, Serrana é o que tem a menor proporção de óbitos causados pela Covid-19.

Nos registros entre 1º e 19 de maio, em um grupo populacional de 10 mil pessoas, a taxa é de 0,66, menos de um quinto da média de Jardinópolis, com 2,89, e até 55% abaixo do atingido em Orlândia e Pontal, entre 1,13 e 1,18.

A média também representa a metade do registrado em abril, quando a cidade já tinha a menor incidência no comparativo.

A baixa também é observada com relação aos novos registros gerais da Covid-19, ainda que a eficácia global para casos sintomáticos seja de 50,38%, segundo os resultados de testes divulgados pelo Butantan em janeiro.

Em Serrana, a média de casos por 10 mil habitantes vem caindo desde março e até o dia 19 deste mês é de 44,91, o que deixa a cidade acima de Pontal, com 42 registros por 10 mil pessoas, mas abaixo de Orlândia e Jardinópolis, onde há, em média, entre 68 e 103 novos registros no mesmo contingente populacional.

Números acumulados da pandemia

No acumulado desde o início da pandemia, o município ainda é o que tem o segundo maior saldo de casos, com 3.906 pessoas infectadas, somente atrás de Pontal, mas é o que menos acumula mortes, com 87. Veja os resultados por cidade:

Serrana: 3.906 casos e 87 mortes

Pontal: 4.011 casos e 132 mortes

Orlândia: 3.518 casos e 97 mortes

Jardinópolis: 3.111 casos e 121 mortes

Médias móveis

Quando avaliadas as médias móveis diárias, ou seja, baseadas nos novos registros dos últimos sete dias, Serrana também apresentou melhora no retrospecto ao longo das semanas, até ficar abaixo de outras cidades.

Na avaliação das mortes, em 11 de março, o município teve um pico de 0,86, número que chegou a superar Orlândia e Jardinópolis e ficou oscilando até 24 de março, quando começou a demonstrar tendência de queda.

Ainda com elevações pontuais, sem voltar aos patamares anteriores, a média móvel chegou a 0 entre 22 de abril e 4 de maio, e desde então ficou em 0,14, número semelhante ao de Pontal.

Na análise dos casos, a média móvel chegou a 38 no dia 19 de março em Serrana, índice que superava os das outras três cidades, mas se manteve com tendência de queda até 2 de maio, quando atingiu o patamar de 2,86, abaixo de todos os outros.

Os números voltaram a subir, mas em níveis abaixo dos anteriores, e até o dia 19 chegou à média de 12,57 casos, acima de Pontal (10,71), mas abaixo de Orlândia (23) e Jardinópolis (20,86).

G1

 

Opinião dos leitores

  1. O pior dessa falta de vacinas foi a pagina da prefeitura de Natal continuar colocando ‘filas intensas’, filas moderadas etc quando não existia mais sequer uma dose. Enganosa e provocadora de prejuízos para os cidadãos a a pagina: https://vacina.natal.rn.gov.br/

  2. O sindicato dos professores fez duas manifestações esse ano:
    a primeira para que a educação não fosse considerada atividade essencial.
    a segunda que os professores tivessem prioridade na vacinação.
    Existe coerência nisso?
    Se professor deve ter prioridade, por quê não estariam incluídos os policiais militares e civis, os garis, motorista de ônibus, funcionários de supermercado, padarias, farmácias, açougues, bombeiro de posto de gasolina, construção civil e todo pessoal que vem trabalhando normalmente?

  3. Sou a favor da vacinação, mas a forma que foi veiculada pela imprensa, de que o indivíduo vacinado não apresenta a forma grave e nem vem a óbito, esta sendo um tiro no pé.
    Pois o próprio estudo feito em Serrana mostra números contrários, apesar que diminuiram drasticamente os casos.
    Todo cuidado é pouco, ainda não sabemos totalmente com o que estamos lidando. Acho que é valido todos os métodos que possamos utilizar, acho melhor pecar pelo excesso, do que pela falta.

    1. Em se tratando de medicação, excesso significa OVERDOSE

    1. Basta vc pesquisar um pouco, compare as capitais do sudeste ( onde não houve protocolos de tratamento precoce ), com as outras capitais que aderiram em parte ao tratamento precoce. Veja o dado de mortalidade/habitante e tire suas conclusões

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Saúde

Estudo diz que princípio ativo de cogumelos alucinógenos é até 4 vezes mais eficaz que antidepressivos

Os resultados mostraram que 67% dos participantes apresentaram uma redução de mais de 50% nos sintomas de depressão apenas após uma semana de tratamento – Reprodução/Getty Images

A psilocibina, princípio ativo dos cogumelos mágicos, é quatro vezes mais eficaz no tratamento da depressão do que os antidepressivos comuns, de acordo com um estudo publicado na quarta-feira, 4, na revista científica JAMA Psychiatry. Essa é a primeira pesquisa científica a comprovar o potencial dessa terapia para a depressão comum.

Até o momento, os estudos com esse psicodélico estavam concentrados em pessoas com depressão resistente, ou seja, que não respondem a pelo menos dois tratamentos já existentes. Os resultados incrivelmente positivos foram descritos como apenas uma “amostra do que está por vir”, já que outros estudos com um número maior de participantes estão em andamento.

Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, recrutaram 24 voluntários com depressão. Os pacientes enfrentavam a doença há, no mínimo, dois anos. Antes do estudo, todos os indivíduos precisaram abandonar o tratamento com antidepressivos, mediante acompanhamento médico.

Os participantes receberam duas doses de psilocibina administradas por dois monitores clínicos. As doses foram administradas com duas semanas de intervalo entre elas. Cada sessão de tratamento durou aproximadamente cinco horas, com o participante deitado em um sofá, com viseira e fones de ouvido que tocavam música. O tempo inteiro os monitores estavam presentes. Uma série de sessões de psicoterapia foi realizada antes e depois das sessões ativas com psilocibina. O protocolo seguido pelos pesquisadores é semelhante ao usado em outros estudos com o mesmo medicamento.

Os resultados mostraram que 67% dos participantes apresentaram uma redução de mais de 50% nos sintomas de depressão apenas após uma semana de tratamento. No acompanhamento de quatro semanas, esse número subiu para 71% dos voluntários. A pontuação média no teste de depressão dos participantes em geral caiu de 23 para 8 um mês depois, e mais da metade do grupo foi considerada em remissão no mesmo período.

“A magnitude do efeito que vimos foi cerca de quatro vezes maior do que os testes clínicos demonstraram para os antidepressivos tradicionais no mercado”, diz Alan Davis, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e autor correspondente do estudo. “Como a maioria dos outros tratamentos para depressão leva semanas ou meses para funcionar e pode ter efeitos indesejáveis, isso pode ser uma virada de jogo se essas descobertas se confirmarem em futuros ensaios clínicos controlados por placebo de‘ padrão ouro ’.”

As limitações do estudo incluem o pequeno número de voluntários, a ausência de grupo controle e um curto período de acompanhamento. De qualquer forma, os resultados são considerados extremamente promissores.

Os compostos psicodélicos são substâncias extraídas de plantas ou sintetizadas em laboratório capazes de induzir estados alterados de consciência. Fazem parte desta classe substâncias como a psilocibina, o LSD, a ayahuasca e o MDMA (princípio ativo do ecstasy). A psilocibina, por exemplo, produz alucinações visuais e auditivas e profundas mudanças na consciência algumas horas após a ingestão.

A maior dos psicodélicos atua como um facilitador da psicoterapia. Sob seu efeito, os pacientes são capazes de relembrar e trabalhar eventos traumáticos com menos sofrimento. Isso significa que o paciente não precisa ficar usando a substância depois do tratamento.

A ciência ainda não compreende completamente como os psicodélicos funcionam. Do ponto de vista químico, elas aumentam a quantidade de neurotransmissores no cérebro, em especial a serotonina, que controla as emoções e regula o domínio sensorial, o motor e a capacidade associativa do cérebro. Elas reduzem a atividade na amígdala, parte do cérebro que regula a resposta ao medo. E aumenta a atividade no córtex-pré frontal, parte associada ao raciocínio, humor e percepção. O efeito terapêutico estaria relacionado a maior fluidez da atividade cerebral.

A FDA, agência americana que regula medicamentos, concedeu à psilocibina a designação de terapia inovadora em duas ocasiões: no tratamento de depressão grave resistente ao tratamento e de depressão grave.

Veja

Opinião dos leitores

  1. Viva a ciencia, muitos precisam ter um alento concreto para o seus distúrbios psíquicos, oxalá se concretizem os estudos de forma real e aplicável.

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