Política

Ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica renuncia ao Senado e se aposenta da vida política ativa

De máscara, Pepe Mujica se despede após apresentar sua renúncia como senador Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP

O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica (2010-2015) renunciou ao cargo de senador, retirando-se da vida política ativa nesta terça-feira. O político da Frente Ampla de esquerda, eleito senador em 2014, já havia anunciado que renunciaria ao cargo no mês passado, por motivos de saúde.

Mujica, de 85 anos, se despediu do Congresso nesta terça, data que também marcou a renúncia de outro ex-presidente, Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000), de 84 anos, do Partido Colorado. Os adversários políticos decidiram abandonar o Senado em uma sessão conjunta, gesto classificado por outros parlamentares como um “reflexo da democracia”.

Aplaudido de pé, Mujica fez um emocionado agradecimento aos seus colegas e aos funcionários da Casa. Segundo ele, sua saída não “significa o abandono da política, mas sim o abandono da linha de frente”.

— No meu jardim, há décadas não cultivo o ódio. Aprendi uma dura lição que a vida me impôs. O ódio acaba deixando as pessoas estúpidas — disse o ex-presidente, que passou 13 anos preso durante a ditadura militar. — Passei por tudo nessa vida, fiquei seis meses atado por um arame, com as mãos nas costas, fiquei dois anos sem ser levado para tomar banho e tive que me banhar com um copo. Já passei por tudo, mas não tenho ódio de ninguém e quero dizer aos jovens que triunfar na vida não é ganhar, mas sim se levantar toda vez que cair.

Coronavírus

Em setembro, Mujica revelou que, devido a uma doença imunológica crônica, não poderá tomar uma vacina contra o coronavírus quando ela for disponibilizada. Agora, disse que atuará como um “conselheiro” para seus partidários.

— Vou porque a pandemia está me obrigando. Ser senador é falar com as pessoas e andar por todo lugar. Estou ameaçado por todos os lados: pela velhice e por minha doença crônica — afirmou ele.

Pouco antes da sessão, Mujica afirmou que a despedida conjunta com Sanguinetti ocorreu porque após conversarem e perceberem que estavam “na mesma esquina”. Segundo o ex-presidente de esquerda, a simbologia disso é importante para o Uruguai porque, “em outros países, eles [adversários políticos], sequer se cumprimentam”.

Sanguinetti, por sua vez, lembrou em uma carta de despedida que sua renúncia já estava prevista desde antes das eleições nacionais de 2019. A decisão, ele disse, foi tomada pela necessidade de atender a secretaria-geral do Partido Colorado e às suas atividades como jornalista e correspondente editorial.

Vida simples

Mujuca tem uma longa carreira política e de militante: durante a sua juventude, fez parte da guerrilha Tupamaros que lutava contra a ditadura militar no país, participação que lhe deixou preso de 1972 a 1985. Em 2018, quando renunciou ao Senado pela primeira vez, disse em uma carta estar “cansado da longa viagem” e que iria se “refugiar na aposentadoria”. Menos de um ano depois, no entanto, candidatou-se novamente e foi eleito.

No poder, acabou ficando conhecido mundialmente por sua postura e vida simples — até hoje, ele se locomove com um velho fusca azul — e por ter um governo mais progressista, com a descriminalização do aborto e da maconha, além da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O político também doou grande parte de seu salário na Presidência por considerar que no Uruguai “vivem muitas pessoas pobres”.

A despedida foi marcada por cumprimentos e palavras bondosas de outros senadores. Óscar Pepe, da Frente Ampla, disse que o “ideal de Pepe emociona” porque “dedicar a vida à política tem a ver com injustiças que te aflingem”:

— Viver é ter causas, viver é luta, e por isso o agradecimento de poder viver ao lado de companheiros como Mujica — afirmou.

Sanguinetti foi presidente durante a transição democrática uruguaia, quando foi eleito por voto popular em 1985, após 13 anos de ditadura. Em 1995, ganhou novamente as eleições. Há décadas, é uma das principais lideranças do Partido Colorado que, que em seus mais de 180 anos foi predominante em diferentes governos do país. Sua popularidade, no entanto, caiu após o governo de Jorge Batlle (2000-2005), que em 2002 enfrentou uma das maiores crises econômicas do Uruguai.

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. Manoel Mané Lusitano, tu ainda podes viver num paraíso, tipo cuba, Venezuela, Bolívia Coreia do norye, aqui tu vai sofrer, faltam seus para o redentor indica e seu substituto.

    1. Não misturar a postura de Sr. Mijuca , homem integro e querido , com a do tal de Lula, o homem que se afundou na lama, arrastando consigo a maior parcela de seus seguidores.

  2. Amigo, não sei em que sentido essa comparação, de uma coisa tenho impressão, música é menos ladrãoo e responsável.

  3. È a cara do luladrão, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  4. Grande Mujica!
    Sempre certeiro. Aqui no Brasil o ódio fez as pessoas votarem em uma pessoa totalmente desqualificada para presidente. O estrago será imenso.

    1. BG
      As pessoas retiraram uma quadrilha da pior especie do poder. Ladrões contumazes e ainda aparece um mané pra falar xinica.

    2. "paulo", não sei que espécie de coisa você é, pois escreveu seu próprio nome com letra minúscula. Talvez seja por isso que você é tão irracional!

    1. Sujou de ? a integridade moral de Mujica ! Assaltantes não podem ser incensados !!!

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Política

Representante da direita, Lacalle Pou é eleito novo presidente do Uruguai e tira grupo de Mujica do poder após 15 anos

Foto: Mariana Greif/Reuters

O senador do Partido Nacional, de centro-direita, Luis Lacalle Pou será o próximo presidente do Uruguai, depois que números apresentados pela contagem secundária realizada pela Corte Eleitoral do país indicaram sua vitória no segundo turno realizado no domingo (24). A posse será em 1º de março de 2020.

O vice-presidente da Corte Eleitoral, Wilfredo Penco, disse à agência Efe que o órgão “não faz cálculos” e que não proclamará o presidente “até que a última urna seja aberta”. Porém, como a diferença entre Lacalle Pou e o candidato da Frente Ampla, de esquerda, Daniel Martínez, vinha aumentando, ficou claro que este já não conseguiria reverter a derrota.

Após uma divulgação de novos dados da contagem de votos, Martínez reconheceu que, pelo andar da apuração, não tem chances de alcançar o oposicionista, parabenizando-o como presidente eleito do país vizinho.

Havia 35.229 votos ainda não contabilizados. Para que Lacalle Pou vencesse as eleições, era preciso obter 3.170 deles.

Seis dos departamentos (estados) enviaram seus números e, só nesses locais, ele já recebeu quase 5.000 votos.

Com a vitória de Lacalle Pou, pela primeira vez em 15 anos, a coalizão Frente Ampla, formada pelo ex-presidente José “Pepe” Mujica e pelo atual presidente Tabaré Vázquez, fica fora do poder.

“Meu reconhecimento e obrigado a todos os homens e mulheres que estão defendendo os votos e a democracia em cada mesa nos dias de hoje. Meu pensamento está com vocês”, escreveu o vencedor no Twitter pouco depois das 13h.

Advogado da elite uruguaia

Luis Lacalle Pou nasceu em Montevidéu em 11 de agosto de 1973 — mesmo ano do golpe militar que mergulhou o Uruguai em uma ditadura que durou 12 anos. Estudou em uma das melhores escolas da capital uruguaia e se formou advogado no fim da década de 1990.

Ainda estudante, Lacalle Pou tinha 16 anos quando viu o pai, Luis Alberto Lacalle, tornar-se presidente do Uruguai com o mesmo Partido Nacional para um mandato entre 1990 e 1995. Inclusive, aquela foi a última vez em que a agremiação elegeu um candidato para a Presidência.

O fim do mandato do pai, cercado de denúncias de corrupção, poderia ter colocado um fim nas pretensões políticas da família. Porém, o jovem advogado conseguiu se eleger deputado em 1999 e se descolar, aos poucos, da imagem de Luis Alberto Lacalle.

Doze anos mais tarde, Lacalle Pou ocupou a Presidência da Câmara dos Deputados e se tornou uma das vozes mais proeminentes da oposição ao governo de José “Pepe” Mujica, eleito senador neste ano.

Em 2014, Lacalle Pou se candidatou pela primeira vez à Presidência do Uruguai e conseguiu chegar ao segundo turno. Porém, perdeu para Tabaré Vázquez por uma diferença superior a 10% dos votos.

Como Lacalle Pou venceu?

Para vencer as eleições deste ano, Lacalle Pou apostou em um discurso de enxugamento de gastos — ele acusa os governos da Frente Ampla de perder o controle dos gastos públicos. Além disso, ele prometeu fortalecer as forças de segurança em um momento em que o Uruguai passa por aumento nos índices de criminalidade.

Lacalle Pou ficou atrás de Daniel Martínez no primeiro turno, mas costurou uma aliança com outros partidos e com os candidatos derrotados mais bem posicionados: o liberal Ernesto Talvi, do Partido Colorado, e o nacionalista Guido Manini Ríos, do Cabildo Abierto.

Assim, mesmo antes do primeiro turno, o presidente eleito já figurava à frente do candidato governista nas pesquisas de intenção de voto para a segunda volta das eleições.

Com informações do G1

 

Opinião dos leitores

  1. A única lembrança que tenho do Mujica é a liberação da maconha porta de entrada de outras drogas, o que fez com que muitos idiotizados achassem o máximo, a esquerda entrou nas nuvens da mesma e enlouqueceu de vez, vivem de cultuar nas suas mentes doentes e perversas ditadores e terroristas como Che Guevara, Fidel, Chaves, Maduro, etc. A nuvem negra pairou sobre o nosso país e os idiotizados aqui morrem de amor por um bandido condenado e ainda com vários processos a serem julgados e que será fruto de novas condenações.

  2. É mesmo Carlos Bastos? Mujica, amigo do pingunço, ladrão bi condenado, mentiroso, encantador de otarios, deveria continuar a mandar no Uruguai como fazia nove dedos no Brasil? Tenha paciência jumento, vc acha que todos são burros iguais aos petistas? Vai fazer o que disse o cidadão, chupa que é de uva.

    1. Bom mesmo é botar um governo que estatize a rodo, aumente salários na canetada, congele preços, tabele o cãmbio, faça um monte de graça com o dinheiro dos outros, encha a administração de partidários.

  3. Acabou a farra do dinheiro roubado do sofrido povo brasileiro para eleger essa esquerdalha da América central e do sul, melhor é saber que o comandante desses atos criminosos contra a nação brasileira vai voltar pra cadeia.

    1. O Chile tá arrumando sarna pra se coçar. A Argentina já arrumou.

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Política

Mujica tenta explicar declaração sobre Venezuela

Ao jornal uruguaio Búsqueda, José Mujica tentou explicar a declaração de que “não devem ficar na frente dos blindados” ao comentar as cenas de tanques de Nicolás Maduro atropelando manifestantes na Venezuela.

“O que eu disse é que você nunca deve ficar na frente dos tanques porque o condutor pode ser um louco. É preciso levar em consideração que há pessoas neste mundo com um caminhão que atropelam uma multidão. Eu não estou justificando nada, só estou tentando educar as pessoas.”

O ex-presidente acrescentou:

“O que está acontecendo na Venezuela é uma selvageria. Como vou justificar essa selvageria? Até roubaram alguns tanques.”

O Antagonista

 

Opinião dos leitores

  1. O pt teve 46 milhões de votos e com a rejeição do Bozo de março de 30% o pt ganha fácil a próxima eleição. A reforma trabalhista ia gerar 17 milhões de empregos, mas gerou 5 milhões de 99 e Uber. Lua está preso e bozo tá solto e não tem um plano parao Brasil.

  2. BG sou seu fã, neste blog pau que bate em chico, bate em Dr. Francisco, vide as reportagens sobre lula ou bozo. No entanto, gostaria de saber: os argumentos utilizados no seu editorial sobre o episódio do músico morto na ação do exército brasileiro serve para o episódio dos tanques venezuelanos?

  3. Sei!
    Sendo a favor de ditadura de esquerda tudo pode, tudo é lindo.
    Esse é mais um esquerdopata.

  4. Esse tipo de atitude é aplaudido pela os PeTralhas, afinal é o "Mijada", velho esclerosado, sem noção, então o culpado é o povo, sofrido, passando fome, e não o maldito chamado Maduro, ou melhor, "Podre", que manda jogar tanques de guerra em cima de civis. Quero ver a defesa aqui dos esquerdopatas, alienados e acéfalos, não fazem por que são covardes, simples assim.

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Polêmica

Mujica, em livro-reportagem, relata confissão de Lula sobre mensalão

2015-814589268-una-oveja-negra-al-poder.jpg_20150507Um livro-reportagem lançado no Uruguai esta semana, e que conta os cinco anos do governo de José Mujica a partir do ponto de vista dele, traz à tona uma “confissão” que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe teria feito em 2010. Em “Una oveja negra al poder” (Uma ovelha negra no poder, em tradução livre), escrito pelos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, ainda sem data para chegar ao Brasil, Mujica relembra um dos encontros que teve com Lula. Relata que, ao falarem sobre o escândalo do mensalão, que consistia na compra de apoio político, o petista lhe teria dito que aquela era “a única forma de governar o Brasil”.

“Lula não é um corrupto como (Fernando) Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros”, disse Mujica aos jornalistas da revista “Búsqueda” em uma das cem horas de entrevistas que lhes concedeu. “Mas viveu esse episódio (do mensalão) com angústia e um pouco de culpa”.

De acordo com o relato de Mujica, quando o assunto veio à tona, numa reunião feita em Brasília nos primeiros meses de 2010, Lula lhe teria dito textualmente: “Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens”. Para logo em seguida, emendar: “Essa era a única forma de governar o Brasil”. Segundo Mujica, o ex-vice-presidente uruguaio Danilo Astori estava na sala e também ouviu a “confissão” do petista.

Lula sempre negou saber do escândalo do mensalão. Em agosto de 2005, pouco depois de o caso vir à tona, o então presidente fez um discurso dizendo que se sentia “traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tivera conhecimento” e que estava “tão ou mais indignado do que qualquer brasileiro” diante do episódio. Depois, passou a afirmar que a existência do esquema nunca havia sido comprovada e que seus colegas de partido tiveram uma punição política.

Procurado no fim da tarde desta quinta-feira pelo GLOBO para comentar o conteúdo do livro, o Instituto Lula informou que não teria “como encaminhar um comentário a essa hora” e pediu que as palavras de Mujica não fossem reproduzidas parcialmente. Na obra, o uruguaio também diz que admira Lula e que ele é um “baixinho bárbaro”.

— Mujica sempre viu Lula como uma espécie de padrinho. Sempre pensou que o Uruguai deveria seguir o rumo do Brasil, que é o grande protagonista da região — disse o jornalista Andrés Danza ao GLOBO. — Mujica sempre afirmou que Lula não é corrupto, mas que o Brasil vive na corrupção.

Danza e Tulbovitz, editor-geral e repórter de uma das revistas semanais mais respeitadas do Uruguai, acompanham a carreira de Mujica desde 1998. Viram-no ser eleito deputado e senador, se transformar em ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, e, depois, em presidente.

— São 17 anos de convivência com encontros pessoais semanais — contou Danza. — Quando ele assumiu a Presidência, no dia 1º de março de 2010, começamos a fazer registros oficiais da Presidência e combinamos que só publicaríamos esse material depois que ele deixasse o cargo. Todas as conversas estão gravadas.

DILMA, LUGO E MERCOSUL

Em “Una oveja negra al poder”, publicado pela editora Sudamericana, os jornalistas ainda relatam que a proximidade de Mujica e Lula era tão grande que o uruguaio “soube que Dilma seria a candidata (à Presidência) muito antes que isso se tornasse público” e também que, depois, Lula apoiaria sua reeleição.

“(Mujica) Entendeu perfeitamente essa jogada”, escreveram os jornalistas. “Lula preferia ser o poder nas sombras e, depois do mensalão, não ficar exposto demais”.

— Mujica vê Dilma como uma mulher executiva, que resolve tudo muito rápido. Como uma administradora melhor do que Lula, mas sem o carisma dele — afirmou Danza.

Durante os cinco anos de trabalho que levaram ao livro, Danza e Tulbovitz reconstruíram episódios marcantes da vida política do Cone Sul, como a suspensão que o Mercosul aplicou ao Paraguai em 2012, após a destituição do presidente Fernando Lugo. Segundo contam, Mujica e Dilma tiveram papel definitivo. Ele era contra o veto, mas ela, evitando qualquer contato pessoal, teria feito chegar a ele um pedido para que apoiasse a decisão.

“Um encontro tão fugaz e repentino entre presidentes levantaria suspeitas, então o governo brasileiro resolveu enviar um avião a Montevidéu para transladar o emissário de Mujica à residência de Dilma, em Brasília”, escreveram os autores. “Assim se fez, e, quando o uruguaio chegou, Dilma estava esperando no escritório”.

— Vamos ao caso — teria dito a presidente, enquanto o emissário pegava um caderno. — Não. Sem anotações. Esta reunião nunca existiu.

Leia trecho do livro:

“Lula teve que enfrentar um dos maiores escândalos da História recente do Brasil: o mensalão, uma mensalidade paga a alguns parlamentares para que aprovassem os projetos mais importantes do Poder Executivo. Compra de votos, um dos mecanismos mais velhos da política. Até José Dirceu, um dos principais assessores de Lula, acabou sendo processado pelo caso.

‘Lula não é um corrupto como Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros’, disse-nos Mujica, ao falar do caso. Ele contou, além disso, que Lula viveu todo esse episódio com angústia e com um pouco de culpa. ‘Neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens’, disse Lula, aflito, a Mujica e Astori, semanas antes de eles assumirem o governo do Uruguai. ‘Essa era a única forma de governar o Brasil’, se justificou. Os dois tinham ido visitá-lo em Brasília, e Lula sentiu a necessidade de esclarecer a situação.”

O Globo

Opinião dos leitores

  1. #ESSEMEREPRESENTA

    Pra quem ainda acha que existem "anjos e/ou demônios" na política, o PMDBismo ESTÁ MOSTRANDO PRA QUEM QUISER VER, COMO É QUE SE FAZ POLÍTICA NO BRASIL HÁ SÉCULOS E SÉCULOS…
    "OU DÁ OU DESCE!!!"
    O PMDB e o DEM são os dois partidos mais governistas que se tenha notícia no País. Sempre estiveram no Governo.
    A experiência dos ALVES (HENRIQUE E GARIBALDI) aqui no RN, mostra bem quem é o PMDB e seus participantes. Ou alguém já esqueceu que o PMDB do RN conseguiu ficar no Governo do Município com a Borboleta Micarla do PV, com o Governo do Estado do RN, com a Rosa de Mossoró do DEM e com o Governo Federal, da Presidente Dilma do PT.
    Como pode um partido apoiar três governos antagônicos e contraditórios ao mesmo tempo?
    Contudo, não podemos esquecer que no ano em que o PMDB teve candidato a Presidente da República, (Ulisses Guimarães), Aloisio Alves, então presidente do Partido no Estado votou contra o seu partido, em Paulo Maluf.
    Simples assim.
    Política prática não se faz sem se "negociar" apoios, alianças, acordos, cargos, emendas, etc, etc, etc…

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Política

‘Quem gosta de dinheiro tem que ser tirado da política’, diz José Mujica, ex-presidente do Uruguai

MUJICAFoto: BBC

Prestes a completar 80 anos, o ex-presidente uruguaio José Mujica diz que a corrupção afeta “a todos” na América Latina, mas que “quem gosta muito de dinheiro deveria ser afastado da política”.

Em entrevista exclusiva à BBC Mundo, Mujica comentou a corrupção em países como México e Brasil, e afirmou que a “vontade de ter bens materiais” não se relaciona bem com o serviço público.

“Sempre disse aos empresários: se eu souber que pediram alguma propina a vocês e vocês não me avisaram, teremos uma relação péssima. Com essa declaração, não havia abertura para que me oferecessem nada.”

“Se misturamos a vontade de ter dinheiro com a política estamos fritos. Quem gosta muito de dinheiro tem que ser tirado da política. É preciso castigar essa pessoa porque ela gosta de dinheiro? Não. Ela tem que ir para o comércio, para a indústria, para onde se multiplica a riqueza”, declarou.

Agora senador, Mujica diz que não descartaria voltar à Presidência, caso sua saúde permitisse. Dá a impressão, no entanto, de que não acredita na possibilidade.

“Se eu tivesse o grau de saúde que tenho hoje, não teria nenhum problema. Mas estou quase com 80 anos, não acho que tenho idade adequada de resistir ao vaivém de uma Presidência.”

O ex-presidente falou à BBC sentado sob uma árvore diante de sua casa nos arredores de Montevidéu. O ambiente tranquilo e silencioso, que sempre disse valorizar, agora é interrompido ocasionalmente pela chegada de crianças e adolescentes à escola rural que ele inaugurou recentemente do outro lado da rua.

Ele falou sobre narcotráfico e opinou sobre governos de outros países latino-americanos. Entre elogios a sua cadela Manuela (“o integrante mais fiel do meu governo”) e comparações entre o mate argentino e o uruguaio, Mujica disse ainda que não considera ocupar um cargo internacional.

“Acredite, para mim seria uma tortura. Não sou afeito ao protocolo, não sou a pessoa mais indicada. Acho que as causas políticas têm muito fôlego e que é preciso incorporar gente mais jovem que nós, que nos supere.”

‘Doença’ brasileira

“Algo doentio acontece na política brasileira”, disse o ex-líder uruguaio sobre a cisão entre o governo de Dilma Rousseff, em seu segundo mandato, e o Congresso eleito em 2014. “O Brasil é um país gigantesco e cada Estado tem sua realidade, com partidos locais fortes. Conseguir a maioria parlamentar no Brasil é um macramé (técnica de tecelagem manual) onde pedem uma coisa aqui, outra ali.”

Para Mujica, o tráfico de influência é “uma tradição” no país, já que os governos “têm que fazer o impossível para conseguir a maioria parlamentar de alguma maneira”.

“Não digo que os fins justificam os meios, quem diz é Maquiavel. O que digo é que isso é uma doença que existe há muito tempo na política brasileira.”

Ao mesmo tempo, ele afirma que o poder dos presidentes na democracia representativa é relativo e, por isso, demora para que uma vontade do poder Executivo torne-se realidade. “Não se deve confundir governar com mandar. Existe o papel da persuasão e do convencimento. Um presidente deve se cercar de gente útil e de gente boa.”

Mujica diz ainda que é preciso considerar o papel dos agentes externos ao governo na corrupção. “Para que haja corruptos, também deve haver um agente corruptor. Não nos esqueçamos disso.”

Vizinhos

Durante a entrevista, Mujica evitou fazer críticas frontais aos governos latino-americanos. Questionado sobre seu apoio à administração de Nicolás Maduro, na Venezuela, ele afirmou que “não gosta da existência de presos políticos” no país, mas se posicionou contra possíveis intervenções em meio à crise.

“A Venezuela tem problemas, sim. Mas não vai sair deles a pauladas. Não é apoio, são as evidências. Porque não se ganham 14 eleições sucessivas só usando a força.”

Mujica chegou a chamar a presidente argentina Cristina Kirchner de “velha”, mas, desta vez, também dedicou-lhe palavras mais suaves. “Não acho que seja uma presidenta maravilhosa, nem acho que seja uma bruxa. É uma mulher que teve de enfrentar todo o machismo arraigado em uma sociedade. Como muitos quiseram passar por cima dela, ela às vezes passa dos limites do outro lado.”

Sobre o México, o ex-presidente voltou a afirmar que o tráfico de drogas é um problema maior no país por causa de sua proximidade com os Estados Unidos.

“Os Estados Unidos são o grande mercado consumidor das drogas e os que têm infinito poder aquisitivo e o México é o lugar de trânsito. Isso vem condicionando a vida deles e o México não teve a capacidade de resolver o problema da influência crescente do narcotráfico, não foi só esse governo.”

“A combinação da ameaça e do dinheiro destroçou os poderes públicos, que não conseguiram enfrentar isso. Mas eu não estou criticando o México, acho que todos estamos expostos a isso hoje”, afirmou, defendendo novamente a lei aprovada em seu governo, que tornou o Uruguai o primeiro país do mundo a regularizar a produção, a venda e o consumo de maconha.

“Curiosamente, eu que não sou neoliberal acho que a melhor fundamentação (para a lei) que encontrei é a de (Milton) Friedman (economista americano). Digo isso raramente, mas não tenho preconceito. Acho que é preciso roubar o mercado deles (dos narcotraficantes).”

Rolling Stones e baseado

Centenas de perguntas foram enviadas para a entrevista com José Mujica, que foi transmitida ao vivo pela internet e acompanhada em seis idiomas pela BBC nas redes sociais. O ex-presidente teve que responder, por exemplo, sobre se já o convidaram a fumar maconha desde a descriminalização do consumo.

“Apareceu aqui um rapaz, não sei de que país, com um baseado, e me convidou para fumar. Eu não quis, mas eu também tenho meus vícios. De vez em quando fumo um cigarro comum. E quem vai dizer que o tabaco é saudável? O único vício bom é o amor, o resto são pragas. O problema está em quanto se consome e isso é um problema mental.”

Algumas das perguntas mais frequentes eram sobre seu estilo de vida, ao que respondeu que “a humildade é uma filosofia que não pretende impor a ninguém”.

“Não posso mudar a cultura do mundo em que vivemos, mas posso viver minha vida e dar minha opinião.”

O ex-presidente também não se esquivou de questões mais difíceis – mesmo que fora do âmbito político – como a enviada por um participante argentino: Beatles, Pink Floyd ou Rolling Stones?

“Diga a ele que sou um analfabeto no tema, porque sou ‘tangueiro’ de alma. Mas feita essa ressalva, prefiro os Rolling Stones.”

G1

Opinião dos leitores

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *