Polícia

PF vê consequências ‘fatais’ na fraude em curso de Medicina em SP

Pixabay

Para deflagrar a Operação Vagatomia na última terça-feira (3), a Polícia Federal de Jales, no interior de São Paulo, submeteu à Justiça Federal um relatório de 599 páginas apontando o suposto envolvimento de mais de trinta investigados na venda de vagas do curso de medicina da Universidade Brasil, sediada no município de Fernandópolis.

Ao solicitar judicialmente ordens de prisão e de busca e apreensão, a PF indicou que haveria um “balcão de negócio de vagas ocorrendo sem nenhum tipo de receio”.

O esquema contava com fraudes no ingresso de alunos no curso de Medicina da instituição, na obtenção do Fies (Financiamento Estudantil do Governo Federal) e de bolsas do ProUni (Programa Universidade para Todos) e na venda irregular de vagas de transferência para os cursos de complementação do exame Revalida – para revalidação de diploma.

Segundo a PF, somente as fraudes no Fies causaram prejuízo estimado de R$ 500 milhões aos cofres públicos.

A deflagração da operação se deu a mando do juiz federal Bruno Valetim Barbosa. O magistrado entendeu que havia “inúmeros” indícios de cometimento de crimes e reiteração criminosa. Ele decretou a prisão de 22 investigados, inclusive do empresário José Fernando Pinto da Costa, dono da Universidade Brasil.

A decisão anota que a representação policial destaca a gravidade dos crimes atribuídos ao grupo e indica as consequências para os futuros pacientes dos alunos que compraram as vagas, “que evidentemente não têm condições intelectuais e profissionais de atuar como médicos”. “São assustadoras e podem ser fatais.”

De acordo com a Procuradoria, as vagas eram negociadas pelo grupo por valores entre R$ 80 mil a R$ 120 mil. A representação policial cita ainda suposta participação de José Fernando Pinto da Costa em uma negociação de três vagas por R$ 600 mil.

Na decisão, o magistrado considerou: “a sociedade brasileira está a pagar indevidamente pelo estudo de profissionais que se formarão sem os conhecimentos técnicos para atendê-la com qualidade. Enquanto isso, alunos, pais, e a suposta organização criminosa se beneficiam, os dois primeiros, por obterem um diploma de médico ou um financiamento público sem merecer, a última, na venda das vagas e dos financiamentos”.

Além das ordens de prisão e de busca e apreensão, a Justiça Federal determinou o bloqueio de até R$ 250 milhões em bens e valores dos investigados. Entre os bens que seriam sequestrados, a decisão lista 50 carros, cinco embarcações e três aeronaves. Segundo a PF, a entrega de veículos era uma das formas de pagamento pelas vagas.

Quando a operação foi deflagrada, a Polícia Federal indicou que entre os estudantes que compraram suas vagas e financiamentos estão filhos de fazendeiros, servidores públicos, políticos, empresários e amigos dos donos da universidade. Dois vereadores de cidades do interior paulista são citados pela PF na representação à Justiça.

Segundo a representação, o dono da universidade teria determinado a um homem, “possivelmente professor”, que aprovasse um aluno que é vereador em Birigui.

Em outro momento, a Polícia indicou que um parlamentar de Fernandópolis buscou “bolsa” para o filho, o que, segundo os investigadores, se tratava da concessão de um Fies fraudulento, “pago indevidamente com dinheiro público em favor do filho de um político”.

Segundo a PF, a investigação teve início com base em uma notícia crime apresentada por uma pessoa cujo parente havia sido contatado para que comprasse uma vaga no esquema.

Alguns alunos também relataram o excesso de vagas no campus ao Ministério Público Federal. As estimativas das investigações indicam que pelo menos 500 alunos do curso de Medicina da Universidade Brasil de Fernandópolis tenham obtido o Fies fraudulentamente com a atuação de assessorias educacionais nos últimos três anos.

Segundo a PF, os mesmos alunos ainda deveriam receber pelo menos outros três anos de parcelas do financiamento.

A representação policial registra ainda ameaças proferidas pelo dono da universidade aos alunos que fizeram as denúncias, além de tentativas de influenciar e intimidar autoridades, destruição e ocultação de provas.

Em um diálogo interceptado pela PF, um empresário, apontado como um dos principais integrantes de uma assessoria educacional envolvida no esquema, classifica José Fernando como “gangster” e “quadrilheiro” e aborda medidas que o então reitor da universidade tomaria em relação às alunas que fizeram a denúncia de excesso de alunos ao Ministério Público Federal – expulsão, fechamento do Centro Acadêmico, entre elas

Defesas

“A Universidade Brasil vem a público para informar a alunos, docentes e funcionários, bem como a toda a comunidade universitária nacional e à população em geral, que suas atividades acadêmicas e administrativas seguirão as rotinas ordinariamente, a despeito dos recentes fatos ocorridos. Solicitações gerais, atendimento aos alunos, bem como o funcionamento de cursos, com aulas regularmente ministradas, continuarão a ocorrer dentro da normalidade em todos os campi”.

“A instituição de ensino esclarece também que está integralmente à disposição da Polícia Federal, assim como às demais autoridades em todas as esferas, para colaborar com quaisquer investigações e também para prestar todos os esclarecimentos que se façam necessários.”

O Ministério da Educação emitiu nota. “Em casos de indícios de irregularidades, o MEC irá instaurar processo administrativo para a responsabilização dos envolvidos. Caso as irregularidades sejam comprovadas, serão aplicadas as penalidades previstas em Lei. O MEC também se coloca à disposição da Polícia Federal e do Ministério Público Federal para colaborar com a investigação.”

A reportagem tenta contato com os investigados pela operação Vagatomia. O espaço está aberto para as manifestações.

Estadão

 

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Educação

UNP divulga nota de esclarecimento sobre recentes notícias divulgadas sobre o curso de Medicina

NOTA

Sobre as recentes notícias divulgadas a respeito do curso de Medicina, a UnP esclarece que, em cada ciclo letivo, movimentações no quadro de professores acontecem a partir de um diagnóstico aprofundado composto por inúmeros fatores, como o calendário acadêmico. Este processo natural e específico do segmento de educação, que engloba a gestão de docentes no que tange a contratações, promoções, realocações e desligamentos, é realizado de acordo com as necessidades da graduação e, também, para acompanhar o cenário atual brasileiro.

A UnP mantém o compromisso em dialogar com a sua comunidade acadêmica sempre priorizando a discrição e o cuidado que demandam cada temática, levando em consideração as estratégias, os planejamentos, as ações e os processos internos. A matriz curricular foi redesenhada analisando necessidades atuais de mercado, cursos de universidades renomadas no Brasil e no exterior e sempre atendendo às diretrizes do Ministério da Educação. No processo de comunicação à escola de medicina, reuniões foram realizadas para a apresentação do novo currículo do curso, com momentos de esclarecimento de dúvidas de alunos e abertura de canal para a participação dos professores. Esses encontros ocorreram durante o recesso de julho, mas não devem se encerrar. Momentos de avaliação sobre a implantação do novo currículo devem ocorrer regularmente, com os docentes do curso, para assegurarmos que continuemos entregando à sociedade médicos de excelência.

No que diz respeito ao fim do convênio do Hospital Infantil Varela Santiago, a UnP reforça que esta decisão ocorreu de forma unilateral por parte da direção do HIVS, não tendo sido a instituição comunicada previamente e sem a possibilidade de uma negociação. Diante disso, a Universidade buscou e já consolidou novos campos de rotação clínica e garante que não haverá prejuízos acadêmicos ao estudante.

Por fim, sobre a infraestrutura, a instituição esclarece que efetua manutenção contínua dos laboratórios e dos simuladores, em razão disso está sendo concluído um estudo dos equipamentos para a atualização e eventual troca de possíveis peças que não estejam funcionando adequadamente.

A UnP é sensível ao desconforto que pode ser ocasionado por alterações na operação de um curso tradicional e conceituado como de Medicina, mas esse movimento faz parte do processo de desenvolvimento de uma nova geração de médicos, que fazem uso de ferramentas tecnológicas e trabalham ainda mais focados na relação com os pacientes, bem como na saúde de família.

Opinião dos leitores

  1. A concorrência descendo o pau na unp (nos comentários) porque é a instituição de ensino superior privado com mais alunos no RN, nas outras a situação é pior, só não é tão falada pq não são tão importantes economicamente e por terem poucos alunos, a menos ruim é a UFRN, e só por ser "gratuita".

  2. É o efeito bozo! Gente, as universidades federais recebem subsídios do ProUni! Tenho familiares com bolsas integrais, inclusive em medicina veterinária! É daí pra pior! Agora vira para o bolsominion aí do teu lado e diz assim: É bom jair se acostumando! Faz arminha miserávi pá pá pá pá pá pá pá ???

  3. Infelizmente a UNP vem passando pela pior gestão de todos os tempos nos últimos 3 anos. É uma pena vermos em decadência essa tão renomada instituição Potiguar que nos enchia de orgulho por ter sido reconhecida como uma das melhores Universidades do país. Uma gestão que demonstra claramente sua incompetência a cada atitude tomada inconsequentemente, principalmente no que diz respeito às demissões em massa do seu quadro de funcionários de alto escalão, tanto administrativo quanto acadêmico. Demitiram os melhores profissionais, aqueles que realmente tinham a competência de levar o negócio adiante, com argumento de que precisavam reduzir os custos. Pois é, o “barato ta saindo muito mais caro” e o que não entendemos é como uma empresa de capital estrangeiro deixa uma gestão como essa destruindo décadas de sucesso. A postura da Universidade Potiguar é um desrespeito não somente aos profissionais que dedicaram sua vida a empresa, mas também com todos os alunos que confiaram seu futuro à instituição.

  4. Acho que vai fechar logo logo…Aíh vai ficar Aluno sem professor e professor sem aluno…E os problemas estarão resolvidos…

  5. Laureate está indo embora do Brasil. Estão adequando o curso para não vender a UnP tão barato quanto os compradores estão precificando.
    Acaba de sair o 'balancete' quadrimestral(lá é em quadrimestres), ontem 8 de agosto, direto dos USA. Veja um detalhe e o link para o todo: "Marcelo Santos — J.P. Morgan — Analyst
    Hi. Good morning. Thanks for taking my question. Just wanted to explore a little bit more the EBITDA decline that we saw in Brazil, in the first half of the year.
    We're talking here about more or less a 40% decline versus the previous year."
    pois é: 40% de queda em relação ao ano anterior. Ebidta facil saber, basta colocar no google ou no bing. LINK: https://finance.yahoo.com/news/laureate-education-inc-laur-q2-032412203.html . Resultado: compraram 150 milhões de dolares em ações para evitar uma queda ainda maior no preço da ação. Investidores estão exigindo o retorno do capital e tá dificil mesmo com muitas vendas. Por ex: esses 150 mi foram tirados de uma venda da Laureate no Panamá. São já 50 o numero de instituições vendidas ou devolvidas pela Laureate nos ultimos tempos.

  6. Primeiro pronunciamento que vejo da faculdade, não esclareceram absolutamente nada sobre a mudança de currículo, a forma com que demitem os nossos professores é absolutamente desrespeitosa, os laboratórios SÃO DEFASADOS, um curso que recebe nota 5 no MEC tem a necessidade de nudar de uma hora pra outra? Porque reitoria? Não vi nenhum diálogo conosco durante o período letivo, o que vi foi a gente ter prática reduzida en UBS, a gente chegar pra um semestre sem saber de absolutamente nada, a genter 2 mil horas de curso clrtadas, períodos iniciais não terem aula de anatomia, serem barrados em prática, turma de internato tendo mais aula teórica do que prática, esse comunicado não passa de uma tentativa muito esfarrapada de abafar um problema enorme.

    1. Leiam mais ALUNOS, vejam o risco que correm e pensem muito bem no que estão embarcados, sempre é tempo de mudar.
      Vejam esse cabeçalho de artigo que mostra muito bem o que pensam os gestores:
      Laureate Education CEO Doug Becker convinced international banks, billionaires, hedge fund leaders, and numerous politicians to invest in his high-risk adventure. Now they want a return.]

      https://www.linkedin.com/pulse/clinton-laureate-scandal-lots-smoke-gun-missing-dahn-shaulis/

  7. Só balela. Ano a ano tem piorado a educação na instituição, só vêem grana. As reclamações são todas engavetadas.

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Diversos

Cursos de Medicina poderão ter testes a cada dois anos

O relator da Medida Provisória dos Mais Médicos, deputado federal Rogério Carvalho (PT-SE), incluiu no relatório a ser analisado pelo Congresso Nacional a realização de teste obrigatório de progresso dos estudantes durante o curso de Medicina.

Pela proposta, o aluno seria submetido a uma avaliação a cada dois anos e, na especialização, faria outras duas provas para avaliar o “ganho de competência.” Carvalho afirmou que a medida foi incluída por sugestão da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) e de uma comissão de especialistas.

Essa medida, no entanto, já havia sido lançada pelo governo. Em outubro de 2012, a avaliação foi pivô de uma disputa pública entre os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Educação, Aloizio Mercadante. O ministro da Saúde anunciou a intenção da criação da avaliação, mas, poucas horas depois, foi desmentido, em nota, por Mercadante, que afirmou desconhecer a ideia.

Na defesa da proposta, Padilha argumentava que exames periódicos, feitos ao longo do curso, poderiam corrigir a tempo algumas distorções, algo que poderia trazer mais segurança aos estudantes. Atualmente, a avaliação é feita pela Lei do Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), por meio do Enade, uma prova nos 1.º e 6.º anos da graduação de Medicina. “A avaliação trará mais mecanismos para avaliar os cursos e corrigir problemas rapidamente, tão logo sejam identificados”, disse o relator.

Impor avaliação aos universitários já é prática defendida pelas associações e conselhos. O “teste de progresso” serviria, segundo a AMB (Associação Médica Brasileira), para avaliar não apenas o aluno, mas também escolas. O presidente Florentino Cardoso afirma:

— Apoiamos integralmente essa medida.

Atualmente não existe padrão nem entre as faculdades nem entre os conselhos de Medicina quando o tema é avaliação dos estudantes. Para ele, os testes deveriam ainda definir se os formandos podem ou não praticar a Medicina, como ocorre com os formandos em Direito – submetidos à prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Atualmente, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) é o único que obriga os formandos a se submeterem a uma prova no fim do curso. Quem boicota pode ter dificuldades para obter o registro.

Agência Estado

Opinião dos leitores

  1. Ainda que se arvorem como a elite do conhecimento universal, nossos médicos se mostram arredios a uma comprovação de suas competências. Um exame em SP reprovou tantos concluintes que se fosse obrigatório a aprovação para exercer a medicina estaríamos importando médicos da Malásia a essas horas.

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