Saúde

Terapia com plasma convalescente da Covid-19 é eficaz nos dez primeiros dias de sintomas, indica estudo brasileiro

(Foto: Pixabay)

Dados de um estudo brasileiro feito com 104 portadores de Covid-19 indicam que a terapia com plasma sanguíneo de convalescentes da doença é uma alternativa segura e pode trazer benefícios principalmente se aplicada nos dez primeiros dias de sintomas.

A pesquisa contou com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e foi conduzida por pesquisadores dos hospitais Israelita Albert Einstein e Sírio-Libanês, em colaboração com um grupo do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Os resultados foram divulgados na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por pares.

“Do ponto de vista da segurança, mostramos se tratar de um procedimento de baixo risco, equivalente ao de qualquer transfusão sanguínea. No que diz respeito aos benefícios, observamos que evoluíram melhor os pacientes tratados mais precocemente. Mas, como foi um estudo de braço único [sem grupo controle tratado com placebo], nossa capacidade para avaliar a eficácia é limitada”, explica o hematologista José Mauro Kutner, docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e um dos autores do artigo.

Segundo o pesquisador, o ensaio clínico foi desenhado em março de 2020, quando ainda se conhecia pouco sobre a Covid-19 e a segurança da terapia, desenvolvida em 1891 para o tratamento de difteria e usada experimentalmente em surtos de infecções respiratórias, como gripe H1N1 (2009-2010), síndrome respiratória aguda grave causada pelo Sars-CoV-1 (2003) e síndrome respiratória do Oriente Médio causada pelo Mers-CoV (2012).

O método consiste em transfundir nos doentes um componente do sangue rico em anticorpos contra o patógeno a ser combatido, obtido de doadores que já se recuperaram da infecção. A ideia é que os anticorpos doados ajudem a reduzir a carga viral no organismo, evitando que o quadro se agrave. No Brasil, foi autorizado apenas o uso compassivo ou no âmbito da pesquisa clínica.

Por se tratar de um estudo de braço único, todos os participantes receberam o tratamento, mas em diferentes quantidades e fases da doença. Ao final, os pesquisadores compararam a evolução do quadro nos subgrupos. Foram incluídos apenas voluntários com mais de 18 anos e que apresentavam comprometimento respiratório importante – parte já estava em unidade de terapia intensiva (UTI) e os demais em vias de serem internados.

“Como esperado, os pacientes com mais idade, os obesos e os portadores de comorbidades evoluíram pior, mas isso não tem relação com o tratamento. O que nos chamou a atenção foi que os voluntários que já apresentavam anticorpos próprios contra o Sars-CoV-2 antes de receberem a transfusão de plasma foram mais beneficiados pela terapia do que aqueles que não tinham anticorpos próprios. Esse achado parece ser inédito na literatura científica”, conta Kutner.

Contrariando as expectativas dos cientistas, os participantes que receberam plasma com concentrações mais altas de anticorpos neutralizantes – um tipo específico capaz de bloquear a infecção das células – não necessariamente evoluíram melhor que os demais. Na avaliação de Kutner, esse resultado provavelmente se deve ao fato de que todos os 104 pacientes receberam doses acima da quantidade mínima de anticorpos neutralizantes recomendada por estudos europeus e pela FDA [Food and Drug Administration, agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos], que é de um para 160 (1:160), ou seja, após diluir o plasma 160 vezes ainda deve ser possível encontrar ao menos um anticorpo neutralizante no soro.

“O principal achado é que os voluntários tratados precocemente, nos dez primeiros dias após o início dos sintomas, evoluíram melhor do que aqueles que receberam o plasma depois desse período”, comenta Kutner.

Os dados brasileiros vão ao encontro de estudos internacionais já divulgados. O mais recente foi publicado no New England Journal of Medicine por pesquisadores da Fundación Infant, na Argentina. Segundo o artigo, para ser eficaz, a terapia deve ser administrada dentro de 72 horas após o início dos sintomas e o plasma deve ter uma alta concentração de anticorpos neutralizantes. Se essas condições forem cumpridas, afirmam os autores, o tratamento pode diminuir a necessidade de oxigênio pela metade. A pesquisa argentina incluiu 160 pacientes com 65 anos ou mais, divididos aleatoriamente em dois grupos, sendo um deles o controle.

Vírus-neutralização

A análise prévia do plasma transfundido nos pacientes do Einstein e do Sírio-Libanês foi conduzida no ICB-USP, sob a coordenação do professor Edison Luiz Durigon. O grupo usou uma técnica conhecida como vírus-neutralização (VNT), que envolve o cultivo do Sars-CoV-2 in vitro e, por esse motivo, requer estrutura laboratorial com nível 3 de biossegurança (NB3) e equipe altamente treinada.

Como explica o pesquisador, o anticorpo neutralizante é aquele que se liga à parte mais superficial da proteína spike, usada pelo Sars-CoV-2 para se conectar com o receptor da célula humana e viabilizar a infecção. Essa região da proteína é conhecida como RBD (sigla em inglês para domínio de ligação ao receptor). “A VNT não é uma técnica trivial e ainda está restrita a grandes centros de pesquisa. Porém, têm surgido métodos mais simples para analisar o plasma, o que pode facilitar o uso da terapia”, comenta Durigon.

O pesquisador ressalta, contudo, que o tratamento envolve custos significativos. Além dos testes-padrão para qualquer doação de sangue, como os que visam detectar a presença de patógenos causadores de doenças transmissíveis, é preciso avaliar a quantidade de anticorpos neutralizantes e ter uma estrutura de banco de sangue para armazenar o material. “A administração da terapia é estritamente hospitalar e requer acompanhamento médico. Não é, portanto, uma panaceia, mas pode ajudar alguns pacientes de grupos de risco a combater a infecção ainda no início”, avalia Durigon.

Galileu

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Diversos

Complexidade dos sonhos depende da fase do sono, revela estudo brasileiro com pesquisadores da UFRN

Foto:  Artur Debat/Getty Images

Alguns sonhos são vívidos, longos e complexos, com começo, meio e fim bem definidos. Outros são apenas relances desconexos e pouco marcantes, como se fossem uma memória distante. Na analogia da neurocientista Natália Mota, é como se os primeiros fossem filmes, e os segundos, meros GIFs de WhatsApp.

Um novo estudo feito por pesquisadores brasileiros revelou que a profundidade e complexidade dos sonhos depende da fase do sono em que eles ocorrem. A ciência já sabia que os sonhos mais vívidos e memoráveis acontecem durante a fase REM do sono (sigla para Rapid Eye Movement, ou Movimento Rápido dos Olhos). Nessa etapa do descanso, o cérebro apresenta uma alta atividade – comparável aos níveis de quando estamos acordados.

No passado, considerava-se que os sonhos só aconteciam durante a fase REM, mas estudos recentes confirmaram que as outras três fases de sono (conhecidas como não-REM) também produzem sonhos, embora menos vívidos e complexos.

Até agora, essas descobertas haviam sido feitas apenas com relatos subjetivos de voluntários. Nos testes, eles eram acordados em diferentes etapas do sono e descreviam seus sonhos em seguida. Essas descrições eram posteriormente analisadas pelos cientistas. A limitação desse método é que os resultados podem ser enviesados. O pesquisador pode considerar que relatos mais longos significam que os sonhos são necessariamente mais complexos, o que nem sempre é o caso.

Foi pensando nisso que pesquisadores brasileiros criaram um novo método para se analisar diferentes sonhos. Em artigo publicado na revista PLOS ONE, a equipe liderada pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, descreve o uso de um modelo computacional baseado teoria dos grafos para analisar os sonhos. Grafos são estruturas matemáticas que representam as relações entre elementos de um determinado conjunto.

Os pesquisadores colheram relatos de 133 sonhos de 20 voluntários, obtidos quando acordavam em diferentes etapas do sonho. Em vez de ler e analisar as histórias oníricas, os pesquisadores utilizaram um software para transformar os relatos em grafos, palavra por palavra. Veja um exemplo abaixo.

Exemplo de um relato de um sonho transformado em um grafo. Sidarta Ribeiro et al/Divulgação

“Não se trata de uma análise semântica, de significado das palavras. Não estamos lidando com o que foi dito, mas com a maneira como foi dito. Isso permite uma infinidade de análises futuras sobre compreensão do sonho em diferentes culturas e países”, explicou Natália Mota, também da UFRN, à Agência FAPESP. Mota já utilizou a teoria dos grafos em seu doutorado, em que desenvolveu um método para diagnosticar esquizofrenia por meio do discurso de pacientes.

O que vale aqui não é o conteúdo do sonho em si ou o quão realista ele é, e sim o quão complexa é a sua estrutura, independente da extensão dos relatos. Com os grafos, os pesquisadores mostraram que sonhos obtidos na fase REM de fato são mais coesos e conectados do que os obtidos em outras fases, que tendem a formar estruturas mais aleatórias e menos complexas.

É a primeira vez que os grafos são utilizados para analisar sonhos. Segundo a equipe, o método é “promissor para pesquisar sonhos, devido à sua natureza automatizada” e pode complementar os métodos tradicionais usados até agora, escreveram no artigo.

Ainda não sabemos o que explica essas diferenças entre os sonhos. Cientistas acreditam que os sonhos acontecem porque o cérebro está organizando suas memórias e informações armazenadas durante o sono. Como se fosse uma grande faxina em que as coisas importantes são armazenadas em gavetas, e as irrelevantes vão para o lixo. Pesquisadores da área ainda devem estudar como esse processo se altera durante as fases do sono e quais outros fatores podem estar envolvidos.

Super Interessante

 

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Saúde

Estudo brasileiro com quase 700 pacientes mostra que hidroxicloroquina não funciona para quadros leves e moderados da covid, e que causa problemas no coração e no fígado

Foto: Ilustrativa

Um estudo brasileiro coordenado pelos principais hospitais privados do País aponta que a hidroxicloroquina, associada ou não ao antibiótico azitromicina, não tem eficácia no tratamento de pacientes internados com quadros leves e moderados de covid-19.

A pesquisa, publicada nesta quinta-feira, 23, na revista científica The New England Journal of Medicine, verificou ainda que, no grupo de pacientes que fez uso dos medicamentos, foram mais frequentes alterações nos exames de eletrocardiograma e de sangue que representam maior risco de arritmia cardíaca e lesões no fígado.

Participaram do ensaio clínico 667 pacientes de 55 hospitais, sob a coordenação de nove instituições: Hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa de São Paulo, além do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

Os participantes foram divididos, de forma randomizada (por sorteio), em três grupos: um foi tratado com hidroxicloroquina, outro também recebeu também o medicamento, mas associado à azitromicina, e o terceiro foi tratado somente com suporte clínico padrão, que inclui medicamentos para sintomas, catéter com oxigênio, entre outros. Os pacientes que tomaram hidroxicloroquina (isolada ou associada à azitromicina) também receberam esse mesmo suporte clínico.

Os voluntários receberam as medicações por sete dias e foram acompanhados por duas semanas. Ao final do seguimento, os pesquisadores concluíram que não houve diferença significativa na evolução dos pacientes dos diferentes grupos, o que, segundo o estudo, demonstra que a hidroxicloroquina não traz benefício no tratamento dos casos leves e moderados da doença.

“A avaliação foi feita de acordo com uma escala de sete possíveis desfechos, na qual o 1 é a alta do paciente e o 7, o óbito. Não observamos diferenças na evolução dos pacientes dos três grupos. Neste perfil de paciente, portanto, a utilização da hidroxicloroquina não promove uma melhora no estado clínico”, explica a cardiologista Viviane Cordeiro Veiga, coordenadora de UTI da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e uma das pesquisadoras do estudo.

Para o cardiologista Renato Lopes, pesquisador e professor da Unifesp e da Duke University (EUA), que também participou do estudo, os resultados da pesquisa brasileira apontam que, mesmo nos casos mais leves de covid-19, a hidroxicloroquina não traz benefício. “Outros estudos internacionais já mostraram que ela não tinha eficácia para casos graves, mas muitos críticos diziam que ela não havia funcionado porque foi administrada muito tarde, quando o paciente já estava grave. Mostramos que, mesmo quando o início do tratamento é precoce e em casos leves, não há eficácia”, destaca.

Quanto aos eventos adversos, a pesquisa mostrou que os pacientes que tomaram hidroxicloroquina, com ou sem azitromicina, apresentaram com mais frequência uma alteração no eletrocardiograma chamada de aumento do intervalo QT, associado a maior risco de arritmia cardíaca. Neste grupo de pacientes, também se observou mais frequentemente pacientes com níveis elevados das enzimas TGO e TGP, que podem representar lesões no fígado.

O estudo divulgado nesta quinta é um dos nove ensaios clínicos conduzidos dentro da iniciativa batizada de Coalizão Covid-19 Brasil, que tem a participação de seis hospitais e duas instituições de pesquisa. As outras pesquisas incluem testes de outros medicamentos, como o antiinflamatório dexametasona e o anticoagulante rivaroxabana, além da própria hidroxicloroquina para um grupo de pacientes mais graves. As pesquisas ainda estão em andamento.

Estadão

Opinião dos leitores

  1. Um parente meu com 32 anos, estava internado, assinou, tomou e morreu. Foi no Giselda Trigueiro. Quem quiser acreditar, acredite. Os que tomaram e saíram com vida falam e gravam vídeos. Os que morreram não falam.

  2. Então Didier Raoult que curou mais de 3000 paciente em Marselha é lenda? Vai ser mais um como em Manaus? Quem foram os pares? Ou não houve?

  3. O estudo só mostra o que todo mundo já sabia, o uso da hidroxicloroquina deve ser precoce como defende tantos médicos e cientistas, nos 5 primeiros dias de sintomas, justamente para evitar que o paciente seja internado e vire um caso grave, o estudo foi feito por nove hospitais com pacientes já internafos, ou seja, esses pacientes não foram tratados precocemente pois já estavam internados, já tinha passado o timing de se ter entrado com a hidroxicloroquina.

  4. Vá se entender esses trabalhos, a medicação funciona na fase inicial (replicação) deve ser feita em pacientes com risco alto de complicações pelo covid-19 sob orientação médica (este sabe as contraindicações) e com a aceitação do paciente).

  5. A pesquisa é contraditória, se eram casos leves então porque os pacientes estavam internados em nove hospitais, os casos leves ficam em casa fazendo o tratamento precoce quem vai se internar no hospital são os casos graves.

  6. Nenhuma pesquisa séria confirmou a eficácia dessa tal Hidroxicloroquina conta a COVID-19.

  7. Depois da terra plana, o próximo passo é qdo tiver doente, procurar um vereador, deputado, prefeito, governador, senador ou presidente, pq ao ser empossado num cargo eletivo, automaticamente é instituido de um conhecimento técnico divino que capacita de fazer milagres, em detrimento de estudos complexos e científicos.
    Pode confiar!

  8. Se a Anvisa decretou necessidade de receita a ivermectina, é porque realmente funciona e não há interesse em curar a população. Anvisa tem um bando de esquerdopata.

  9. Essa tal de cloroquina devia ser de uso exclusivo para o gado bolsonarista. Cura Covid-19 do mesmo jeito daquelas garrafadas vendidas de porta em porta.

  10. Como os pacientes estavam com sintomas leves, foram internados??? Meu amigo quem quiser toma e quem não acreditar não toma e pronto…

  11. Não entendo qual a dificuldade de entender que a hidroxicloroquina só funciona na fase de replicação viral ou seja no início. É exatamente para evitar a internação. Se já foi internado não é fase inicial.

    1. Precisa desenhar, quem tomou nos primeiros dias não precisou se internar mas se tava internado já sabe que não era caso leva a própria pesquisa se contradiz.

  12. “Internados com quadro leve“ é bom demais. Haja forçação de barra.
    De qualquer forma, em caso de prescrição, usa quem quer.

    1. Os cientisticas dizem que nem IVERMECTINA nem A CLOROQUINA funcionam, mas um cidadão comum acaba de criar um protocolo. Alguém avise a OMS pelo amor de deus.

    2. É inacreditável ainda haver debates sobre isso. A coisa é muito simples: quem acreditar, use essas medicações, que já demonstraram sua eficácia no mundo real, na prática. Quem não quiser, não tome, vá tomar… cachaça, outra coisa qualquer ou não tome nada e fique esperando a coisa piorar. Quando a coisa piorar, vá atrás dos leitos de hospital que a governadora do PT NÃO CRIOU e dos respiradores que ela NÃO COMPROU. Simples assim.

    3. Direita "honesta", concordo em partes com você, realmente toma quem quer, mas aí você dizer a desgovernadora não criou leitos aí é demais, segundo pesquisa divulgada pela Fiocruz ontem, o RN está em 3° lugar no país em quantidade de leitos de UTI para covid-19, você pode não gostar do PT, eu também não, mas vamos ser justos.

    4. Direita honesta de araque toma tb detergente pois o teu ídolo do norte sugeriu tb.
      O cara se diz honesto mas para tomar remédio sem prescrição e comprovação ele é a favor. Pense uma honestidade.

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Diversos

Estudo brasileiro pode ajudar na busca por vida extraterrestre

Foto: Reprodução

Pesquisadores do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia em Materiais), em Campinas, no interior de São Paulo, criaram imagens 3D de formas de vida de aproximadamente 1,9 bilhão de anos atrás. As fotos foram feitas com a ajuda de um método avançado de produção de imagens, e são as mais detalhadas já produzidas até hoje.

A análise foi feita em parceria com pesquisadores da Suíça e da França, e abre caminho para novos estudos com fósseis, que são usados há décadas para entender o surgimento e a evolução da vida na Terra, e até mesmo para ajudar na busca por vida em outros planetas.

De acordo com o CNPEM, os microfósseis foram encontrados na Formação Gunflint, no Canadá, e têm cerca de 1,88 bilhão de anos. Os restos preservam microorganismos semelhantes às bactérias atuais, mas que viveram durante um período em que apenas organismos microscópicos habitavam o planeta. A Formação Gunflint é bem conhecida por paleontólogos por ser referência em preservação de fósseis.

Lâmina de rocha analisada. Os microfósseis se encontram nas áreas vermelhas/Foto: Divulgação

Para produzir as imagens, os pesquisadores usaram raios-X do tipo síncotron, etapa que foi realizada pelo Instituto Paul Scherrer, por meio do Swiss Light Source. A técnica envolve feixes de luz muito intensos produzidos por grandes aceleradores de partículas chamados síncotrons.

Usando essa técnica de tomografia em alta resolução, foi possível observar os microorganismos em três dimensões dentro de minúsculos pedaços de rocha, sem precisar quebrá-las. Assim, os cientistas conseguiram reconstruir as células e observar como os processos geológicos e o tempo afetaram sua forma e composição original.

A 1ª imagem é resultado da análise microscópica; as demais são visualizações em 3D de tomografia de raios-X em diferentes planos/Foto: CNPEM

A única fonte de luz síncotron na América Latina fica no Laboratório Nacional de Luz Síncotron, em Campinas. É onde trabalham os pesquisadores Lara Maldanis, doutora pelo Instituto de Física de São Carlos (USP), e Douglas Galante, pós-doutor em astronomia pela USP, líderes do estudo.

Ao longo da análise, descobriu-se também que, ao contrário do que se imaginava, fósseis antigos não tinham revestimento de hematita. Na verdade, eles eram compostos de material orgânico (invisível na microscopia óptica) e revestidos com cristais de maghemita de óxido de ferro.

“Isso mostrou que, no nível das células e em contato com a matéria orgânica, os óxidos de ferro seguem um padrão de transformação diferente do resto da formação, o que aprimora nossa compreensão de como essas estruturas foram preservadas e como foram alteradas depois de permanecerem enterradas por bilhões de anos”, disse o CNPEM em comunicado.

O instituto acrescentou ainda que o grande desafio em estudos como esse está nas características dos microfósseis, que têm apenas alguns micrômetros de diâmetro – dez vezes menos espessos que um fio de cabelo humano. Além disso, o material sofre alterações geológicas com o passar do tempo, causadas pela pressão e temperatura das rochas acima dele.

Por isso o resultado da pesquisa é importante. “Usando técnicas como esta, a ciência poderá revelar mais detalhes sobre os primeiros vestígios de vida na Terra ou mesmo em Marte, que nos ajudarão a responder algumas das questões mais intrigantes da ciência: como a vida surgiu na Terra? E estamos sozinhos no universo?” concluiu o Centro.

Com UOL

 

Opinião dos leitores

  1. Deixa pra gastar com isso quem pode, as pessoas não tem nem água e alimentação, tão gastando dinheiro com isso, pqp, deixa pra os EUA, que pode gastar

    1. Inútil para muitos, porém importante como notícia por fugir do convencional. Como, por exemplo, a pandemia em curso: de tanto "morder o cachorro" e outros bichos, avalia-se que os chineses terminaram se tornando incubadoras ambulantes do novo coronavírus.

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Diversos

Estudo brasileiro calcula possibilidade de vida extraterrestre na galáxia

Kepler-10b, primeiro planeta rochoso descoberto durante a missão Kepler, iniciada pela NASA em 2009 (Divulgação/Nasa)

Há muitos pré-requisitos para que um planeta seja considerado apto a abrigar qualquer forma de vida. Por exemplo, a necessidade de existir atividade geológica e uma atmosfera em função da gravidade superficial e, além disso, sua órbita precisa estar na zona habitável do sistema planetário (ou seja, na região que permite a existência de água líquida na superfície do corpo celeste).

Apesar dessas limitações, tudo indica que podem existir muitos planetas candidatos a servir de residência para animais e plantas no universo. Nem precisa ir muito longe. Já há diversas possibilidades em nossa vizinhança, a Via Láctea. É o que constatou um grupo de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que, ao lado de colaboradores internacionais, investigou o assunto em artigo publicado no periódico inglês Monthly Notices of Royal Astronomical Society (MNRAS).

Ao longo da pesquisa, os estudiosos analisaram um total de 53 gêmeas solares (estrelas com temperatura, gravidade e composição química superficiais próximos aos do Sol) por meio do uso de um espectrógrafo instalado em um telescópio de 3,6 metros do European Southern Observatory, no Chile. O espectrógrafo serve para registrar e analisar o espectro eletromagnético de cores dos corpos celestes, que vão desde os comprimentos de onda mais curtos (ultravioleta ou violeta) aos mais longos (a exemplo do infravermelho).

Os profissionais concluíram que planetas rochosos ao redor dessas gêmeas solares apresentam grandes probabilidades de possuírem tectonismo (isto é, um tipo de atividade geológica), o que aumenta significativamente a sua habitabilidade. A pesquisa revelou também que esses corpos apresentam condições geológicas favoráveis não só para a manutenção, mas para o surgimento da vida. Ademais, o estudo apontou que a vida pode estar espalhada pela galáxia e ter surgido, originalmente, em qualquer lugar.

Em conversa com VEJA, André Milone, um dos cientistas do INPE responsáveis pelo estudo, afirmou que esse trabalho possui algumas diferenças quando comparado aos que foram feitos anteriormente sobre o assunto. “Uma das principais inovações é que as estrelas analisadas cobrem uma gama ampla de idades (de 0,4 a 8,6 bilhões de anos), permitindo uma investigação desde a formação do disco da Galáxia”, disse o astrônomo.

O resultado foi alcançado depois que os pesquisadores descobriram uma abundância do elemento radioativo tório em estrelas gêmeas do Sol. O tório, assim como o urânio e o potássio, é uma substância muito relacionada ao tectonismo, e está presente, por exemplo, no manto terrestre. A convecção do manto é o que causa os movimentos tectônicos de placas, e a energia liberada por esses elementos as faz mexer. Assim, uma grande concentração desses compostos em um planeta rochoso podem preencher o critério de atividade geológica em um corpo, indicando a possível habitabilidade em sua superfície.

De acordo com Rafael Botelho, doutorando em Astrofísica do Inpe e orientando de Milone, a investigação inédita de gêmeas solares mais antigas abriu muitas portas. O maior exemplo é a descoberta de que o tório é abundante também nesses corpos antigos, o que significa que o universo pode estar repleto de seres vivos não só hoje, mas ao longo de muito tempo e por todo o espaço.

Apesar do sucesso da pesquisa, os profissionais tiveram que enfrentar alguns desafios, sobretudo de ordem técnica. “A grande dificuldade foi descobrir a abundância do tório nos lugares que analisamos”, explicou Botelho. Segundo ele, o obstáculo foi ainda maior devido ao fato de que esse elemento não era o mais presente nas regiões investigadas — ou seja, foi preciso encontrá-lo e separá-lo dos demais para só então medir a quantidade de tório existente. “Contudo, como estamos trabalhando com dados de alta resolução, o desafio se tornou um pouco menos complicado. Ainda assim, foi uma árdua tarefa”, concluiu.

Veja

 

Opinião dos leitores

  1. Ao invés de estarem estudando como tirar o nosso povo da miserabilidade em nosso território brasileiro, tão gastando dinheiro pra uma coisa desnecessária no momento.

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