Diversos

‘Maconha não é porta de entrada para outras drogas’, afirmam pesquisadoras

Foto: Anthony Bolante/Reuters

Maconha: a palavra assusta puritanos, provoca risadas nos menos sisudos e cria polêmica por onde é proferida. Mas nunca passa despercebida. Talvez por isso chame tanta atenção o livro Maconha: Os Diversos Aspectos, da História ao Uso (editora Blucher) chame atenção. Reunindo ensaios de especialistas nas mais diversas áreas, do direito à segurança pública, passando pela antropologia, história e economia. No entanto, a questão que domina o volume é a psicologia, até pela especialidade das organizadoras, as psicanalistas Luciana Saddi e Maria de Lurdes de Souza Zemel.

Diferente da abordagem superficial com que o tema das drogas costuma ser tratado na mídia de forma geral, o livro busca compreender aspectos históricos, sociais, econômicos e sobretudo psicológicos por trás do uso da maconha, indo além da mera discussão punitiva e policialesca.

“O livro traz uma discussão científica, aborda a droga em suas diversas facetas e não temos uma resposta simples, que em geral é o que se procura”, afirma Saddi em entrevista ao Estadão. “Vicia? Faz mal? A discussão é sempre colocada assim, de uma forma muito banalizada. O livro fala do uso da maconha em seus diversos aspectos, mas deixa para o leitor a resposta sobre se ele deve ou não usar maconha, quando o risco de uso existe.”

Para Zemel, que trabalha em consultório e em ações sociais diretamente com a questão das drogas, o problema deve ser debatido em esferas mais amplas do que a mera condenação do dependente químico a um ser marginalizado. “A maconha não é porta de entrada para outras drogas”, esclarece a psicanalista, para quem a difusão desse mito serve a interesses econômicos. “Isso é eleitoreiro, faz com que as internações nas comunidades terapêuticas aumentem. Dá dinheiro aumentar internações, pois essas comunidades recebem dinheiro do governo que poderia ser investido nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial)”.

Zemel menciona ainda que o álcool é uma droga com potencial destrutivo muito maior pelo alcance que tem, chegando inclusive a ser mais disseminado na Cracolândia que o próprio crack, mas pouco se faz para limitar o acesso ao álcool por interesses econômicos. “Dependendo da forma que se usa qualquer droga, você pode caminhar para a dependência ou não”, acrescenta ela, citando que apenas uma porcentagem muito pequena das pessoas que consomem drogas ficam dependentes.

No entanto, a percepção social acerca do usuário de drogas pode corroborar para seu adoecimento, de acordo com Saddi: “Se você é tratado como um dependente quando não é, a chance é muito grande de se produzir uma pessoa que vai ter sérios problemas psíquicos pelo isolamento, pelo preconceito”.

Esse preconceito, segundo Zemel, é o que prejudica também quem precisa da maconha para fins medicinais. “Para obter uma receita para uma mãe que tem um filho com 60 convulsões por dia, quem pode dar essa receita? Três médicos do Brasil dão. Porque eles são perseguidos por associações médicas”, afirma ela. “Esse óleo da maconha não ‘dá barato’, não causa dependência, é um remédio.”

É justamente para tentar dialogar com o público leigo e, muitas vezes, resistente à discussão, que os artigos reunidos no livro são apresentados de modo a ter fácil compreensão. “Acho que a linguagem, principalmente em alguns capítulos, apela no bom sentido ao sofrimento. O que traz a empatia e pode não gerar um ódio é perceber que estamos falando de vulnerabilidade, de riscos. Alguns capítulos trazem exemplos e com isso vai se desmanchando a ideia do que é um drogado”, afirma Saddi.

Para Zemel, o grande problema não é a maconha em si, mas a forma como indivíduos e sociedade se relacionam com ela: “Não queremos focar na droga, mas tratar e cuidar das pessoas.”

Estadão

Opinião dos leitores

    1. Alegrias. Felicidades. Contemplação. É um presente de Deus para aturarmos malas que nem você.

  1. É preconceito na casa dos outros, quero ver o pai que flagra filho fumando maconha na sua sala e vai agir naturalmente. Essa imprensa esquerdista quer destruir valores e implantar o caos…

    1. Se eu flagrar meu filho fumando maconha sem ter me convidado, realmente vou ficar muito chateado.

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Polícia

MP-GO denuncia padre Robson e outras 17 pessoas por organização criminosa

Foto: Reprodução/Facebook/Padre Robson de Oliveira

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereceu denúncia contra 18 pessoas, dentre elas, padre Robson de Oliveira Pereira, por organização criminosa destinada a obtenção de vantagem. A denúncia é resultado de investigações realizadas na Operação Vendilhões, deflagrada em agosto deste ano.

Segundo o MP, padre Robson seria o comandante de uma “organização criminosa empresarial que se utilizava de associações e empresas para realizar apropriações indébitas, falsidades ideológicas e lavagem de capitais em benefício próprio, desviando recursos recolhidos em nome das associações de caráter religioso e com a finalidade declarada de construção de uma basílica e de realização de atos de caridade”.

Durante a investigação, os promotores apuraram que o padre desviava dinheiro de uma associação e repassava a terceiros.

O religioso, que era presidente da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), responsável pelo Santuário Basílica de Trindade, teria desviado cerca de R$ 120 milhões de doações de fiéis.

Operação Vendilhões

As investigações do Ministério Público de Goiás acerca do envolvimento do padre Robson de Oliveira Pereira no desvio de R$ 120 milhões culminaram com a Operação Vendilhões, realizada em 21 de setembro. No dia seguinte, o religioso se afastou da presidência da Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro (Afipe), ligada à Basílica do Divino pai Eterno, de Trindade.

O valor teria sido usado, segundo o MP, para aquisição de imóveis, entre os quais uma fazenda de R$ 6 milhões na cidade goiana de Abadiânia, e de uma casa de praia, no valor de R$ 3 milhões, em Guarajuba (BA).

A investigação teve início em 2018, quando padre Robson foi vítima de extorsão e teria pago cerca de R$ 2 milhões para não ter vídeos expostos na internet.

UOL

Opinião dos leitores

  1. Historicamente Essas pessoas da igreja católica sempre foram corruptas e fraudadoras quanto as atuais igrejas protestantes do Brasil,nas décadas de 1930,1940,1950 e 1960,só quem possuía carros próprios muitos deles novos eram os padres e estes padres que ainda possuíam a melhor casa de residência das cidades interioranas,isso nas mesorregiões oeste,sertão central e no agreste do estado,os padres que viviam em um considerável conforto e fartura material iludindo os pobres e oprimidos,com promessas de salvação messiânica do céu,até mesmo os tradicionais líderes políticos locais e comerciantes basicamente de primeiras necessidades com suas pequenas e rusticas mercearias,padarias,farmacias,lojas de tecidos,lojas de calçados,lojas de produtos agropecuários e loja de materiais de construção,prestadores de serviços e também os agricultores e pecuaristas,estes setores produtivos municipais arcaicos e paupérrimos com comerciantes,prestadores de serviços e agropecuáristas que geravam poucos acúmulos de riquezas materiais,financeiras e econômicas,estas famílias tradicionais interioranas que só eram ricas mesmo de importância e influência,naquela época na década de 1930,1940,1950,1960 nem mesmo os prefeitos com seus bons salários mensais detinham condições financeiras e matériais de comprar um carro novo,porém os santos e bons padres possuíam bons carros e boas casas,conforto e fartura material.

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Educação

PF prende dono da Universidade Brasil e outras 20 pessoas por fraude no Fies

Foto: Polícia Federal/Divulgação

A Polícia Federal deflagrou uma operação nesta terça-feira (3) para investigar fraude no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) do governo federal. O dono da Universidade Brasil e outras 20 pessoas foram presas.

A Operação Vagatomia investiga esquema de fraude na concessão do Fies e também na comercialização de vagas e transferências de alunos do exterior, principalmente Paraguai e Bolívia, para o curso de medicina em Fernandópolis (SP).

Bolsas do Prouni e fraudes relacionadas a cursos de complementação do exame Revalida também estão sob investigação. Estimativas da Polícia Federal indicam que, nos últimos cinco anos, aproximadamente R$ 500 milhões do Fies e Prouni foram concedidos fraudulentamente.

O dono da Universidade Brasil em Fernandópolis, José Fernando Pinto da Costa, de 63 anos, foi preso em São Paulo. O filho dele, que também é sócio do grupo educacional, foi preso no aeroporto de Guarulhos (SP). Eles são apontados pela PF como chefes do esquema.

Representantes da Universidade Brasil informaram que estão ciente da investigação, mas ainda não se pronunciaram sobre o caso.

Policiais também fizeram buscas em um haras em Porto Feliz, que pertence ao dono da universidade preso na operação.

A Polícia Federal informou que durante a operação alguns investigados tentaram fugir no momento das prisões e outros jogaram celulares de prédios, antes da entrada dos policiais. Os celulares foram recuperados e os foragidos foram localizados e presos.

Dinheiro apreendido na casa de um dos investigados na operação Vagatomia, da Polícia Federal em Jales — Foto: Polícia Federal/Divulgação

A ação, deflagrada pela delegacia da PF de Jales (SP), conta com 250 policiais federais para cumprir 77 mandados nas cidades de Fernandópolis, São Paulo, São José do Rio Preto (SP), Santos (SP), Presidente Prudente (SP), São Bernardo do Campo (SP), Porto Feliz (SP), Meridiano (SP), Murutinga do Sul (SP), São João das Duas Pontes (SP) e Água Boa (MT).

Entre os mandados expedidos estão 11 prisões preventivas, 11 prisões temporárias, 45 ordens de busca e apreensão e 10 medidas cautelares (alternativas à prisão). A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens e valores dos investigados até o valor de R$ 250 milhões.

O material apreendido será encaminhado para a PF em Jales, onde passará por análise no interesse das investigações em curso.

Os presos foram indiciados pelos crimes de organização criminosa, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistemas de informações e estelionato majorado, cujas penas somadas podem chegar a 30 anos de reclusão.

Eles serão ouvidos e posteriormente levados para cadeias da região onde permanecerão presos à disposição da Justiça Federal.

O dono e reitor da Universidade Brasil José Fernando Pinto da Costa, preso nesta terça-feira, foi homenageado, em 2018, pelo Ministério da Saúde com a medalha de mérito Oswaldo Cruz.

A medalha é um reconhecimento pela atuação destacada no campo das atividades científicas, educacionais, culturais e administrativas pelos resultados benéficos à saúde de milhares de brasileiros.

A ação honrosa contou com a participação do então ministro da Saúde, Ricardo Barros, no dia 27 de fevereiro.

Investigação

A PF recebeu informações, no começo do ano, de irregularidades que estariam ocorrendo no campus de um curso de medicina em Fernandópolis (SP). Vagas para ingresso, transferência e financiamentos Fies para o curso de medicina estariam sendo negociados por até R$ 120 mil por aluno.

Durante oito meses de investigações, a PF concluiu que o chefe da organização criminosa é o dono da universidade onde as fraudes aconteciam, que também ocupa o cargo de reitor.

Segundo a PF, uma estrutura formada por funcionários e pessoas ligadas à universidade dava condições para que as fraudes fossem realizadas.

O esquema contava com “assessorias educacionais”, de acordo com a PF, e contava com o apoio dos donos e toda a estrutura administrativa da universidade para negociar centenas de vagas para alunos, que aceitaram pagar pelas fraudes em troca de matrícula no curso de medicina.

A Polícia Federal informou que muitos desses alunos já identificados. Eles também podem responder criminalmente.

G1

 

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