Televisão

“Ficção alucinada”, diz Pedro Bial sobre história narrada por Petra Costa em “Democracia em Vertigem”

FOTO: REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Pedro Bial comentou, em entrevista à Rádio Gaúcha, o documentário “Democracia em Vertigem”, peça de propaganda petista dirigida por Petra Costa que disputará o Oscar no próximo domingo.

O jornalista disse que Petra é uma “ótima cineasta”, mas acabou transformando o documentário em uma “ficção alucinada”.

“Você cria uma relação de causa-consequência entre coisas que não tem a menor relação causal. O filme é todo assim”, criticou. “Vai contando as coisas, me desculpem a expressão, num pé com bunda danado.”

Bial disse mais:

“É uma menina querendo dizer para a mamãe dela que ela fez tudo direitinho, que ela está ali cumprindo as ordens de mamãe, a inspiração de mamãe. ‘Somos da esquerda, somos bons. Nós não fizemos nada’.”

Com informações de Zero Hora e O Antagonista

Opinião dos leitores

  1. Quando um contratado de rede globo faz esse tipo de comentário, nem precisa desenhar, mais evidente impossível.
    Não basta toda corrupção e desgraça que vem sendo provada em uma centena de processos criminais contra políticos da esquerda, eles querem mudar a história, contar versões invertendo a realidade, inocentando quem tem toda culpa, chamando de inocente corruptos de alta periculosidade.

  2. Para um comentário feito por um especialista em Big Bosta da Rede Esgoto, não há o que se comentar.

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Política

Indicação de ‘Democracia em vertigem’ ao Oscar polariza redes sociais: ‘ficção e fantasia’, publicou PSDB

Foto: Divulgação

A indicação do filme “Democracia em vertigem” da diretora Petra Costa ao Oscar de melhor documentário, nesta segunda-feira, polarizou as redes sociais. Perfis de direita ironizaram a nomeação do longa que traça um panorama das condições políticas que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff a partir do olhar pessoal de Petra. Já perfis mais alinhados ao campo da esquerda comemoram a indicação.

O perfil oficial do PSDB no Twitter ironizou a conquista da cineasta brasileira: “Parabéns à diretora Petra Costa pela indicação de melhor ficção e fantasia por Democracia em Vertigem”.

Já a conta do ex-presidente Lula comemorou a presença de “Democracia em vertigem” na premiação mais importante da indústria cinematográfica do mundo: “Viva o cinema nacional! A verdade vencerá”, postou.

Parabéns, @petracostal, pela seriedade com que narrou esse importante período de nossa história. Viva o cinema nacional! A verdade vencerá.

Diretor de cinema e apoiador do presidente Jair Bolsonaro, Josias Teófilo enxergou a escolha como uma mensagem política: “‘Democracia em Vertigem’ vai ganhar o Oscar de documentário. Essa será a mensagem da Academia para Bolsonaro, assim como foi o prêmio de Cannes para Bacurau”.

Anota aí: Democracia em Vertigem vai ganhar o Oscar de documentário. Essa será a mensagem da academia para Bolsonaro, assim como foi o prêmio de Cannes para Bacurau.

Por outro lado, o diretor Kleber Mendonça Filho celebrou a projeção que o longa ganhará com a nomeação, e defendeu o ponto de vista apresentado pela diretora na produção. “A História cínica do Brasil recente para o mundo inteiro ver, em detalhes”, escreveu.

A História cínica do Brasil recente para o mundo inteiro ver, em detalhes. Dilma e Lula no Dolby Theater com Petra? Democracia em Vertigem é uma lapada de verdade no Golpe. Parabéns Petra e equipe!

A página oficial do Movimento Brasil Livre (MBL), postou uma mensagem dizendo que o filme é “uma farsa gigantesca que ignora milhões de brasileiros que foram às ruas contra o maior escândalo de corrupção da história”.

Democracia em Vertigem, uma farsa gigantesca que ignora milhões de brasileiros que foram às ruas contra o maior escândalo de corrupção da história, acaba de ser indicado ao Oscar.

Já o perfil do PT defendeu que o longa mostra os “bastidores do golpe contra a presidenta” Dilma Rousseff assim como “a prisão arbitrária” de Lula.

Filme de Petra Costa mostra os bastidores do golpe contra a presidenta @dilmabr, assim como a prisão arbitrária de @LulaOficial e a ascensão de Jair Bolsonaro.

Ao GLOBO, o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, afirmou que “se fosse na categoria FICÇÃO, estaria correta a indicação”. Segundo Alvim, a nomeação “só mostra como a guerra cultural está sendo travada não só aqui, mas em âmbito internacional”.

O filme de Petra Costa concorre com “Indústria americana” (EUA), que é produzido pelo casal Obama, “For sama” (Reino Unido e Síria), “Honeyland” (Macedônia do Norte) e “The cave” (Tailândia e Irlanda). Todas as indicações da categoria são definidas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood — diferentemente de Melhor Filme Internacional, por exemplo, que têm obras sugeridas pelos países (o Brasil havia indicado “A vida invisível”, que ficou fora da pré-lista).

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. Eu tenho vergonha dessa farsa ser indicada! Isso demonstra uma bancada totalmente esquerdista! Como podem terem alegria quando a maior rede de corrupção já vista no País é ignorada! Ridículo! Patético esse documentário! Como existem pessoas com deficiência de caráter no Brasil e no Mundo! É lamentável!

  2. Impeachment foi pouco para quem tanto mal fez ao Brasil, destruindo a economia. Prisão seria bem mais justo.

  3. Interessante: Não lembro de ter lido algo sobre indicação a algum prêmio do documentário 1964 – "O Brasil entre armas e livro". Será que o conteúdo não é compatível…

  4. PSDB saiu do sarcófago para criticar o documentário, mas infelizmente (para eles), não podem, a exemplo do que fizeram no Brasil, impor à imprensa dos EUA uma narrativa fantasiosa para justificar um golpe. Acharam que iam ferir de morte a democracia e a história não iria se impor, como sempre acontece. Canalhas vão ficar nus perante o mundo.

  5. LULA SEMPRE MELHOR PRESIDENTE DO BRASIL….CHORA BOLSOTRALHAS….MARGINAIS E MILICIANOS

  6. Minions queriam que o documentário sobre o Astrólogo de Carvalho fosse relevante ? A narrativa que vocês querem construir é totalmente falsa.

    1. Comemorar uma mentira, tá de brincadeira.
      Essa história jamais seria um documentário, totalmente desvirtuada, se fosse real sobre o que aconteceu o gênero correto seria policial.
      Policia e bandidos com Sérgio Moro como protagonista. O enrredo correto seria sobre um partido que se apoderou do Brasil e implantou corrupção generalizada.
      Uma vergonha essa película bancada por alguém ligada a Andrade Gutierrez.
      Isso sim é a maior prova de feike News.

  7. Pode chamar de ficção, de comédia, do que quiserem. A verdade é que Democracia em Vertigem concorre ao Oscar na categoria DOCUMENTÁRIO. E não importa o resultado. É a PRIMEIRA vez que o país é indicado na categoria com um documentário totalmente brasileiro. Engulam nossa alegria.

    1. Nossa alegria?? eu tenho vergonha dessa farsa ser indicada! Isso demonstra uma bancada totalmente esquerdista! Como podem terem alegria quando a maior rede de corrupção já vista no País é ignorada! Ridículo! Patético esse documentário!

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Diversos

Oscar 2020: Democracia em Vertigem é indicado a melhor documentário

Foto: Reprodução/Netflix

Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa e distribuído pela Netflix, foi indicado ao Oscar 2020 de melhor documentário. O filme concorre com American Factory, The Cave, For Sama e Honeyland.

Em Democracia em Vertigem, Costa faz um retrato do processo que tirou Dilma da presidência do Brasil, em 2016, a partir de um ponto de vista pessoal, misturando sua história familiar com a trajetória política do país. A história começa a ser contada a partir do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, analisando a crise política no Brasil.

O filme teve estreia no Festival de Sundance, em janeiro de 2019, e chamou atenção da crítica e imprensa especializada pelo circuito de festivais nos quais foi exibido. O documentário já vinha surgindo como nome forte nas premiações. Ele foi indicado ao Critics’ Choice Documentary Awards, ao Gotham Awards e ao IDA Documentary Awards.

No agregador de críticas Rotten Tomatoes, Democracia em Vertigem tem 96% de aprovação entre os críticos mais influentes.

UOL

Opinião dos leitores

  1. Alegria de perdedor nas urnas é apostar em tudo, inclusive na vitória de um filme. Será que se o PT prestasse o povo não teria eleito Haddad ou qualquer outro integrante da quadrilha? Essa indicação é somente para dá um consolo aos vermelhinhos que nunca mais retornarão ao poder.

  2. Esse filme não tem nada haver, até o titulo tá errado o correto seria ''o dia que uma quadrilha se apoderou do Brasil e a corrupção deitou e rolou''.
    Na realidade não é um documentario trata-se de um filme entre polia e bandidos. Tudo distorcido.

  3. Parabéns a diretora Petra que retratou fielmente o Golpe de 2016, com direito a aparições de Aécio e do Bozo, para aumentar o sentimento de asco por estes políticos da parte de quem assiste!

  4. Excelente documentário, conta como o Brasil caiu neste buraco e divisão de ódio político, vale a pena assistir e a reflexão. Só em ser indicado ao Oscar é uma vitória e reconhecimento, parabéns ao Brasil pela representação.

  5. Qual seria a boa ou admissível democracia?
    A que o PT e a oposição inquisitória entende seria a usada na “democracia” venezuelana, a “democracia” usada em Cuba, a “democracia” onde tudo deve ocorrer de acordo com a ordem de 01 líder e a vontade de 01 partido. Qual o nome dessa “democracia”?
    Escolheram uma imagem rara onde os manifestantes, devidamente pagos, dos partidos vermelhos estão em maior quantidade que os patriotas de verde e amarelo.
    O que seria democracia:
    Aparelhar o estado?
    Se apoderar dos cargos?
    Usar a corrupção como forma de governo?
    Cooptar aliados através da distribuição de recursos públicos? Esses métodos estão de acordo com o conceito de democracia? Quem faz isso é democrata onde?
    Que tal colocar a imagem das manifestações a partir de 2014 na avenida paulista?
    A democracia real, não a ideológica, deu seu veredicto no resultado das urnas em 2018, o resto é imposição distorcida em discurso reacionário e ilusório da esquerda que ama, apenas, o poder e usa o povo mais humilde para forma sua massa de voto.

    1. Assista ao filme para dar opinião amigo, você está dando sua opinião sobre o tema do filme sem conhecer o seu conteúdo. A imagem certamente foi escolhida como cartaz do filme pois foi um momento em que foi possível enxergar a polarização do país, dois lados em frente ao planalto divididos por um muro.
      Como gostam de falar, enquanto um lado fica com "mimimi" no twitter o outro produz um documentário ao nível de Oscar.

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Diversos

Diretora de Democracia em Vertigem retira armas de foto histórica e abre discussão sobre alteração de imagens em documentários

INTERVENÇÃO DE PAULA CARDOSO SOBRE FOTO QUE CONSTA DO LAUDO DO INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA, USADA EM DEMOCRACIA EM VERTIGEM

Dois objetos foram retirados de uma fotografia que aparece aos seis minutos e sete segundos no documentário Democracia em Vertigem, dirigido e narrado por Petra Costa. É uma fotografia em preto e branco onde há dois homens mortos. A imagem permanece quatro segundos na tela. A cineasta identifica um dos mortos: “o mentor dos meus pais: Pedro Pomar.” Petra explica então que seu nome é uma homenagem feita por seus pais a Pedro. No retrato, o jornalista Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar, 63 anos, está de barriga para cima, óculos de grau no rosto, descalço e com o corpo coberto de sangue. Tombado aos pés dele, de bruços, está Ângelo Arroyo, de 48 anos. Ambos foram destacados dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e atuavam na clandestinidade contra a ditadura militar. Foram executados na manhã do dia 16 de dezembro de 1976 pelas forças militares-policiais, sob o comando do Segundo Exército, numa casa térrea na rua Pio XI, número 767, no bairro da Lapa, em São Paulo. O episódio ficou conhecido como a Chacina da Lapa.

Democracia em Vertigem reconta os acontecimentos que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Petra Costa recorre a imagens atuais e de acervos históricos. Na foto da Chacina da Lapa usada no filme, os objetos ausentes são um revólver Taurus, calibre 38, e uma carabina Winchester, calibre 44. As armas constam, porém, em uma fotografia anexada a um dos laudos da morte de Pedro Pomar, datado de 27 de dezembro de 1976 e arquivado no Instituto de Criminalística de São Paulo. É uma fotografia idêntica àquela usada no filme – o mesmo ângulo, o mesmo cenário de sangue, pólvora e corpos tombados. O revólver está do lado direito do corpo de Pomar, e a carabina, embaixo da mão direita de Arroyo. Poderiam ser duas fotografias diferentes? Por que uma tinha armas e a outra não? Procurada pela piauí, Costa esclareceu o que houve.

A foto do filme é a mesma do laudo. Por e-mail, a documentarista confirmou que as armas foram digitalmente retiradas da fotografia usada. Ela explica: “Há uma razão para isso, e eu estava esperando que alguém do público notasse. Como afirmei no documentário, Pedro era o mentor político da minha mãe, e foi amplamente reconhecido que a polícia plantou armas ao redor dos corpos dos ativistas assassinados, como uma desculpa para seus assassinatos brutais”, escreveu Costa.

Foto da morte dos militantes usada em Democracia em Vertigem, sem as armas (Reprodução da Netflix)

Foto da cena da morte dos militantes, inserida no laudo que consta no Instituto de Criminalística de São Paulo

A diretora continuou: “Há um debate significativo sobre a veracidade das armas nesta cena, com muitos comentários. E até a própria Comissão da Verdade trouxe evidências para as alegações de que a polícia plantou as armas após a morte de Pedro, e por isso optei por remover esse elemento e homenagear a Pedro com uma imagem mais próxima à provável ‘verdade’.”

Há, de fato, documentos públicos, livros e artigos que apontam a manipulação da cena do crime pelas forças militares. Um deles é o relatório da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, criada no governo Fernando Henrique Cardoso para reconhecer mortes e desaparecimentos, e indenizar familiares de vítimas da ditadura militar. Nele, há o relato de Maria Trindade, ocupante da casa na Lapa e única sobrevivente do massacre. Ela afirmou que Pomar não havia caído na posição em que se encontra na fotografia, tampouco estava de óculos no momento em que fora alvejado. O repórter Nelson Veiga, da tevê Bandeirantes, foi o primeiro jornalista a chegar ao local e entrar na casa, logo após a chacina. À Folha de S.Paulo, dez anos depois do massacre, Veiga afirmou que, quando entrou na residência, não havia armas perto dos corpos de Pomar e Arroyo. “Pela disparidade de forças, aconteceu ali uma matança”, disse o repórter.

O procurador da República Andrey Borges de Mendonça, do Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP), denunciou à Justiça, em 2016, os médicos-legistas Harry Shibata, Abeylard de Queiroz Orsini e José Gonçalves Dias por falsidade ideológica. Os três, segundo a denúncia, agiram sob ordem do delegado Sérgio Paranhos Fleury, chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo, acusado de torturas, para registrar nos laudos que as mortes de Pomar e Arroyo ocorreram após confronto armado entre eles e os militares. Um outro laudo, do médico Antenor Chicarino, constatou que “diversas lesões existentes na vítima foram omitidas no laudo. Dentre outras, foi omitida a menção a lesões típicas compatíveis com ‘zona de tatuagem’ – lesões que indicam proximidade do disparo – assim como ferimento perfuro contuso em região temporal anterior, possivelmente correspondente a tiro de execução”, diz a denúncia do MPF de São Paulo.

As investigações dos órgãos de repressão sobre as atividades clandestinas do grupo do PCdoB vinham acontecendo desde três meses antes da chacina. A movimentação na casa da Lapa era monitorada de perto havia pelo menos dez dias antes do crime. Na noite do dia 15 de dezembro, agentes do DOI-Codi se posicionaram perto da casa. Já sabiam que haveria uma reunião dos comunistas naquela noite. Manoel Jover Telles, que era integrante do grupo, tinha sido preso dias antes e foi acusado de ter delatado a reunião. Era comum nesses encontros que os integrantes saíssem em pares, com intervalos de duas horas entre cada saída para não levantar suspeitas. Vários deles, ao deixarem a casa, foram perseguidos e presos, inclusive Wladimir Pomar, filho de Pedro.

Pela manhã, por volta das 7h, os agentes da repressão abriram fogo contra a casa. Quarenta agentes se dividiram e entraram pela frente e pelos fundos. Foram cerca de vinte minutos de tiros e pânico na vizinhança. O corpo de Pomar foi levado para o Instituto Médico Legal, no Jardim Paulista. Depois foi enterrado com um nome falso no cemitério de Perus. “Com o intuito de dificultar sua exumação e, assim, a apuração da fraude”, diz a denúncia do MPF. Em 1980, a família de Pomar descobriu o paradeiro dos restos mortais e fez o translado para o Pará, terra natal do jornalista.

Essa é a história que documentos públicos contam sobre a fotografia do corpo morto de Pedro Pomar. Os indícios evidentes de que a cena do crime foi forjada pelos militares, colocando as armas perto dos militantes mortos, levaram Costa a apagá-las da fotografia usada em seu filme. Sobre a decisão, a documentarista argumentou: “Eu admiro profundamente o trabalho de cineastas como Werner Herzog e Joshua Oppenheimer em sua busca pela verdade extática de uma história. Neste caso, afirmo que a imagem da morte de Pedro foi marcada por essas armas colocadas ao redor do seu corpo após sua morte. E senti uma oportunidade para corrigir um erro percebido por muitos.”

Herzog tratou da verdade extática numa conferência realizada na Itália em 1992, depois da exibição de Lições da Escuridão, documentário no qual explora os incêndios nos campos de petróleo no Kuwait após a Guerra do Golfo. Na abertura de Lições da Escuridão há uma frase – “O colapso do universo estelar ocorrerá – como a criação – em um esplendor grandioso” – atribuída pelo cineasta, no filme, ao filósofo Blaise Pascal. Na conferência, Herzog disse que a frase não era de Pascal, mas sua, e explicou por que decidiu usá-la: “Utilizando tal citação como prefácio, suspendo o espectador, antes mesmo que este tenha visto o primeiro frame, a um nível elevado, de onde ele poderá entrar no filme. E eu, o autor do filme, não permitirei que ele desça até que este termine. É apenas nesse estado de sublimidade que algo mais profundo se torna possível, um tipo de verdade que é inimiga do meramente factual. Eu a chamo de verdade extática.”

A decisão de Costa reabre a discussão sobre manipulação de imagens históricas em documentários – tão longeva quanto a própria história desse gênero e debatida desde Nanook, o Esquimó (1922), dirigido por Robert Flaherty e considerado a pedra fundamental do cinema de documentário.

O jornalista Pedro Estevam da Rocha Pomar, neto do dirigente comunista e autor de uma coleção de livros chamados Massacre na Lapa, sobre o ataque em 1976, disse não ter reparado na ausência das armas na foto quando assistiu ao filme pela primeira vez. E acrescentou que não concorda com a retirada: “Tenho certeza de que ela fez isso com as melhores intenções, de boa-fé. Ainda assim, acho um erro. Não há porquê. Devia ter mantido a foto como ela é. A própria foto original já tinha uma adulteração da cena do crime. Eu vi lá o corpo do meu avô e do Ângelo Arroyo, mas não percebi essa mudança. Era melhor ter mostrado a foto e contado o seu contexto.”

Eduardo Escorel, montador de documentários como Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, e diretor de Imagens do Estado Novo – 1937-45, trabalhou por quatro meses como consultor de montagem de Democracia em Vertigem em 2017. O documentarista e crítico de cinema do site da piauí não soube da alteração da imagem até a estreia do longa. A alteração da fotografia também não é mencionada no filme, que está em cartaz no catálogo da Netflix em 150 países.

“Há documentaristas que encenam, inventam, fazem referências inexistentes, ou atribuem aos personagens coisas que eles nunca fizeram. Existe uma tendência do cinema de desenvolver uma área comum entre a ficção e o documentário. Isso não quer dizer que não persista uma diferença. Mesmo quando o documentário trabalha com elementos ficcionais, de recriações, e mesmo neste caso, o espectador precisa estar advertido sobre o que está vendo. Adulterar uma imagem qualquer e fazer essa imagem passar por algo que ela não é, acho um procedimento equivocado”, diz Escorel.

Na opinião dele, um procedimento possível seria dedicar mais tempo a essa foto e relatar sua história. Outro, mais difícil, seria colocar uma nota ou uma legenda no fim do filme, dizer que a foto foi alterada e por qual motivo. “O compromisso ético do documentarista é com o espectador. E iludir o espectador, ao meu ver, não é próprio do documentário”, afirma Escorel. Para ele, houve uma aposta arriscada de tentar recriar uma situação que só pode ser imaginada. “O registro documental que existe é o registro com as armas. A aposta foi baseada em informações outras, nas quais a cineasta confiou, de que houve uma encenação da foto original. Se a foto original é uma encenação, a documentarista, exercendo uma onipotência, digna de quem faz cinema, decide não mostrar o conteúdo documental da foto. Essa decisão, num documentário ou não, pode ser considerada legítima desde que o espectador esteja informado sobre o que está vendo.”

Andrea França Martins, professora de teoria crítica do curso de cinema da PUC-Rio e autora do livro Terras e Fronteiras: no Cinema Político Contemporâneo, diz que havia outras soluções: “O documento histórico, que continha as armas, creio que valeria que fosse explicitado pelo filme – seja na narração ou usando as duas fotografias – a do arquivo e a outra, na qual ela interveio”. Patrícia Machado, professora de montagem na PUC-Rio e coorganizadora do livro Arquivos em Movimento: Seminário Internacional de Documentário de Arquivo, avalia que a possibilidade de alterar uma imagem depende do contexto em que se apresenta e que, no caso de Democracia em Vertigem, o prejuízo é o esvaziamento da memória histórica contida na imagem. “O filme não está no campo da fabulação, do cinema experimental. No contexto em que a fotografia aparece, ela está fazendo uma espécie de elaboração de memória a partir de imagens históricas. Quando a Petra forja essas imagens e não abre isso para o público, está omitindo uma informação importante para o espectador”.

Pesquisador e conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Hernani Heffner diz que não há regra para julgar a decisão de Costa. “Regra? Em arte não tem regra. É a obra que formula suas próprias regras. Posso não concordar com a decisão, alterar uma imagem histórica implica uma série de questões éticas. Como pesquisador, prefiro respeitá-las. Mas cabe à diretora essa decisão artística. Não estamos falando de uma ciência histórica, mas de arte. Não há uma regra na hora de tomar uma decisão artística, mas ao tomá-la, é preciso também encarar o debate social que ela suscita.”

REVISTA PIAUÍ – FOLHA DE SÃO PAULO

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