Diversos

Estações da Rede Sismográfica Brasileira operadas pela UFRN registraram mais de 50 tremores na região Nordeste nos últimos quatro meses

Foto: Reprodução/UFRN

No começo da semana, um terremoto sacudiu o sossego de milhares de baianos, que ainda despertavam para mais um domingo lento de quarentena. O forte tremor de magnitude 4.6 e seus efeitos devastadores foram percebidos em várias cidades do interior da Bahia: Paredes racharam, tetos caíram, estoques desabaram. O evento que pegou moradores de surpresa foi no mesmo instante identificado e classificado, a quase 220 quilômetros de distância dali, por uma das estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) operadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Desde a década de 1970, o laboratório tem trabalhado em parceria com entidades públicas e privadas, como a Defesa Civil, a fim de informar e auxiliar as populações locais sobre eventos sísmicos, uso da sismologia para entender a estrutura e evolução da Terra e a formação de recursos humanos de alto nível. Atualmente, o LabSis conta com estações de monitoramento sísmico em todos os estados do Nordeste para detectar as menores vibrações que ocorrem na região. Após as últimas ocorrências na Bahia, por exemplo, já está prevista a instalação de uma rede sismográfica local pelo LabSis/UFRN, com financiamento do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos Tectônicos.

Sismograma do dia 30 de agosto. O início do registro do evento está em azul a partir das 21:22 UTC. Acima desse evento estão os dois sismos da Bahia, incluindo o tremor de magnitude 4.6 marcado em vermelho. Foto: Reprodução.

O trabalho do LabSis é desenvolvido através de monitoramento contínuo das estações sismográficas instaladas. Também são feitas visitas periódicas em campo para manutenção das estações e coleta de dados, que serão estudados na UFRN. Além disso, é desenvolvido um trabalho social de esclarecimento às populações locais sobre causas, danos e consequências de um terremoto.

Estações

O Brasil tem mais de cem estações como essas mas deveria ter pelo menos o dobro, defende o coordenador do LabSis, o geofísico e professor Aderson Nascimento, para quem o monitoramento precisa aumentar. “No Brasil temos terremotos com potencial de prejudicar grandes estruturas, como barragens, por exemplo. Esse conhecimento é importante para quem faz análise de risco, estuda o cenário para exploração de riquezas ou busca subsídios para prospecção mineral e petróleo”, afirma.

A UFRN monitora quatro estações sismográficas no Estado: A unidade de Pau dos Ferros, Paraú, Pedro Velho e a unidade do município de Riachuelo, que é parte de um acordo de comodato com o serviço geológico dos EUA. Mas como funcionam essas estações? elas trabalham como sistemas autônomos, com painéis solares ou baterias. Cada estação tem um sensor abrigado em uma caixa de concreto aterrada, que vibra junto com a terra e que é chamado de registrador. Esses dados serão então acessados remotamente através de uma transmissão online.

É comum ouvir dizer que o Brasil é um país abençoado por não ter terremotos, mas a realidade trazida pelos sismógrafos desmente essa versão popular. Apenas nos últimos quatro meses – maio, junho, julho e agosto de 2020 – o LabSis registrou mais de 50 tremores na região Nordeste, a maioria imperceptível. Lembrando que a terra não treme forte apenas no interior do Nordeste mas também ao mar. No mesmo dia do terremoto na Bahia, um tremor de magnitude 6.5 ocorreu próximo do arquipélago de São Pedro e São Paulo, em Pernambuco. O epicentro foi localizado a 40 quilômetros das ilhas, dentro do limite das 200 milhas ou 370 quilômetros da Zona Econômica Exclusiva), e a 960 quilômetros de Natal.

Mapa de localização de onde foram instaladas redes locais para estudo de atividade sísmica desde 1986. Cada triângulo vermelho indica uma rede. Foto: Reprodução.

João Câmara

A ocorrência na Bahia é similar embora menos impactante ao que aconteceu no município norte-rio-grandense de João Câmara há 34 anos. Entre agosto e novembro daquele ano, teve início, como explicado nas palavras do professor do LabSis Joaquim Ferreira, “a mais espetacular sequência sísmica já registrada no Brasil”. O estudo e a documentação dos tremores em João Câmara mudou para sempre o direcionamento das pesquisas sobre sismologia do Brasil.

Para quem não recorda, o primeiro dos grandes tremores de 1986 aconteceu no dia 21 de agosto e alcançou a magnitude 4.3. No mês seguinte, em setembro, mais dois tremores parecidos foram registrados, um com 4.3 e outro com 4.4 de magnitude. O terremoto principal ocorreu às 03h32 do dia 30 de novembro do mesmo ano, alcançando magnitude de 5.1, e seguido por dezenas de réplicas. A sequência de abalos sísmicos foi o suficiente para destruir casas e deixar moradores desabrigados.

Depois das ocorrências na cidade, Joaquim Ferreira descreve que foi possível à sismologia da UFRN se equipar, contratar mais pessoas e atuar em vários estados da região, estudando os tremores de terra tanto do ponto científico quanto esclarecendo a população e ajudando a Defesa Civil a atuar nessas situações. “Isso levou à criação do Laboratório Sismológico da UFRN (LabSis), que funcionou inicialmente no Departamento de Física Teórica e Experimental, sendo transferido em 2009 para o Departamento de Geofísica, no Centro de Ciências Exatas e da Terra”, relata Joaquim, em texto postado no site do departamento.

João Câmara continua sendo monitorada pelo LabSis, que ainda registra tremores frequentes na região. Uma das causas para o fenômeno é que o município é atravessado pela Falha de Samambaia, a maior falha geológica do Brasil, que tem 38 quilômetros de comprimento por cerca de quatro quilômetros de largura e que atravessa também os municípios de Parazinho, Poço Branco e Bento Fernandes. Estima-se que a sua profundidade varia entre um e nove quilômetros. Uma outra falha geológica, chamada de Falha de Poço Branco, também contribui para as ocorrências sismológicas na região, embora com menos intensidade.

45 anos

Os laços entre a sismologia e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no ano de 2020, completam 45 anos. Essa parceria começou quando a estação sismográfica localizada na capital potiguar, que pertencia à rede sismográfica global WWSSN, passou a ser comandada pela instituição de ensino, sendo de responsabilidade do Departamento de Física da universidade, onde apenas um docente era formado na área de Geofísica. Com a sequência sísmica de 1986, em João Câmara, os olhos de todo Brasil se voltaram para o estado do Rio Grande do Norte e, consequentemente, para os profissionais da área de Geofísica da UFRN.

Além da página oficial, o LabSis também possui outros canais de comunicação como sua página do Facebook, onde são publicadas informações sobre os tremores de terra analisados pela equipe do laboratório, e que recebe também perguntas e informações sobre os possíveis sismos que ocorreram na região. O blog Sismos do Nordeste, alimentado pelo professor Joaquim Ferreira desde 2011, também divulga notícias sobre os eventos sísmicos que ocorreram na região.

A página do laboratório, desde maio deste ano, também fornece um boletim atualizado semanalmente de tremores com magnitude igual ou maior a 1.5 na aba ‘boletins’ localizada no menu principal do portal. O prédio do Laboratório abriga discentes de graduação, mestrado e doutorado, que acabam tendo à disposição salas equipadas com equipamentos e também o auxílio dos próprios professores orientadores, que têm suas salas individuais, e técnicos que trabalham no laboratório.

UFRN

 

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Judiciário

Câmara de Monitoramento de Homicídios recebe novo secretário estadual de segurança

Em mais uma reunião semanal, a Câmara de Monitoramento de Homicídios do Tribunal de Justiça reuniu representantes das entidades públicas que têm um objetivo em comum: o desafio de diminuir a incidência de assassinatos no Rio Grande do Norte. Nesta sexta-feira (21), a Câmara recebeu pela primeira vez a presença do novo secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Estado, o general Eliéser Girão Monteiro Filho.

Eliéser Girão chega ao comando da pasta no momento em que o Rio Grande do Norte registra número assustadores com relação à violência. Ele aponta que o principal problema da segurança pública no Estado é o aumento do número de homicídios. Somente ano passado, foram 1.653 homicídios e, esse ano, já foram contabilizados 330 assassinatos, até o dia 13 de março. “Aos melhores cabem as missões mais difíceis. Que bom que temos essa equipe forte para trabalhar junto o combate à violência nesse Estado”, disse o general Eliéser.

Na reunião, o juiz auxiliar da Presidência do TJ potiguar, Fábio Filgueira, coordenador do grupo, deu as boas vindas ao novo integrante da Câmara e apresentou os principais assuntos em pauta. O ponto mais debatido no encontro desta sexta-feira foi a instalação da Divisão de Homicídios. O Ministério Público Estadual está agilizando o processo de doação do prédio em desuso na Rua Apodi para o seu estabelecimento.

“Ainda não sabemos como vai ficar. Teremos uma definição em duas semanas com relação a transferência do prédio e a concessão do Executivo para a convocação de mais agentes civis para compor a Divisão”, explica Filgueira, fazendo menção a uma consulta solicitada ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Uma nova reunião da Câmara de Monitoramento de Homicídios está agendada para a próxima quarta-feira (26) no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), que atualmente se encontra instalada na Escola de Governo do RN.

Estiveram presentes na reunião representantes da Segurança Pública, Defensoria Pública, Ministério Público, OAB/RN e Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep).

TJRN

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Diversos

Câmara de Monitoramento de Homicídios concentra esforços para resolver pendências no ITEP

A Câmara de Monitoramento de Homicídios, coordenada pelo juiz auxiliar da Presidência do Tribunal de Justiça, Fábio Filgueira, se reuniu nesta sexta-feira (07) para dar continuidade ao trabalho de enfrentamento à incidência de assassinatos no Estado. Várias ações já iniciadas pelo grupo foram discutidas no encontro, que reúne entidades ligadas à segurança pública estadual.

“Em novembro nós demos o pontapé inicial. É importante mantermos o foco. Só assim será possível atingir bons resultados e resolver problemas crônicos vigentes na segurança pública do Rio Grande do Norte”, frisa Filgueira.

Na reunião desta sexta, a diretora geral do Instituto Técnico-Científico de Polícia (ITEP), Raquel Taveira, adiantou que o órgão irá receber nos dias 11 e 14 de março, quatro peritos para reforçar a investigação em locais de crime, através do programa Brasil Mais Seguro. “É um passo importante para conseguirmos resolver algumas pendências internas”, disse a gestora.

Há 60 dias na direção, Raquel destaca que dentro do ITEP existem diversos problemas considerados crônicos. Cerca de 4 mil laudos estão em atraso, alguns ainda do ano 2000. “É um trabalho de gestão árduo e que requer o apoio da Câmara de Monitoramento de Homicídios para dar celeridade à parte criminal”, ressalta.

Outra pendência urgente do instituto é a necessidade de médicos legistas, profissionais essenciais para a realização de autópsias e outros procedimentos médico-legais.

Prazo curto

O prazo para convocar os 83 agentes de Polícia Civil já formados está chegando ao fim. O prazo limite de validade do concurso vence em 1º de abril. O principal entrave, alegado pelo governo do Estado, para a contratação dos agentes é o limite prudencial e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma definição deve ser apresentada na próxima reunião da Câmara de Monitoramento de Homicídios que deve ocorrer na próxima sexta-feira (14).

Unidade

A Câmara de Monitoramento de Homicídios definiu nesta sexta-feira (07) que encaminhará um ofício à Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) para a cessão de um prédio pertencente à empresa, localizado no bairro da Ribeira.

O delegado geral da Polícia Civil, Ricardo Sérgio Oliveira, solicitou o espaço para a instalação de um laboratório de investigações de lavagem de dinheiro. “Essa é a importância da Câmara. Não trabalhamos individualmente, mas em conjunto. Isso traz mais força e agilidade”, considera o delegado.

TJRN

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