Polícia

Polícia Civil do Pará indicia brigadistas por incêndios em Área de Proteção Ambiental de Alter do Chão

Da esquerda para a direita: Marcelo Cwerver, Gustavo Fernandes, João Romano e Daniel Gutierrez, brigadistas de Alter do Chão — Foto: Divulgação

A Polícia Civil do Pará indiciou 4 brigadistas pelos incêndios que atingiram a Área de Proteção Ambiental de Alter do Chão, no Oeste do estado, em setembro deste ano. O advogado deles diz que a conclusão é “precipitada”

Em relatório de quarta-feira (18), obtido pelo G1, o delegado Waldir Freire Cardoso aponta como responsáveis pelas queimadas os brigadistas Daniel Gutierrez Govino, João Victor Pereira Romano Marcelo Aron Cwerner e Gustavo de Almeida Fernandes, e Ronnis Repolho Blair, conhecido como “Cebola”, que foi treinado pela brigada, mas não a integra.

O documento diz que várias linhas investigativas foram apontadas, inclusive a participação de grileiros de terra ou de incêndios para limpeza de terrenos que teriam fugido ao controle. Mas, segundo o delegado “a investigação tomou rumo em direção à atividade dos líderes da Brigada de Alter do Chão”.

Segundo Cardoso, que assumiu o inquérito após determinação do governo do Pará, os indícios recolhidos na investigação “demonstram a participação ativa dos referidos Brigadistas nos eventos” e que havia “o interesse destes em disseminar registros fotográficos em âmbito nacional e internacional com a finalidade de promoção da tragédia e em benefício de auferirem vantagens financeiras através de vultosas doações em dinheiro, por parte de pessoas de boa fé de todo o globo.”

Os 5 vão responder por dano a unidades de conservação e áreas de proteção ambiental (pena de 1 a 5 anos de prisão), concurso de pessoas (que pode agravar a pena) e associação criminosa (1 a 3 anos de prisão).

O advogado dos 4 brigadistas, Fernando da Nóbrega Cunha, classificou a conclusão como “precipitada” e negou que seus clientes sejam responsáveis pelos incêndios.

“Me parece, com todo o respeito, açodada e precipitada essa conclusão do inquérito e o indiciamento de pessoas inocentes”, disse o advogado Fernando da Nóbrega Cunha. Em nota, a defesa afirmou ainda que as conclusões da polícia são baseadas “numa ilação extraída de depoimentos meramente especulativos” e que “sequer existe uma perícia técnica atestando se o incêndio teve eventualmente origem criminosa”.

Fernando da Nóbrega informou que na quinta-feira (19), logo que tomou conhecimento que o inquérito havia sido concluído, fez um pedido à Justiça de Santarém para que pedisse os documentos que foram enviados ao Ministério Público e encaminhasse à Delegacia de Polícia para que sejam ouvidas cinco testemunhas indicadas pela defesa.

O G1 procurou Ronnis Blair, que ainda vai conversar com seus familiares e só depois decidirá se vai se pronunciar ou não sobre o seu indiciamento.

O indiciamento significa que o delegado responsável pelo caso vê indícios concretos de que o investigado cometeu determinado crime. Ao ser formalizado, com base nas evidências colhidas durante a apuração, o documento tem de passar pelo Ministério Público.

Uma vez nas mãos do MP, o relatório é analisado pelos procuradores que, caso considerem haver provas suficientes contra o indiciado, são os responsáveis por apresentar denúncia à Justiça.

A Brigada de Alter do Chão é um dos projeto da Organização Não Governamental (ONG) Instituto Aquífero, do qual o brigadista Marcelo Cwerner é presidente. A reportagem mandou uma mensagem à assessoria da entidade às 12h53, mas não havia obtido resposta até a última atualização desta reportagem.

O G1 também procurou, às 12h55, a ONG Saúde e Alegria, da qual o brigadista Gustavo Fernandes é diretor de logística e que participou do treinamento de brigadistas, mas não obteve retorno.

O Ministério Público do Estado do Pará também foi procurado, e por meio de sua assessoria informou que está em recesso de fim de ano e que só retoma as atividades no dia a 07 de janeiro. Durante o período do recesso todos os prazos ficam suspensos. O processo foi enviado quinta-feira (19) ao MP. Uma portaria nomeou cinco promotores para atuar nesse processo. Eles vão analisar o inquérito após o recesso.

Delegado da investigação foi trocado e MPF questionou

A investigação que levou ao indiciamento dos brigadistas foi alvo de questionamentos após a detenção deles, em 26 de novembro – eles acabaram soltos dois dias depois (veja o vídeo divulgado por eles logo após a soltura), e o governo do Pará trocou o delegado responsável pelas apurações.

Além disso, no dia seguinte à prisão, o Ministério Público Federal (MPF), que desde 2015 apura a grilagem de terra em Alter do Chão, pediu acesso ao inquérito e afirmou que investigações apontavam “assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental” na região.

G1

 

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Judiciário

MPF pede que processo das queimadas e brigadistas presos em Alter do Chão passe à Justiça Federal

Da esquerda para a direita: Marcelo Cwerver, Gustavo Fernandes, João Romano e Daniel Gutierrez, brigadistas de Alter do Chão — Foto: Divulgação

O Ministério Público Federal (MPF) enviou nesta terça-feira (3) um pedido para que o processo que trata das queimadas em Alter do Chão e das prisões de quatro brigadistas pela Polícia Civil fique com a Justiça Federal. Os brigadistas, presos no dia 26, foram liberados da prisão preventiva na última quinta-feira (28), mas ainda são considerados suspeitos e respondem ao processo judicial da Justiça Estadual do Pará. O MPF entende agora que o caso deve prosseguir apenas na esfera federal.

Enquanto o inquérito da Polícia Civil do Pará acusa os voluntários de provocar os incêndios para arrecadar doações, uma outra investigação, conduzida pela Polícia Federal a pedido do MPF, “aponta para o assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental”.

Segundo a promotoria, há duplicidade nas investigações e deve prevalecer a competência judicial federal porque as queimadas ocorreram em terras públicas da União. “As imagens e mapas produzidos pelo Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária) demonstram que os incêndios florestais ocorreram dentro da APA Alter do Chão e do projeto de assentamento agroextrativista Eixo Forte, mas ambos estão sobrepostos à gleba de terras públicas federais Mojuí dos Campos I”, explica o MPF.

A prisão dos quatro brigadistas voluntários causou indignação entre ambientalistas e ONGs do setor. Antes da soltura dos voluntários, o MPF já havia pedido acesso ao inquérito da Polícia Civil, que acusa os brigadistas de atear fogo na floresta para arrecadar recursos financeiros para a Brigada de Alter do Chão. Além disso, o Governo do Pará trocou o delegado responsável pelo caso e acionou a Corregedoria da Polícia Civil do Estado para apurar as investigações.

Um dos indícios usados pela Polícia Civil para pedir a prisão dos suspeitos foi um diálogo em que um deles é convidado a “ir para o fogo” nos estados do Acre, Amazonas e Rondônia. No inquérito, os investigadores questionam como o brigadista poderia saber onde ocorreriam os incêndios.

Soltura dos brigadistas

Os quatro brigadistas divulgaram na noite da última sexta-feira (29) um vídeo de agradecimento ao apoio recebido de familiares, amigos e nas redes sociais.

Daniel Gutierrez, Marcelo Cwerver, João Romano e Gustavo Fernandes passaram dois dias na prisão. Eles foram presos na manhã de terça (26) e liberados no fim da tarde desta quinta (28), mas ainda são considerados suspeitos pela polícia.

De cabelo e barba raspados, e vestindo camisetas da Brigada de Incêndio Florestal de Alter do Chão, eles se revezaram para comentar as acusações e agradecer pelas mensagens de apoio que receberam de familiares, amigos e de desconhecidos de dentro de fora do Brasil.

Áudio do governador

Em um áudio enviado ao governador do Pará, Helder Barbalho, sobre a situação dos incêndios na Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão, no oeste do Pará, o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar, afirma que o local é “área de invasores'” e que teria “policial por trás”.

No áudio enviado ao governador no dia 15 de setembro deste ano, Nélio fala ainda que o “povo lá anda armado” e que os bombeiros não teriam ido ao local conhecido como Capadócia. “Só está a Brigada lá, o bombeiro não está indo lá”, falou o prefeito. Depois, o prefeito ainda disse que é preciso “identificar esses criminosos”.

Ao G1, o prefeito Nélio Aguiar disse que passou o áudio para o governador para mantê-lo informado. “Somente os Brigadistas estavam no local e a Semma [Secretaria Municipal de Meio Ambiente] estava receosa de entrar na área por ser uma área de conflito desde 2015, que houve problema na área com relação a grilagem por causa da comercialização de lotes e o ex-policial que foi julgado inclusive e está foragido, o Silas”, explicou.

G1

 

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  1. Em breve retornarão para a cadeia. Recebiam dinheiro sem fazer nada e quando Bolsonaro fechou as torneiras, reso0lveram colocar fogo nas matas criminosamente.

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Polícia

Governo do Pará troca o delegado do caso dos quatro brigadistas presos em Alter do Chão e aciona corregedoria da Polícia Civil

O Governo do Pará anunciou nesta quinta-feira (28) que trocou o delegado responsável pelo caso dos quatro brigadistas presos e investigados por incêndios florestais na região de Alter do Chão, em Santarém. A Corregedoria da Polícia Civil do Estado foi acionada para apurar as investigações.

Em nota, o governo do Pará informou que o Diretor da Delegacia Especializada em Meio Ambiente, Waldir Freire Cardoso, vai substituir o delegado que presidia o inquérito, José Humberto Melo Jr.

Ainda segundo o comunicado, a mudança “não interfere em investigações da Polícia Civil do Estado, que é autônoma e não tem o poder de realizar prisões sem autorização judicial”.

Os brigadistas foram presos preventivamente nesta terça-feira (26), em uma operação da Polícia Civil que apura a autoria de queimadas ocorridas em setembro. Segundo as investigações, os brigadistas provocaram o fogo para se beneficiar da doação de dinheiro destinado ao combate às chamas.

Os advogados deles alegam inocência e já entraram com pedido de liberdade. Afirmam ainda que as escutas telefônicas que teriam sido usadas para justificar as prisões não comprovam as acusações. ONGs citadas na investigação também refutam acusações.

Na nota desta quinta, o governo diz que “não há qualquer qualquer predisposição contra qualquer segmento social” e que “caso a conclusão das investigações apure crime, trata-se de fato isolado”.

“O Governo do Pará reitera que as ONGs são fundamentais para a preservação das florestas no Estado e que o Executivo continua parceiro de todas as instituições e entidades que respeitam as leis brasileiras”, segue o texto.

O governador do Pará, Helder Barbalho, postou em rede social uma mensagem na qual afirmou: “determinei a substituição da presidência do inquérito para que tudo seja esclarecido da forma mais rápida e transparente possível”.

A prisão dos quatro voluntários da Brigada de Alter do Chão foi mantida nesta quarta-feira (27) após audiência de custódia com o juiz Alexandre Rizzi, o mesmo que autorizou a prisão dos acusados.

MPF analisa caso

Nesta quinta, o Ministério Público Federal (MPF) pediu para analisar o processo judicial que trata da prisão dos quatro brigadistas. O objetivo é verificar se há competência federal ou estadual no caso.

O pedido do MPF para analisar se a competência do caso é federal ou estadual, enviado à 1ª Vara Criminal da Comarca de Santarém, explica que já existe uma investigação na Polícia Federal para apurar as queimadas na região.

A manifestação do MPF foi protocolada um dia após o órgão solicitar à Polícia Civil acesso ao inquérito que acusa brigadistas.

Se ficar confirmado que as queimadas ocorreram em terras públicas federais, a atribuição para investigar não é da Polícia Civil, e sim da esfera federal, na visão do MPF.

O órgão também informou que desde 2015 investiga ataques grileiros na mesma região. Há, inclusive, dois processos na Justiça Federal de Santarém que tratam de grilagem e danos ambientais na APA Alter do Chão.

Em relação às queimadas de setembro, no entanto, o MPF informou que “não trabalha com suspeitos”.

Naquele mês, o MPF já havia comunicado que analisava as causas dos incêndios florestais. Na investigação do órgão federal, “nenhum elemento apontava para participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil”.

G1

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    1. Tu queria ficar preso sendo inocente vagabundo olímpico?

    2. Já sei que a Liana votou em Lula , A Maior " Alma inocente " do Pais,… Sabe de nada !!!

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Clima

Polícia Civil aponta indícios que ONGs tenham atuado em incêndios devastadores em Alter do Chão, no Pará; suspeitos são presos e documentos apreendidos

Foto: Marlena Pinheiro Soares/Arquivo pessoal

A Polícia Civil do Pará cumpriu na manhã desta terça-feira (26) quatro mandados de prisão preventiva contra brigadistas de Alter do Chão, em Santarém, no Pará (a 1.231 km de Belém).

As prisões aconteceram no âmbito da operação Fogo do Sairé, que apura a origem dos incêndios que atingiram a região de Alter do Chão em setembro deste ano.

Ao todo, o fogo consumiu uma área equivalente a 1.600 campos de futebol e levou quatro dias para ser debelado por brigadistas e bombeiros.

De acordo com a Polícia Civil, uma investigação de dois meses apontou indícios de que ONGs, entre elas a Brigada de Incêndio de Alter do Chão, tenham atuado como causadoras do incêndio.

Foram presos Daniel Gutierrez Govino, João Victor Pereira Romano, Gustavo de Almeida Fernandes e Marcelo Aron Cwerner. Também foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão.

Um dos mandados de busca foi cumprido na sede do Projeto Saúde e Alegria, uma das ONGs mais reconhecidas da região e que já recebeu vários prêmios por sua atuação na Amazônia. A ONG é integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais e, na semana passada, ganhou o Prêmio Melhores ONGs do Brasil com outras 99 organizações.

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  1. Quem rouba, sabota, mata, prevarica, mente, engana … Enfim, são criminosos costumazes, e isso todos sabemos que a esquerdalha é phd

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