Comportamento

QUER VIVER SEM MEDO? A emoção é, na verdade, essencial para nos manter seguros, dizem novos estudos

PAVOR – Ponto de equilíbrio: é preciso ficar alerta às ameaças, mas não a ponto de abdicar de todas as experiências – //Shutterstock

Pupilas dilatadas, mãos suadas, sensação de frio na barriga. Essas são manifestações orgânicas típicas de medo — emoção que, apesar de rejeitada e associada à covardia, tem uma importância evolutiva que salvou nossa espécie da extinção. Trabalhos acadêmicos e um novo livro jogam agora luz sobre uma das mais sombrias reações humanas, suscitando debates entre cientistas. “Trata-se de um mecanismo de sobrevivência universal”, define a professora de psicologia Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York. Segundo a especialista, passamos boa parte da vida aprendendo a diferenciar o que representa ou não perigo. A psicóloga clínica Neuza Corassa, diretora do Centro de Psicologia Especializado em Medos, de Curitiba, afirma que o sentimento é, de fato, inerente à espécie humana, mas ressalta que cada indivíduo reage a sua maneira: “Alguns precisam de terapia para lidar com isso, outros, não. Na última década, aprendemos a respeitar os temores de cada um”.

Para além das fobias sociais, experimentos recentes comprovam que certas aversões nascem implantadas em nós, como um chip de computador, na forma de instinto. Tome-se, por exemplo, o pavor que muitas pessoas têm de aranhas e cobras. Um estudo conduzido pelas universidades de Leipzig, na Alemanha, e de Uppsala, na Suécia, chegou à conclusão de que até mesmo bebês apresentam uma reação de stress ao ver esses animais. Ou seja, mesmo sendo o primeiro contato, eles já sabem instintivamente o perigo que os bichos podem representar.

No livro The Nature of Fear: Survival Lessons from the Wild (A essência do medo: lições de sobrevivência da natureza, ainda sem edição brasileira), Daniel T. Blumstein, estudioso do comportamento animal, debruça-se sobre a história natural do medo, exemplificando, com casos da vida selvagem, como ele tem sido benéfico para todos os seres vivos, especialmente o homem. “É uma ferramenta que, acima de tudo, nos mantém seguros”, disse Blumstein a VEJA. “O mundo é um lugar perigoso, e cabe a nós lidarmos com esses riscos, já que eliminá-­los por completo é impossível.”

O medo tem papel fundamental na evolução humana, mas funciona melhor longe dos extremismos. O Homo sapiens, ao longo de milhares de anos, não teria escapado se partisse para cima de qualquer animal que encontrasse pela frente. E tampouco duraria se ficasse paralisado a ponto de não conseguir fugir quando necessário. O mesmo valeria no convívio com a própria espécie. Afinal, deixar o pavor atingir um nível debilitante poderia fazer com que um indivíduo se isolasse de seus pares, reduzindo sua capacidade de se proteger. Nenhum dos extremos permitiria que ele sobrevivesse por muito tempo.

Quando se fala em evolução, é preciso lembrar que a função biológica do ser vivo é justamente sobreviver, ao menos até se multiplicar, passando adiante as suas características por meio do DNA. No mundo animal, já foi comprovado que a habilidade de identificar as coisas a se temer é um traço que pode ser geneticamente herdado. Ou seja: o indivíduo perseverante passa a sua prole o recurso instintivo de discernir entre uma situação perigosa e uma situação normal — como contatou-se no experimento com os bebês. Assumindo que nem o exageradamente corajoso nem o excessivamente covarde teriam vivido o suficiente para gerar descendentes, conclui-se que nossos ancestrais foram aqueles que ficaram alertas em relação às ameaças, mas não a ponto de abdicar da vida. Nós seríamos, portanto, fruto desses indivíduos, medrosos apenas quando as situações, de fato, exigiam.

Graças ao componente social do ser humano, nosso rol de fobias costuma aumentar ao longo da vida. Um sintoma disso é que, em tempos de Covid-19, novos medos parecem aflorar de todos os lados. Na Austrália, relatos de avistamento de morcegos — primeiro animal relacionado à disseminação do novo coronavírus — cresceram de forma expressiva, não necessariamente porque mais morcegos começaram a aparecer, mas porque as pessoas passaram a enxergar nesse animal um perigo que antes não viam — temor que, por sinal, talvez nem se justifique. A história mostra que o pânico em algumas sociedades já levou várias espécies locais à extinção, causando danos irreparáveis ao meio ambiente.

Como então reagir adequadamente aos temores que, de um maneira ou de outra, estarão presentes na vida de todos? “Não há um número mágico quando o assunto é a medida certa do medo — tudo depende da circunstância”, responde Blumstein. “Se eu tivesse que deixar um recado para a sociedade sobre o tema, seria ligado à política: cuidado com o candidato que usa o medo para levá-los a votar nele. Se ele diz que é o único capaz de acabar com o risco, vote em outro. O risco não pode ser eliminado, só administrado.” Sábio conselho do escritor.

Publicado em VEJA de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709

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Esporte

Fim de um reinado: Emocionado, Juninho anuncia aposentadoria

2014020363932.jpg-G1R1GV2G1.1O reinado chegou ao fim. Como esperado, Juninho Pernambucano convocou uma entrevista coletiva para anunciar sua aposentaria do futebol. Inicialmente, a expectativa era de que o “Reizinho” pendurasse as chuteiras somente após o Campeonato Carioca deste ano, mas, por conta do condicionamento físico, o jogador decidiu adiantar a decisão.

— Tenho muito mais a agradecer do que falar. Agradecer a todos com quem convivi em 20 anos. Resolvi parar porque depois da última contusão, tinha decidido parar, acabei convencido pelo Rodrigo (Caetano) e pelo presidente a jogar o Carioca, até pela possibilidade real de mais uma conquista. Mas os treinamentos foram difíceis, eu não ia conseguir ser o atleta competitivo que sempre fui. Às vezes parecia que ia dar, mas resolvi tomar a decisão. Não estava também, honestamente falando, disposto a me submeter ao sacrifício de vir todo dia treinar, para entrar em forma — avaliou o craque.

Juninho também falou sobre como era ser o “vovô” do elenco vascaíno e lembrou de outros grandes jogadores para ilustrar que, em algum momento, a aposentadoria chega para todos.

— Para fazer pela metade, achei melhor não fazer. Claro que não é fácil. Mas está sendo um pouco mais fácil do que eu imaginava. Se Romário parou, se Roberto parou, Zico, tantos craques… Não teria como não chegar esse dia para mim. Convivi os últimos dias sendo o vovô do elenco, e quando saía do clube para buscar minha filha na escola, eu era o pai mais novo. É a vida… — disse.

Ídolo da torcida vascaína e mito na França, onde defendeu o Lyon de 2001 a 2009, Juninho Pernambucano se emocionou ao falar do Sport, clube que o revelou para o futebol profissional.

— Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Sport (neste momento Juninho, emocionado, interrompe a entrevista e chora). Foi lá onde tudo começou (para de novo, interrompido pelo choro). Joguei pouco tempo no profissional lá no Sport. Vim para o Vasco, eles nunca entenderam minha preferência pelo Vasco. Eu entendo, e agradeço ao Sport. Foi aqui no Vasco onde terminei minha formação como jogador, onde aprendi tudo — disse o jogador, avaliando sua passagem pelo futebol francês. — Meu melhor momento individual como jogador foi no Lyon. Foi lá onde eu joguei sempre em altíssimo nível.

O Globo

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Religião

Evangélica se emociona com gesto do papa Francisco

13203540O papa Francisco parou por alguns instantes o papamóvel na esquina das ruas Araújo Porto Alegre com México, no final da tarde desta segunda-feira, para beijar e abraçar uma menina de um ano e oito meses.

Seguranças ajudaram a levar a criança até o pontífice. “Fiquei muito emocionada. A gente está tremendo até agora”, disse chorando a mãe da menina Izadora, Thaís Ramos, 26.

A cabeleireira é evangélica e disse ser grata pelo gesto, mas garante que não vai mudar de religião.

Peregrinos que acompanhavam a passagem do papa, quiseram tocar e fotografar a criança para guardar de recordação.

“Esse gesto dele simboliza a renovação da igreja. Valeu muito a pena esperar para ver essa cena linda”, afirmou Maria Ilza Guedes, 46, previdenciária.

O pontífice esteve bem próximo aos peregrinos no percurso de sua chegada ao Rio de Janeiro. Usou um carro comum para fazer boa parte do trajeto e permaneceu com o vidro aberto.

Os seguranças tiveram trabalho para conter o assédio dos peregrinos, que se aglomeraram diversas vezes, em especial, na parte em que o carro com o pontífice ficou bloqueado em meio a uma fila de ônibus.

Ao menos outras duas crianças também receberam um beijo do papa ao longo do trajeto, que terminou na sede do governo do Rio, com uma bênção ao povo brasileiro.

“Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro e sua própria casa. E também os jovens botam fé em cristo”, afirmou o pontífice, em discurso.

Folha

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Política

Depoimentos hoje na CEI dos Contratos promete emoções fortes

A agenda da CEI dos Contratos de hoje promete muitas emoções, confiram a agenda:

Denise da Mata Oliveira Prado – Presidente da Comissão de Licitação da Secretaria Municipal de Educação

Ana Tânia Sampaio – ex-secretária de Saúde

Ronaldo Luís Lima de Sousa – empresário diretor da Impele (proprietária do prédio Ducal)

Evaldo de Lima Rebouças – coordenador de Administração da Secretaria de Educação

Carlos Frederico de Carvalho – diretor da A Azevedo (propreitária do prédio do Novotel)

Bruno Macedo Dantas – Procurador Geral do Município

Elias Nunes – ex-secretário municipal de Educação

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