Saúde

EUA veem risco de pandemia “pior que a Covid” com “ameaças biológicas sérias”, e propõem plano de US$ 65 bilhões

Foto: Caroline Purser/Getty Images

Documento elaborado pela Casa Branca prevê “ameaças biológicas sérias”, cita risco de vazamentos de laboratório e fala em imunizar toda a população global em 200 dias; dinheiro iria para o desenvolvimento de vacinas, remédios, testes e mecanismos de proteção.

O plano, que foi divulgado na última sexta-feira, começa dizendo que a pandemia de Sars-CoV-2 “foi favorável em certos aspectos”, pois é “muito menos letal do que a Gripe de 1918” e envolve um coronavírus: uma família de vírus que já foi bastante estudada, especialmente após o surgimento do primeiro Sars-CoV, vinte anos atrás, e do Mers-CoV, há uma década. “Infelizmente, a maioria das 26 famílias de vírus que infectam humanos é menos compreendida, ou mais difícil de controlar que os coronavírus”.

“Por mais devastadora que seja a pandemia de Covid-19, há uma probabilidade razoável de que outra pandemia séria, que pode ser pior do que a Covid-19, aconteça logo – possivelmente dentro desta década.

Em seguida, o documento revê a história dos surtos virais nos últimos 100 anos, destacando que houve pelo menos 11 episódios sérios (veja quadro abaixo). Ou seja, eles são bem mais frequentes do que se imagina. “Desses surtos, cinco tiveram taxas de letalidade iguais ou maiores que a Covid-19”, afirma o texto.

Surtos virais nos últimos 100 anos, com total de mortes global e nos EUA. Casa Branca/Reprodução

O texto prevê aumento nos surtos virais, por três fatores: a expansão populacional humana (que avança sobre o habitat de animais selvagens), o aumento “no número de laboratórios manipulando patógenos perigosos”, o que “aumenta a probabilidade de que um patógeno contagioso seja liberado acidentalmente”, e “a possibilidade perturbadora de que um agente maligno desenvolva e use uma arma biológica, incluindo uma que seja altamente contagiosa”.

Depois de pintar esse cenário assustador, o documento propõe uma série de medidas para lidar com ele. A primeira é aperfeiçoar o desenvolvimento de vacinas: os EUA precisam ser capazes de “projetar, testar e revisar uma vacina segura e eficaz contra qualquer vírus humano em 100 dias”, e fabricar doses suficientes para cobrir “toda a população dos EUA em 130 dias, e a população global em 200 dias”.

Além da vacina, o plano também prevê o uso de medicamentos antivirais, que inibam “funções essenciais do vírus, como a entrada na célula e a replicação”, como os remédios contra hepatite e HIV. O documento não diz, mas já existe um antiviral em testes contra o Sars-CoV-2: é o molnupiravir, que está sendo desenvolvido pelo laboratório Merck e provoca erros de cópia no vírus, impedindo que ele se replique.

O molnupiravir foi inventado pela Emory University, nos EUA, que estava tentando criar um remédio contra o vírus influenza. As moléculas do remédio se inserem no RNA do vírus, provocando uma sequência de erros que impossibilitam a reprodução dele. A droga, que já está na última fase de testes em humanos, é considerada promissora – pois é fácil de administrar (é um comprimido), e poderia ser usada para prevenir o agravamento de doenças causadas pelo Sars-CoV-2 e por outros vírus de RNA.

O plano da Casa Branca fala em “restaurar e expandir” os estoques de medicamentos, máscaras e equipamentos de proteção individual, criar testes e redes de monitoramento contra epidemias, e tomar medidas para “prevenir acidentes de laboratório”, com maior fiscalização e controle. O custo total do plano, “a ser investido nos próximos 7 a 10 anos”, é de US$ 65,3 bilhões – com metade desse valor indo para o desenvolvimento de vacinas e antivirais. A despesa precisa ser aprovada pelo Congresso dos EUA.

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Saúde

H5N8, variação da gripe aviária, tem potencial para se tornar nova pandemia, alertam cientistas

FOTO: MADS CLAUS RASMUSSEN/EFE/EPA

O mundo ainda não se recuperou da pandemia do novo coronavírus, que há um ano e meio causa a morte de milhares de pessoas, e já existe a possibilidade de uma nova crise na saúde global. Uma variação do vírus da gripe aviária chamada de H5N8 foi apresentada por pesquisadores chineses com potencial de se disseminar entre humanos.

Os virologistas Weifeng Shi e George F. Gao publicaram um artigo na conceituada revista científica Science e alertaram que as mutações da gripe aviária podem ser desastrosas. “Vários tipos do vírus da gripe aviária têm potencial zoonótico porque foi demonstrado que eles cruzam a barreira das espécies, transmitindo para mamíferos, incluindo humanos. O monitoramento contínuo e vigilante para evitar mais transbordamentos, que podem resultar em pandemias desastrosas”, alertam no artigo publicado na última semana.

Os pesquisadores explicaram que o H5N8 pode se propagar rapidamente entre aves do mundo e consequentemente atingir as pessoas, já que o vírus tem alta capacidade de ligação ao receptor do tipo humano.

Os primeiros casos de infecção aconteceram na Rússia, em dezembro de 2020, mas só foram confirmados em fevereiro deste ano. Sete trabalhadores de uma fazenda avícola, que cuidavam de aves contaminadas, tiveram os exames analisados e detectaram a presença do H5N8.

De acordo com informações da agência de saúde russa, os pacientes não apresentaram sintomas relevantes e a doença não apresentou transmissão entre humanos.

Os cientistas chineses são os mesmos que, em dezembro de 2019, alertaram sobre o perigo do SARS-CoV-2 e ambos não se mostraram otimistas sobre os efeitos na população da nova mutação do vírus da gripe aviária.

“A análise filogenética revelou a disseminação global do H5N8 tornou-se uma grande preocupação para a avicultura e a segurança da vida selvagem, mas, criticamente, para a saúde pública global”, publicaram no artigo.

E, complementaram: “A grande migração de longas distâncias de aves selvagens, a capacidade de rearranjo e mutação do vírus da gripe aviária e o aumento da capacidade de ligação ao receptor do tipo humano é imperativo que não sejam ignoradas as chances de disseminação global e o risco potencial do H5N8 para avicultura, avifauna e saúde pública global”, ressaltaram.

O epidemiologista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Waldman explica que o contato intenso entre homens e animais ao longo dos anos aumentou a tendência de novas epidemias.

“A forma como o homem tem contato com os animais cria o que chamamos de saltos. O que significa que um vírus que circula em um animal, se adapta e atinge a população humana, que se escapar pega outras pessoas sem nenhuma resistência”, alerta.

O presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha explica que todas as infecções do influenza surgem a partir de animais e as transmissões tendem a aumentar com o passar do tempo.

“Todos os vírus influenza tem reservatórios em animais. Se imagina que mais cedo ou mais tarde, temos de estar preparados para acompanhar as transmissões e conseguir controlar. A transmissão primeiro é de animal para animal; depois de animal para humano e em seguida de humano para humano. Para que isso não acontece é importante combate rápido com medidas drásticas, como a de dizimar os animais contaminados”, disse o médico.

Nos animais, o H5N8 foi detectado pela primeira vez na China, no ano de 2010. Em 2014, aconteceu um segundo surto em aves que se espalhou por Japão e Coreia do Sul. A doença atingiu aves pela terceira vez em países da Europa e nos Estados Unidos, em 2016. No ano passado, cerca de 46 países registraram surtos da doença e milhões de animais precisaram ser sacrificados.

O que fazer para não virar uma epidemia?

A dupla chinesa lembrou que durante a pandemia da covid-19 houve um aumento da preocupação com os cuidados pessoais e os surtos de gripe diminuíram entre as pessoas, mas caiu a vigilância e o controle para o surgimento de novas doenças.

“Devido à pandemia, as medidas de prevenção e controle – incluindo mobilidade reduzida, maior uso de máscaras e maior distanciamento social e desinfecção – reduziram drasticamente a incidência global dos vírus sazonais da influenza humana A e B. No entanto, os dados podem ser subestimados e devem ser interpretados com um grau de cautela porque a covid-19 influenciou os comportamentos de busca por saúde. Porém, o vírus da gripe aviária causou surto frequente em animais de vários países dos continentes, especialmente durante o inverno”, ressaltaram no artigo.

Mesmo com o alerta de perigo feito por Shi e Gao, eles afirmaram que medidas como vigilância de granjas, atualização da vacina da gripe para os animais, a partir da descoberta da nova mutação, podem controlar a propagação do vírus nas fazendas e, consequentemente, segurar o salto em humanos.

Os pesquisadores ressaltam: “Educação e divulgação também são importantes, incluindo medidas de proteção pessoal reforçadas durante a temporada de influenza, mantendo-se longe de pássaros selvagens e evitando caçar e comer pássaros selvagens”, finalizam eles.

Cunha reafirma que a vigilância é a melhor forma de evitar que a doença evolua. “Não tem como dizer se a transmissão vai ou não acontecer. Por isso, a vigilância deve ser frequente e o uso de medidas preventivas não farmacológicas deve ser mais forte nos trabalhadores rurais, que trabalham diretamente com o animal. Nos casos que o causador é um animal silvestre é mais difícil de controlar, mas é importante verificar se existe mortalidade de aves fora do normal”, finalizou Cunha.

R7

Opinião dos leitores

  1. Hoooooomi, vai arranjar uma lavagem de roupa e deixem de ficar tocando o terror na população, magote de corno.

    1. Neto e Adolfo T. é por essas atitudes de vocês, de não acreditar e ainda ficar com raiva, que o corno é o último a saber.

      Pensem nisso, a dica tá aí, só basta vcs abrirem os olhos, mas abram com moderação.

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