Diversos

Astrônomos estudam atmosfera de exoplaneta que “não deveria existir”

(Foto: Ethen Schmidt | University of Kansas)

Uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, rastreou pela primeira vez a atmosfera de um tipo incomum de exoplaneta, apelidado de “Netuno quente” por ter o mesmo tamanho desse planeta do nosso Sistema Solar. As análises sobre o astro, batizado de LTT 9779b, foram realizadas graças aos dados coletados pelos telescópios espaciais Tess e Spitzer, da Nasa, e compartilhadas nesta segunda-feira (26) no Astrophysical Journal Letters.

“Pela primeira vez, medimos a luz proveniente desse planeta que não deveria existir”, explicou Ian Crossfield, principal autor do estudo, em comunicado. “Esse planeta é tão intensamente irradiado por sua estrela que sua temperatura está acima de [1650 graus Celsius] e sua atmosfera poderia ter evaporado completamente. Ainda assim, nossas observações do Spitzer nos mostram sua atmosfera por meio da luz infravermelha que o planeta emite.”

Em LTT 9779b, um ano dura menos de 24 horas, não há superfície sólida e o calor é extremo: materiais como chumbo, platina, cromo e aço inoxidável derreteriam por lá. “O planeta também não transporta muito calor para o lado noturno, mas acreditamos que entendemos o motivo”, disse o coautor Nicolas Cowan. “A luz de sua estrela provavelmente é absorvida no alto da atmosfera, de onde a energia é rapidamente irradiada de volta ao espaço.”

Como explicam os astrônomos, planetas como Netuno são muito raros em regiões próximas às suas estrelas hospedeiras, pois não são massivos o suficiente para evitar a evaporação atmosférica de suas substâncias. Dessa forma, a maioria dos exoplanetas quentes próximos às hospedeiras são maciços e rochosos, e há muito perderam a maioria de suas atmosferas.

“Queremos continuar a observá-lo com outros telescópios para que possamos responder a mais perguntas”, disse Crossfield. “Como esse planeta consegue reter sua atmosfera? Como se formou, em primeiro lugar? Era inicialmente maior, mas perdeu parte de sua atmosfera original? Se sim, então por que sua atmosfera não é apenas uma versão em escala reduzida das atmosferas de exoplanetas maiores e ultraquentes? E o que mais pode estar escondido em sua atmosfera?”

Galileu

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Diversos

Brasileiros estudam drogas psicodélicas para tratar depressão e dependência química, administradas em ambientes clínicos e com supervisão

Foto: BBC News Brasil

“Sou hoje (semanas depois da primeira experiência) um homem mais desamarrado, sobretudo bem mais livre de mim mesmo […] Livrei-me de algumas túnicas da minha fantasia, quase todas depressivas. Despertei certa manhã de domingo, muito mais curioso do universo e muito menos angustiado pela catástrofe humana. Existir ficou um pouco menos difícil.”

O trecho acima é parte de uma série de crônicas em que o escritor Paulo Mendes Campos (1922-1991), um dos mais importantes nomes da literatura brasileira, relatou suas experiências com o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), uma substância psicodélica hoje proibida.

Em 1962, quando participou dos testes, a droga estava sendo explorada e pesquisada pela ciência e pela medicina. Poucos anos depois, o LSD e outras substâncias psicotrópicas foram proibidas e criminalizadas praticamente no mundo todo, interrompendo os estudos científicos sobre o potencial dessas drogas.

Nos últimos anos, no entanto, as pesquisas com as drogas psicotrópicas, também chamadas simplesmente de “psicodélicos”, renasceram como uma possibilidade de tratamento eficaz para patologias que têm se mostrado difíceis de tratar: depressão, ansiedade, dependência química, transtorno de estresse pós-traumático, entre outras. E, mais uma vez, cientistas brasileiros estão na vanguarda dos estudos nessa área.

Médicos, psiquiatras, neurocientistas, psicólogos e terapeutas do país estão pesquisando os efeitos positivos de substâncias sintéticas, como LSD e MDMA, mas também algumas que têm origem na natureza, como ibogaína, psilocibina e ayahuasca.

Nas últimas semanas, a BBC New Brasil conversou com alguns deles para entender o que vem sendo estudado, qual o potencial dos psicodélicos e como eles podem ser usados por pacientes e médicos brasileiros.

MDMA e estresse pós-traumático

Um dos pesquisadores é o neurocientista Eduardo Schenberg, diretor do Instituto Phaneros. Neste ano, ele publicou um estudo sobre uso psiquiátrico de MDMA (metilenodioximetanfetamina), em parceria com uma entidade americana que também pesquisa essas drogas.

O neurocientista Eduardo Schenberg fez um estudo clínico com MDMA. Foto: BBC News Brasil

No mercado ilegal de drogas, o MDMA já teve dezenas de apelidos, como ecstasy e molly, e é usado principalmente por jovens em festas e baladas — também é conhecido como “a droga do amor”, por sua capacidade de gerar empatia.

No tráfico, as substâncias são produzidas sem controle de qualidade: já foram apreendidas centenas de tipos diferentes de ecstasy, grande parte deles sem nenhuma molécula de MDMA.

Já o composto puro, sem acréscimo de elementos que podem fazer mal à saúde, é considerado seguro e não causa grandes efeitos colaterais — no máximo, dor de cabeça e no maxilar, náusea, inquietude e uma angústia temporária.

No ensaio, Schenberg utilizou a droga em três pacientes diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático (Tept), cujo gatilho, em geral, são experiências de violência extrema, como abuso sexual, tiroteios, sequestros, morte repentina na família e, hoje, até a covid-19.

“O transtorno causa um medo paralisante: a pessoa tem pesadelos recorrentes, ataques de pânico, palpitações, desespero, raiva. Para lidar com isso, ela reprime as emoções, pois não consegue falar sobre o trauma. Algumas vivem num estado de anestesiamento, sem propósito. Esse transtorno tem uma taxa alta de suicídios”, diz o neurocientista.

Os três pacientes passaram por uma terapia assistida por drogas psicodélicas de quatro meses. Foram 15 consultas de 90 minutos cada uma, sob supervisão de dois terapeutas, mas em apenas três delas houve uso de MDMA, com quantidade escalonada. Nessas consultas, o paciente ouve música e é estimulado a ficar introspectivo, em contato com seus sentimentos e memórias. Mas ele também pode dialogar com os terapeutas sobre o que está sentindo.

Dois dos participantes ficaram curados do transtorno, segundo o pesquisador. O terceiro melhorou muito, mas ainda precisa continuar se tratando. “Os resultados no Brasil foram espetaculares, muito parecidos com o que vem sendo observado no exterior. As estatísticas mostram que dois terços dos pacientes saem do tratamento curados”, diz.

Nesse contexto, o MDMA surge como uma possibilidade efetiva de melhorar o transtorno. Hoje, a medicação tradicional consegue tratar apenas sintomas secundários, como ansiedade, depressão e insônia. Já a terapia com MDMA propõe justamente o contrário: ela busca curar o trauma em si.

(mais…)

Opinião dos leitores

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esporte

Com início das Eliminatórias Sul-Americanas em setembro ameaçado, Conmebol e Fifa estudam alternativas

Sede da Conmebol, no Paraguai; entidade avalia alternativas para encaixar jogos das Eliminatórias no calendário — Foto: Divulgação

As Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2022 deveriam ter começado em março de 2020. A pandemia obrigou Fifa e Conmebol a empurrarem as duas primeiras rodadas para setembro. Agora até esta nova data sob ameaça. E as duas entidades estudam o que fazer.

O episódio desta terça-feira do podcast “Jogo em Casa”, do GloboEsporte.com, também trata do assunto (clique no player acima para ouvir).

Por enquanto, ninguém cogita mudar o formato do torneio. Fifa e Conmebol concordam que o ideal é manter a disputa por pontos corridos, com jogos de ida e volta entre os 10 países da América do Sul.

O problema é que esse formato demanda 18 datas, ou nove “datas-Fifa” – período de nove dias em que as seleções nacionais se reúnem e para os quais os clubes são obrigados a liberar seus jogadores. Na Europa, o futebol de clubes é interrompido para que os jogadores não desfalquem seus times enquanto as seleções jogam. No Brasil não é assim.

A ideia é que esse número de 18 jogos seja preservado. Com as janelas de março e setembro canceladas por causa do coronavírus, não há mais espaço no calendário original. Se o cronograma inicial for mantido, as Eliminatórias só terminariam em meados de 2022, depois até da data prevista para o Sorteio dos Grupos da Copa do Mundo.

As possíveis soluções para o problema seriam:

Aumentar as datas-Fifa para além dos nove dias atuais, e assim poder fazer três (ou mais) jogos, em vez dos dois atuais, em cada um desses períodos;

Criar novas datas-Fifa, nas épocas do ano em que as seleções não se reúnem (como dezembro, janeiro ou agosto, por exemplo).

Segundo o GloboEsporte.com apurou, a Fifa ofereceu para a Conmebol a possibilidade de aumentar as janelas para dez dias, e assim fazer três jogos em cada período. A ideia caiu bem na Europa, por exemplo, mas não na América do Sul.

A Conmebol argumentou que as viagens dentro do continente sul-americano são mais longas e há mais dificuldades de logística – menos voos diretos, mais necessidade de escalas – e outras alternativas passaram a ser discutidas.

No limite, uma mudança no calendário das Eliminatórias pode ter consequências até para a Copa do Mundo do Catar. Não para o Mundial propriamente dito, mas para o sorteio que define os grupos.

O evento estava inicialmente previsto para abril de 2022, logo depois da disputa das repescagens, que seriam em março. Se todo o calendário for empurrado para a frente, o sorteio corre risco de acontecer muito perto do início da Copa, que será em novembro e dezembro de 2022, e não no meio do ano, como historicamente acontece, por causa do calor do Oriente Médio.

Globo Esporte

 

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Diversos

Cientistas estudam forma de “curar” o envelhecimento e encaram período como uma doença que pode ser tratada

A CIÊNCIA DA VIDA ETERNA (ILUSTRAÇÃO: PEDRO CORRÊA)

Um dos mitos da Grécia Antiga, que remonta a 700 a.C., conta a história de amor de Eos, a deusa do amanhecer, e Titono, irmão mais velho do rei de Troia. Eos se apaixonou por Titono e pediu a Zeus que concedesse a ele a imortalidade dos deuses. Mas se esqueceu de pedir eterna juventude. Titono viveu por anos a fio, definhando, esquecido pela própria Eos, que o trancou em um quarto escuro até que, finalmente, ele se transformou em uma cigarra.

Alguns milênios depois, a longa busca da humanidade pela vida e juventude eternas ganha, pela primeira vez, contornos científicos. No Vale do Silício, pesquisadores têm tentado unir medicina e tecnologia para encontrar maneiras de nos fazer viver mais e mais jovens, encarando o envelhecimento como uma causa para as tantas doenças associadas a ele e, portanto, passível de tratamento ou mesmo cura.

“Depois de assegurar níveis sem precedentes de prosperidade, saúde e harmonia, e considerando nossa história pregressa com nossos valores atuais, as próximas metas da humanidade serão provavelmente a imortalidade, a felicidade e a divindade”, escreveu Yuval Harari em Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, best-seller publicado no Brasil em 2016 pela Companhia das Letras. “Reduzimos a mortalidade por inanição, a doença e a violência; objetivaremos agora superar a velhice e mesmo a morte”, sentencia o professor de História da Universidade Hebraica de Jerusalém.

O primeiro laboratório biomédico dos Estados Unidos dedicado inteiramente a pesquisar o envelhecimento foi criado em 1999 em Novato, na Baía de São Francisco, a poucos quilômetros do Vale do Silício. Com a missão de acabar com as doenças relacionadas à passagem do tempo, o Instituto Buck acredita que é possível as pessoas aproveitarem a vida aos 95 anos tanto quanto o faziam aos 25.

“Nesses anos de pesquisa, chegamos a duas conclusões: a primeira é de que podemos mudar o ritmo do envelhecimento em animais, modificando a genética e a alimentação”, diz o geneticista Gordon Lithgow, chefe de pesquisas no instituto. “A segunda é que o processo de envelhecimento é um gatilho — ou mesmo uma causa — para as doenças crônicas em idade avançada.” A grande hipótese, segundo Lithgow, é que a medicina talvez esteja olhando para as doenças crônicas associadas ao envelhecimento da forma errada — e, se conseguirmos reverter ou retardar o processo, talvez seja possível proteger o corpo dos danos causados por ele.

Além do Buck, laboratórios como o Calico e o Unity Biotechnology têm como objetivos explícitos “resolver a morte” e “combater os efeitos do envelhecimento” e são financiados pelos bilionários Sergey Brin e Larry Page, fundadores do Google, Jeff Bezos, da Amazon, e Peter Thiel, do PayPal. Mas é a Fundação SENS, criada em 2009 pelo cientista da computação inglês Aubrey de Grey, entre outros nomes, que desperta as maiores polêmicas na comunidade científica.

Na visão de Aubrey de Grey, de 56 anos, o envelhecimento deve ser tratado como um fenômeno simples, e nosso corpo visto como uma máquina ou uma engenhoca que pode ser consertada. “O motivo de termos carros que ainda rodam após cem anos é o fato de eliminarmos os estragos antes mesmo de as portas caírem. O mesmo vale para o corpo humano”, afirma o britânico em entrevista à GALILEU.

Para desenvolver o modelo que chama de SENS, sigla para Strategies for Engineered Negligible Senescence (estratégias para engenharia de uma senescência negligenciável, em tradução livre), ele olhou para os principais processos que levam ao envelhecimento conhecidos hoje: perda e degeneração das células; acúmulo de células indesejáveis, como de gordura ou senescentes (velhas); mutações nos cromossomos e nas mitocôndrias; acúmulo de “lixo” dentro e fora das células, o que pode causar problemas em seu funcionamento; ligações cruzadas em proteínas fora da célula, que podem gerar perda de elasticidade no tecido em questão.

Para De Grey, basta tratar cada um desses itens e pronto: nossos problemas de saúde que surgem com a idade acabariam — quase tão simples quanto aplicar e remover um filtro do FaceApp, aplicativo que se tornou febre nas redes sociais nas últimas semanas, com um algoritmo que faz uma simulação fotográfica da aparência que poderemos ter quando mais velhos. “Não haveria limite, assim como não há limite para os carros funcionarem. Morreríamos somente de causas que não têm a ver com quanto tempo atrás nascemos. Impactos de asteroides, acidentes etc.”, diz.

Esse é um trecho da reportagem de capa da edição de agosto de 2019 da GALILEU, que já está nas bancas.

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *