Esporte

Fora de forma? Neymar diz que está no peso ideal: “Camisa era G. No próximo jogo peço M”

Foto: Reprodução / Instagram

Neymar negou que esteja acima do peso e tratou o tema com bom humor depois da vitória da seleção brasileira por 1 a 0 sobre o Chile.

Em publicação no Instagram, o atacante se manifestou sobre as críticas recebidas nas redes sociais de que supostamente estaria fora de forma e tratou o assunto com bom humor:

– Camisa era G. Tô no meu peso já. Próximo jogo peço camisa M – escreveu, em mensagem com emojis de risada.

Neymar também comentou a atuação brasileira em Santiago e admitiu que, apesar do bom resultado, a atuação foi aquém:

– Jogamos bem? Não! Ganhamos? Sim! Então f… Segue o baile. Seguimos fazendo história.

O camisa 10 não teve bom desempenho diante do Chile. Ao lado de Danilo, ele foi o jogador que mais errou passes: 11. O atacante também falhou em alguns domínios e finalizações.

O Brasil volta a campo no domingo, em clássico contra Argentina, na Neo Química Arena, em São Paulo, válido pela sexta rodada das Eliminatórias. O duelo deveria ter sido realizado em março, mas foi adiado por conta da pandemia de coronavírus.

Finalistas da última Copa América, as seleções ocupam as primeiras colocações das Eliminatórias. O Brasil é o líder, com 21 pontos e 100% de aproveitamento. A Argentina ocupa o segundo lugar, com 15.

Após a vitória em Santiago, a delegação canarinho volta ao Brasil na tarde desta sexta-feira, em voo fretado.

Globo Esporte

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Política

“Chamá-lo de genocida, como se houvesse um ato intencional de pôr fim à vida é errado. Não serei coagido a dizer algo que não é verdade”, diz jornalista Glenn Greenwald, sobre Bolsonaro

 

Foto: Gustavo Bezerra/Fotos Públicas

Antes de começar a entrevista, explico a Glenn Greenwald (e, agora, aos leitores) o propósito da conversa: conhecer um pouco mais do combativo jornalista que vem dando nó na cabeça dos esquerdistas por sua defesa intransigente da liberdade de expressão. E, de quebra, mostrar que um diálogo respeitoso e divertido entre duas pessoas que atuam em espectros políticos opostos é possível.

Ele responde com um lacônico “ok” e, no intervalo entre o silêncio constrangedor e a primeira pergunta, penso em todas as reações possíveis dos leitores mais exaltados, tanto bolsonaristas quanto lavajatistas, que talvez não estejam interessados no diálogo com o “inimigo”. Vão questionar por que estou dando espaço para Glenn Greenwald. “Aí tem”. Vão me chamar de isentão, de petista enrustido. “Seu isentão, petista enrustido!”. Vão dizer que é por isso que a esquerda sobrevive e que depois que isso daqui virar uma Venezuela não venha reclamar. E assim por diante.

Concluo rapidamente que, apesar da hostilidade em potencial, ainda assim vale a pena mostrar que dá para se sentar num bar imaginário ao lado de Glenn Greenwald e ter com ele uma conversa agradável, sem precisar apelar para a troca de sopapos. Garçom, me vê uma bem gelada!

Do outro lado da linha, Glenn parece brincar com uma lata. Ouço latidos de cachorros. E crianças fazendo algazarra. O entrevistado interrompe a entrevista duas vezes. Primeiro para dar bronca nos cachorros, que o ignoram. “Os cachorros só obedecem ao David [Miranda, deputado do PSOL e companheiro de Glenn há 16 anos], que não está aqui agora”, reclama ele. Depois para resolver os problemas de conexão.

A solução encontrada por Glenn, aliás, é generosa para com o entrevistador. Por meia hora, mais ou menos, ele se expõe à chuva e ao frio de Petrópolis, de onde fala empolgadamente e sem se irritar ou hesitar sobre todos os assuntos propostos. Sem querer que o entrevistado pegue uma pneumonia, ainda mais em tempos de Covid-19, me sinto obrigado a pôr fim à conversa um pouco antes do previsto. Uma pena.

Na entrevista abaixo, que você certamente lerá com uma atenção toda especial e com a generosidade intelectual que lhe é característica, Glenn Greenwald começa explicando por que é um defensor incansável das causas progressistas, faz “duras críticas” ao senso de humor de David Miranda, fala do policiamento de que é vítima por ser um inflexível defensor da liberdade de expressão (inclusive para o discurso de ódio) e reconhece o erro estratégico da retórica exaltada e intelectualmente desonesta de parte da esquerda.

Sempre que vejo seu nome, você está envolvido em briga, discussão, polêmica. Você não se cansa de brigar? Vale a pena tanto conflito assim?

Muitos de nós trabalhamos com coisas ligadas à nossa personalidade, que geralmente é formada quando somos crianças. Sempre gostei de debater, questionar tudo, argumentar. Minha mãe sempre reclamava de eu ficar perguntando “por que isso?”, “por que aquilo?”. Eu nunca aceitava o que falavam para mim. E tive uma experiência na infância que foi importante para mim, quando me vi como gay e a sociedade não aceitou. E isso me ensinou a nunca aceitar a autoridade, a sempre questionar tudo, debater e tentar entender os pontos de vista. Minha personalidade sempre procura o debate para questionar se a pessoa está pensando da forma certa. Mas isso não me dá raiva, tensão, ansiedade. Isso me dá força. É o que eu gosto de fazer.

[Neste momento, percebendo que o entrevistado está em desvantagem por responder às minhas perguntas numa segunda língua, sugiro que ele passe a responder às perguntas em inglês].

Ainda falando da sua personalidade, o que o faz rir?

Uso muito humor no jornalismo, no debate público. Não é necessariamente um humor que as pessoas percebam e gostam. É sarcástico, cáustico, irônico. É esse o tipo de humor de que gosto. Mas as pessoas têm senso de humor diferentes. Uma das séries de que mais gosto é Curb Your Enthusiasm. E eu passei meses tentando fazer com que David [Miranda] assistisse. Ele assistia, mas ficava dizendo que não tinha graça nenhuma. Acho que é uma questão de diferença cultural. Ele tem um estilo de humor diferente. Mas esse é o meu. Humor que deixa as pessoas incomodadas, que usa ironia, que usa deboche, que usa sarcasmo.

Você tem amigos bolsonaristas ou “de direita”? Como é seu relacionamento com eles?

Sim, claro. Aliás, a primeira vez que me convenci de que Bolsonaro venceria as eleições, em 2018, foi quando amigos nossos, incluindo amigos de infância do David que moravam no Jacarezinho, operários, pessoas das favelas, LGBTs e negros começaram a admitir que votariam em Bolsonaro. Era quase como se estivessem “saindo do armário”. E temos vários amigos que votaram em Bolsonaro. Não diria que sejam “bolsonaristas radicais”, mas, sim, tenho muitos amigos que não compartilham da minha visão política.

E você ainda conversa à mesa com esses seus amigos que votaram em Bolsonaro?

Com certeza. Não gosto que diferenças políticas interfiram na amizade. Aliás, uma das visões erradas que as pessoas têm a meu respeito é a de que, porque sou um agressivo, combativo, busco o debate político apaixonadamente, então eu devo odiar as pessoas que discordam de mim. Mas eu quase nunca levo isso para o lado pessoal. Augusto Nunes foi uma exceção, porque aquela nossa rixa não tinha a ver com política. O que me deixou com raiva foi ele ter dito que um juiz deveria tirar meus filhos de mim. Mas quando a rixa é apenas política… Eu gosto de conversar com pessoas e ter pessoas na minha vida com opiniões diferentes, porque você aprende muito a respeito de como as pessoas pensam. Você não se fia a imagens caricatas. Você realmente entende por que as pessoas pensam o que pensam, o que acho que é muito importante para um jornalista. E, por fim, evita que você fique muito à vontade com suas ideias sobre o mundo. Quando você conversa com pessoas que veem as coisas de uma outra forma, você pode aprender muito e até mudar de ideia sobre algumas coisas. Por isso é importante procurar ter na vida pessoas com opiniões diferentes da sua.

Mas você não acha que tanto a esquerda quanto a direita adoram viver em bolhas, simplesmente porque é agradável estar próximo de pessoas que pensam como a gente?

[Cães latem. Glenn grita com eles.]

Seus cachorros o obedecem em inglês ou português?

Eles não me obedecem em nenhuma língua. Eles só obedecem ao David. Eles não me respeitam. [Risos] Mas, sobre as bolhas, sempre tentei sair de bolhas. Quando comecei a trabalhar na Vaza Jato, ou antes, quando o David entrou para o Congresso, dei uma entrevista ao Pânico. E muita gente de esquerda me perguntou: “por que você vai àquela rádio [Jovem Pan]?” E eu respondia que é muito importante dialogar com as pessoas que discordam de você. Como você sabe, eu apareço na Fox News o tempo todo, e isso gera controvérsia na esquerda. Mas sempre acreditei nisso. Acho que a imprensa, os políticos, o governo têm interesse em nos manter divididos, cada um no seu canto, um na direita, outro na esquerda, o que significa que você tem que odiar a outra pessoa. E acredito que as pessoas têm mais em comum do que estão dispostas a admitir.

Por que você optou por morar no Brasil?

A primeira vez que vim para o Brasil acho que foi em 1996 e 1995. Estive no Rio de Janeiro por um dia. E disse para a pessoa que estava comigo: “Estou com medo de que, pelo resto da minha vida, eu nunca mais vá conhecer outra parte do mundo, porque sempre que eu tiver tempo para viajar vou querer vir para cá”. Me apaixonei pelo Brasil no primeiro dia que passei no Rio de Janeiro. E estou aqui há 16 anos. E, quando estou nos Estados Unidos, só consigo pensar em voltar para o Brasil. Então, apesar de todos os problemas, dos loucos e doentes que todo mundo conhece, é um país tão lindo e vibrante para mim em vários níveis e me ensina tanto. E é aqui que me sinto mais à vontade.

Meus leitores, boa parte deles lavajatistas, são evidentemente hostis ao seu trabalho e ao trabalho do Intercept em relação à Vaza Jato. Você sente orgulho do seu trabalho? Acha que fez o certo? O fim da Lava Jato não garante a impunidade de vários corruptos?

Tenho muito orgulho do nosso trabalho na Vaza Jato, porque acho que exercemos a função do jornalismo, que é a de expor a corrupção por parte de pessoas poderosas e que agiam em segredo. Nunca fui contra o trabalho da Lava Jato. Em 2017, fui convidado a falar num evento no Canadá que premia as melhores iniciativas de combate à corrupção. Eu tinha de fazer um discurso sobre cada um dos finalistas. Um era um jornalista egípcio, outro do Azerbaijão e o terceiro finalista era a força-tarefa da Lava Jato. Houve uma grande campanha da esquerda me pressionando a não ir a um evento que estava premiando a Lava Jato, mas não cedi. E eu fui e o Deltan [Dallagnol] estava lá, com outros membros da Lava Jato. E todos estavam nervosos, não sabiam o que eu diria. Fiz o discurso e disse que tinha críticas à Lava Jato, mas que, no geral, eles estavam fazendo um trabalho corajoso e importante. Elogiei o trabalho da Lava Jato, a tal ponto que eles pegaram meu discurso e reproduziram em suas contas no Facebook, incluindo Deltan. “Aqui está o grande jornalista Glenn Greenwald defendendo o trabalho da Lava Jato”. E isso foi depois da condenação do Lula.

O Brasil tem sérios problemas de corrupção e acho que o trabalho deles foi importante, mas não se pode combater corrupção com corrupção. Por exemplo, se há um criminoso à solta, alguém que cometeu um crime horrível, como estupro ou assassinato, você não pode permitir que a polícia simplesmente invada a casa de todo mundo e, quando ela finalmente capturar o bandido, diga “ah, agora desculpe por todas as leis que a polícia infringiu, afinal ela conseguiu pegar o bandido”. Não. A polícia precisa obedecer a lei porque, se a polícia infringir a lei, isso gera abusos contra a sociedade. Foi isso o que aconteceu com a Lava Jato. E a culpa pelo fato de a Lava Jato estar em perigo não é minha nem de outros jornalistas por revelarmos a corrupção por parte de Sergio Moro e da força-tarefa. A culpa é deles. Eles deveriam ter cumprido as regras. E, sim, eles descobriram muita corrupção, mas eles também foram corruptos ao abusarem do poder de processar e julgar. E isso é grave.

E queria acrescentar só mais uma coisa: para mim é uma ironia esse argumento de lavajatistas de que não se deve criticar o que Moro e a Lava Jato fizeram porque o trabalho deles foi importante e, ao criticar isso, você menospreza a importância do trabalho deles. Esse é exatamente o mesmo argumento e mentalidade que os defensores de Lula e do PT usaram durante o Mensalão, dizendo “certo, eles talvez tenham feito algumas coisas que não deveriam ter feito, mas estão tentando tirar pessoas da pobreza, melhorar o país. Por que vocês estão atacando Lula e o PT, impedindo que eles ajudem os pobres?”. É o mesmo argumento. E a resposta para isso era “não que eu seja contra a plataforma política do PT, mas pagar propina a deputados é algo que corrompe a democracia”. Não importa o que tenha motivado isso. Então é exatamente assim que vejo nosso trabalho de reportagem. Não sou contra a Lava Jato. Sou a favor da Lava Jato. Sou contra o abuso de poder por parte de juízes e procuradores. E foi isso o que a reportagem revelou.

Também não sou contra o jornalismo investigativo, claro. Mas usar mensagens hackeadas também não seria uma forma de corrupção? A gente não acaba entrando num círculo vicioso de abuso de poder, de corrupção do poder de cada instituição?

Olha, alguns dos maiores trabalhos jornalísticos já feitos só foram feitos porque as fontes infringiram a lei para obter informações. Porque em geral as autoridades, o governo, os poderosos conseguem usar a lei para esconder o que fazem. Então a única forma de obter informações sobre o que eles fazem é infringindo a lei. Eu lhe dou um exemplo: durante cinco anos, a Lava Jato e a Polícia Federal vazaram delações para a imprensa. Para a Globo, Folha, Estadão. Isso era ilegal. Sempre que a Lava Jato ou Polícia Federal vazavam detalhes de uma investigação, o que faziam constantemente, isso era ilegal. E a Globo estava ganhando muito dinheiro com essas manchetes, colocando isso no Jornal Nacional. E ninguém jamais disse “ah, a Globo não deveria estar divulgando acusações em delações porque o vazamento disso é ilegal”. Não. As pessoas diziam que isso era de interesse público. O mesmo serve para a conversa entre Lula e Dilma que teria revelado abuso de poder por parte de Dilma, que tentava pôr Lula no governo para protegê-lo. No final das contas, o STF disse que a gravação daquelas conversas era ilegal porque Moro precisava de permissão do STF para gravar Dilma. E ainda assim as conversas foram divulgadas. As pessoas consideravam isso uma informação importante, ainda que tenha sido ilegalmente obtida. [A ligação começa a falhar]

Glenn, a ligação falhou e eu perdi a última parte do que você disse. Mas peguei a maior parte da resposta. Você prefere repetir ou podemos prosseguir?

Não! Deixe-me repetir porque acho que é importante.

[Glenn começa com “alguns dos maiores trabalhos jornalísticos”, mas a ligação precisa ser restabelecida. Quando isso finalmente acontece, Glenn repete a resposta com uma precisão incrível, usando praticamente as mesmas frases, com as mesmas palavras, na mesma ordem. E acrescenta a parte que ficou inaudível].

Se você olha para os Estados Unidos, com o Pentagon Papers, com a reportagem que fiz com Edward Snowden sobre a NSA e como ela espiava todo mundo, incluindo o Brasil, com a Wikileaks e a corrupção dentro do Partido Democrata… A maior parte disso era de fontes infringindo a lei para dar informações a jornalistas. Informações que os jornalistas não teriam como obter, sobre o que poderosos estavam fazendo. Então é óbvio que jornalistas não têm o direito de infringir a lei. Mas se a fonte chega até você com informações relevantes e verdadeiras, o fato de elas terem sido obtidas ilegalmente não lhe dá o direito de omiti-las ou escondê-las ou ignorá-las. Na verdade você tem o dever de divulgar. Quando eu estava trabalhando numa reportagem com a Globo sobre como a NSA espiava a Petrobras, o Ministério das Minas e Energia e o sistema brasileiro de telecomunicações, ninguém nunca me perguntou por que eu estava divulgando aquelas informações obtidas à margem da lei. Fui ao Senado e fui inquirido pela direita, esquerda, centro… A Globo ganhou até prêmio pela reportagem. Então as pessoas parecem ter esse problema só quando a reportagem de alguma forma atinge seu lado político.

Mas o uso jurídico dessas mensagens é que complica a trama, não acha?

Sim. A lei obviamente diz que informações ilegalmente obtidas não podem ser usadas em processos judiciais. E o arquivo que nós tínhamos não pôde ser usado pelos advogados de Lula porque foi obtido ilegalmente. O arquivo acabou sendo usado só porque foi a Polícia Federal o apreendeu ao prender os supostos hackers [na Operação Spoofing]. Só por isso as mensagens acabaram usadas no processo judicial. Não o nosso arquivo, mas o arquivo obtido pela Polícia Federal.

Nessa nossa conversa, por duas vezes você mencionou o policiamento da esquerda, que criticou sua ida ao Pânico e a um evento no Canadá. Nós, na Gazeta do Povo, enfrentamos essa perseguição por parte da milícia virtual Sleeping Giants. Você tem um histórico de luta pela liberdade de expressão, por isso queria que você me dissesse o que pensa de iniciativas como a do Sleeping Giants e do policiamento por parte dessas pessoas que você chama de “ideólogos extremistas”.

Essa é uma das minhas maiores discordâncias com a esquerda, provavelmente a maior. Essa coisa de a esquerda ter se tornado o movimento político que acredita em censura, em policiamento do discurso, em proibir e banir ideias de que não gostam, em expulsar pessoas da Internet – que deveria ser livre do controle de empresas e do governo. Acredito que essa seja uma grande diferença cultural entre os Estados Unidos e o Brasil. Lá, o movimento pela liberdade de expressão ao longo de todo o século XX foi de esquerda. A organização que mais agiu para defender a liberdade de expressão defendia até mesmo nazistas e supremacistas brancos. Essa organização era a ACLU [American Civil Liberties Union], composta quase que totalmente por advogados esquerdistas. Eles eram meus heróis na minha juventude. Eles defendiam o direito à liberdade de expressão das pessoas mais odiadas do país. Antes de ser jornalista, eu era advogado constitucionalista e participei de muitos casos como esses, seguindo os passos da ACLU, defendendo supremacistas brancos e também extremistas de esquerda. Além disso, os votos mais importantes na Suprema Corte dos EUA, em casos que diziam respeito à liberdade de expressão, foram escritos por juízes de esquerda. O movimento pela liberdade de expressão ganhou força com o movimento antibélico, nos anos 1960. Era um movimento sediado em Berkeley, uma universidade de esquerda. Então para mim a liberdade de expressão sempre foi uma causa da esquerda, um dos mais importantes princípios da esquerda. Nos Estados Unidos, a censura geralmente vinha da direita. Eles queriam censurar material pornográfico, discos que…

[A ligação é novamente interrompida. Fico lá falando “alô, alô, tem alguém me ouvindo?” até perceber que não há o que fazer senão ligar de novo. Glenn atende e continua animadamente com a resposta].

Acho que no Brasil sempre houve essa ideia de que a liberdade de expressão deveria ser restrita, de que o discurso de ódio deveria ser contido. Não concordo com isso. Não confio em nenhuma autoridade que tenha poder para determinar quais ideias podem ou não ser expressas. Não acho que as pessoas devam ser expulsas da Internet por defenderem ideias de que as Big Tech ou governos não gostam. Acho que é muito perigoso dar ao Facebook ou ao Judiciário o poder de determinar o que é verdade e o que é mentira. E tenho falado sobre os perigos da investigação do ministro Alexandre de Moraes contra bolsonaristas, incluindo alguns que eu desprezo, como Oswaldo Eustáquio. É perigoso tirar bolsonaristas das redes sociais, obrigar Twitter e Facebook a silenciá-los, prendê-los por suas opiniões. Essa é definitivamente uma grande diferença que tenho com a esquerda. O que nunca entendi é que, se você perguntar a um esquerdista o que ele pensa sobre o governo, sobre o Judiciário, sobre as Big Tech, ele dirá que essas instituições são totalitárias, fascistas, direitistas. Mas daí você pergunta se ele quer dar poder a essas instituições para controlar o discurso e ele responde “sim, quero permitir que Mark Zuckerberg, o governo e o Judiciário possam determinar o que pode ou não ser dito na Internet”. Pra mim essa é uma ideia muito mais perigosa do que qualquer dessas ideias que eles tentam censurar.

Quando você se posicionou contra Joe Biden, deu um nó na cabeça de muita gente. Me parece que sua posição está mais para a de um anarquista. Você não reconhece autoridade. Mas agora você é casado com um político, com uma autoridade constituída. Não há uma contradição aí?

[Risos] Na verdade não me identifico como anarquista. Não vejo minha filosofia como uma que defende a extinção do governo ou o fim da política. Mas com certeza sou antiautoritarismo. Acho que esse é um rótulo justo. Em geral não gosto de rótulos como “esquerda” e “direita”, mas se alguém me pergunta com que rótulo me sinto à vontade, geralmente respondo “libertário”.

Quanto à sua pergunta, quando conheci o David ele não era político. Na verdade, lembro que, quando comecei minha carreira de jornalista e nós tínhamos que jantar com um político ou jornalista, o David dizia: “ah, não quero ir. Vocês vão ficar falando de política a noite toda. Isso é chato demais”. Ele realmente não queria saber de política. Queria trabalhar para a Sony, trabalhar com videogames. Foi a política que o encontrou e não ele quem encontrou a política. Ele foi detido no aeroporto de Heathrow [em Londres] e isso o radicalizou. O que [Edward] Snowden sofreu o radicalizou ainda mais. Ele fez campanha pelo asilo de Snowden. O fato é que, depois de 16 anos de casamento, você sempre terá diferenças políticas com a pessoa. Não compartilho de todas as opiniões políticas de David e nem ele as minhas. E não vejo uma contradição aí, porque não vejo David como um político autoritário. Ele tem falado em entrevistas sobre os excessos da esquerda, sobre a cultura do cancelamento e essa recusa em estabelecer um diálogo. E é interessante porque, quando David foi vereador no Rio de Janeiro, antes de virar deputado, ele trabalhou com vários vereadores de direita, incluindo Carlos Bolsonaro, a fim de aprovar leis. Então acho que ele faz uma política com a qual me sinto à vontade.

Levando em conta a polarização, radicalização, os movimentos identitários, a pandemia e até a expansão da China, como você imagina o mundo daqui a 30 anos? Ele é melhor ou pior do que hoje?

É difícil prever o futuro porque ele será determinado pelas batalhas que estamos travando agora. Acho que uma das invenções mais importantes dos últimos cem anos foi a Internet, justamente por ser um instrumento de libertação, permitindo que as pessoas se comunicassem e disseminassem ideias sem que autoridades pudessem controlá-las. Mas a Internet também é capaz de fazer o contrário, centralizando o poder nas mãos de governos e empresas, virando uma arma de vigilância e monitoramento. Então hoje há essa batalha para garantir que a tecnologia não permita o controle centralizado. Há todo um movimento agora em torno de criptomoedas. E não é um movimento financeiro. A ideia é contornar o controle centralizado. Por isso eu me atenho a essas batalhas: liberdade de expressão, Internet livre, privacidade. Porque, se perdermos essas batalhas, as tecnologias que estão sendo desenvolvidas serão usadas para controlar os seres humanos como nunca antes. Por outro lado, se vencermos essas batalhas, teremos uma liberdade como não vemos há séculos. Então sou otimista, mas não acho que esteja garantido que, daqui a 40 anos, o mundo será mais livre. Consigo vê-lo com facilidade sendo mais repressivo, mais autoritário.

A China é uma ameaça para o mundo?

Existe uma coisa muito interessante acontecendo entre a China e os EUA. Em geral, quando os Estados Unidos têm um inimigo, todos os centros de poder norte-americanos se unem. Foi assim com Cuba e União Soviética, durante a Guerra Fria, ou Venezuela e Irã. Grandes empresas, as Forças Armadas, a CIA, todos se unem e passam a ver o inimigo como tal. Hoje o que estamos vendo com a China é o oposto. Os centros de poder norte-americanos estão em dívida com a China. E não só Hollywood. Também as Big Tech. E, mais importante, Wall Street. Porque as empresas norte-americanas, nas últimas décadas, têm transferido a produção e empregos para o exterior, sobretudo para a China, porque a China não tem leis trabalhistas, os salários são baixos, eles têm fábricas insalubres que empregam mão-de-obra infantil. Assim, os maiores aliados da China são Wall Street, o Vale do Silício e Hollywood. Mas as forças armadas e a CIA veem a China como um adversário e uma ameaça. Assim, como a China será vista pelos EUA é uma grande incógnita. Acho que o mais provável é que China e EUA se aproximem e os EUA se tornem mais parecidos com o modelo chinês, e não que eles venham a se tornar grandes adversários, como numa nova Guerra Fria. E me preocupo com isso, porque não acho que a China seja uma ameaça para os EUA. A maior ameaça é a de que os EUA fiquem mais parecidos com a China.

Algo que me incomoda muito na esquerda é essa coisa de chamar Bolsonaro de genocida. Você se sente à vontade com esse rótulo? Ou você acha que isso é até desrespeitoso com povos que realmente sofreram genocídio?

É algo muito semelhante ao que aconteceu nos EUA, com Trump. As pessoas não se satisfaziam em criticar Trump pelo que ele merecia ser criticado. Trump defendia políticas que eu não só desaprovava como considerava perigosas. Mas não bastava dizer isso. Era preciso compará-lo a Hitler. Você tinha de dizer que ele era ditador, supremacista branco, que ele foi chantageado pela Rússia, que era um agente russo infiltrado. Rótulos malucos e extremistas tinham de ser colocados nele e, se você não fizesse isso, acabava acusado de ser um apoiador de Trump.

Um dos motivos para eu ser contrário a essa abordagem é que ela é desonesta. Trump não é um Hitler. E acho que é ofensivo usar o Holocausto e Hitler para se referir a alguém que não é, de forma alguma, capaz de tentar fazer o que fez de Hitler um ser tão unicamente mau, como matar milhões de pessoas por causa da sua raça e religião. Intelectualmente eu considero isso ofensivo, historicamente eu considero isso ofensivo. E também acho que é estúpido. Porque quando você usa retórica extremista, as pessoas perdem a confiança no que você está dizendo. Assim, quando chega a hora de realmente fazer soar o alarme para coisas realmente horríveis, as pessoas ignoram, porque essas palavras são ditas tão a esmo que perdem a força. Acho que isso acontece muito com palavras como “racismo”, “misoginia”. Se você as usa exageradamente, elas perdem a força. Acho que isso aconteceu com “antissemitismo”. As pessoas que criticavam Israel eram consideradas antissemitas com tanta frequência que a palavra perdeu sua força.

No Brasil o que acontece é algo bastante semelhante. Se você é de esquerda, não basta dizer que acha que Bolsonaro gerencia muito mal a pandemia e que, por isso, pessoas morrem. É nisso que acredito. Não basta dizer que ele preferiu crescimento econômico e defender sua popularidade política a proteger a vida das pessoas. Acho que essa também é uma crítica válida. Mas chamá-lo de genocida, como se houvesse um ato intencional de pôr fim à vida de um grupo por causa de sua raça, etnicidade ou religião, o que seria um genocídio de verdade, é errado. Não serei coagido a dizer algo que não é verdade.

E também acho que, quando você faz isso, consegue um monte de apoio. Se você vai para o Twitter e chama Bolsonaro de “genocida”, consegue 5 mil retuítes e 25 mil likes. Seu cérebro lhe diz: “você está fazendo algo de bom. Continue fazendo isso”. Esse é um dos efeitos nocivos das redes sociais. Acho que esse foi um dos motivos para a vitória de Bolsonaro e Trump. Os críticos foram tão irresponsáveis e tão descuidados com a verdade que ele se tornou uma figura admirável para as pessoas que ainda não estavam convencidas a votar nele. Então essa obsessão da esquerda em usar linguagem exagerada, sem se importar com o fato de ser ou não verdade, só porque isso faz com que eles se sintam bem, é ofensivo, desonesto e é sobretudo estrategicamente estúpido.

Sem contar que é mais difícil fazer uma crítica contundente e inteligente. É muito mais fácil xingar. E também é difícil reconhecer algo de bom no seu opositor.

Sim, mas vamos deixar claro uma coisa. Não é só a esquerda que faz isso. Se você perguntar a um bolsonarista o que ele pensa do Lula, ele dirá que é um comunista. Mas Lula governou o Brasil por oito anos e o capitalismo prosperou, os grandes empresários amam o Lula, o mercado quer Lula presidente de novo porque o Brasil cresceu em termos econômicos. Ele não era comunista, não governou como comunista e nunca vai. E nem se quisesse ele poderia. Acho que, como o debate é realizado nas redes sociais, sobretudo no Twitter, que é onde políticos e jornalistas passam a maior parte do tempo, isso encoraja esse tipo de linguagem que estimula as emoções. Se você for ao Twitter e disser “eis quatro coisas que acho que Bolsonaro fez de errado na pandemia”, você terá uns poucos retuítes, talvez 30 likes. Mas se você postar algo o chamando de assassino, fascista, genocida, um louco como Hitler, você terá 10 mil retuítes e sua popularidade vai aumentar. Então as redes sociais estimulam esse tipo de discurso.

(mais…)

Opinião dos leitores

  1. Até esse Glenn, casado com um deputado do PSOL, consegue entender o que alguns mentirosos e irresponsáveis (criminosos) que postam por aqui, não enxergam. Essa militância paga só pode ser mesmo do PT. Rsrsrs

  2. No nosso RN já morreram mais de 700 pessoas sem direito o direito a UTI, enquanto o governo aqui diz que é enxugar gelo a instalação de novos equipamentos. Isso na minha terrinha tem nome.

  3. O gleen sendo reproduzido aqui? Surpresa mesmo. Por que será? Será porque disse que Bolsonaro não é genocida?

  4. Genocida é o governo das trevas (PT) que passou 16 anos no poder e faliu o país, preferiu construir estádios do que hospitais.

  5. Alguém tem que indagar a esse canalha?, Se tivessem gravado as ligações dos bastidores do governo petralha, com toda sua podridão, ele também teria divulgado, outra, ele acha que mesmo depois de recuperado e provas das propinas pra luladrão, ele acha que o comandante do maior esquema de corrupção do mundo é inocente?

  6. Num governo que tem generais da reserva e da ativa comandando ministérios cruciais e 6 mil militares aparelhando cargos de nomeação política, vamos aceitar que caia tudo nas costas só de Pazuello?

  7. Bolsonaro RECUSOU 11 OFERTAS de fornecimento de vacina. ONZE! Estamos falando de crime, de sabotagem deliberada, não de incompetência. Em qualquer democracia saudável, um presidente desses já teria sido afastado do cargo e estaria sentado no banco dos réus como homicida.

    1. Alguma dessas vacinas tinha chancela da Anvisa? Vc tá contando com aquela sem-vergonhice que Pfeizer andou oferecendo?

    2. Ontem a Anvisa barrou a russa. Que nenhum país sério aprovou. Era pra Bolsonaro ter aceitado sem questionar? O primeiro defunto, mesmo que um em um milhão, ia pra conta dele.

    3. Qual a fonte dessa informação? Tem procedência? Credibilidade? Ou foi em algum grupo de whatssapp que você viu isso?

    4. Vc teria alguma comprovação do que diz? Leio muita noticia, até as mentirosas (que são inúmeras), e NUNCA vi essa contagem. Onze? Não há sequer onze vacinas em uso no mundo. Se fosse verdade (não é), por quais motivos teriam sido rejeitadas? A da Pfizer só pode ser comprada depois de aprovada uma lei específica pelo Congresso. Vc está espalhando mentiras.

    5. Das onze recusas conhecidas e que podem ser provadas com documentos, seis são referentes à Coronavc. Há três ofícios assinados pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, oferecendo o imunizante. O primeiro, datado de 30 de julho de 2020, e o segundo, de 18 de agosto, ficaram sem resposta. O terceiro documento foi entregue pessoalmente em 7 de outubro por Dimas Covas, ao ministro da saúde, o general Pazuello.

    6. O presidente obedece as leis do país e age com ética e moral. Não pode comprar vacina sem aprovação da ANVISA ou mediante condições absurdas e não permitidas pelas leis brasileiras. Quem agia assim eram os governos do PT. A coisa mudou, minha cara. O Brasil está sendo “consertado”.

    7. 3 ofícios, 3 videoconferências, 3 ofertas da Pfizer(NÃO É CHINESA, sem mimimi), fora o COVAX FACILITY.
      Enquanto isso, ISRAEL neste mesmo tempo…

    8. O do Peru caiu por muito menos. A Anvisa está negando a liberação da vacina Russa, não serve para o Brasil, mas 60 países, inclusive a Rússia, usam. Vai fazer igual a vacina chinesa, não servia e hoje é a que salva o país, pois sem a mesma, o ridículo número de imunizados seria quase nada.

  8. Eu concordo. O presidente tem culpa pq nao comprou vacinas, instiga o povo a sair de casa e a nao usar mascara, na contramao do resto do mundo, MAS, genocida é um termo inapropriado, na minha visao.

    1. É isso. Pode-se criticar tudo (eu mesmo acho que, fosse quem fosse na presidência, a situação geral de mortandade seria similar, porque o Brasil é Brasil), mas não é genocídio, nem existe “negacionismo”. O uso abusivo desses termos é ofensivo para o que realmente ocorreu no holocausto e outros genocídios.

    2. O Presidente comprou vacinas sim. Só não tem oferta bastante. O resto do mundo não teve uma abordagem homogênea quanto às medidas de isolamento. E a eficácia ainda é muito questionável. Ele nunca estimulou que as pessoas não usassem máscaras. SE fica nesse papo infantil do ‘mau exemplo’.

    3. Vc pode achar o que quiser, Felipe. Pode até votar em corrupto. Mas não pode MENTIR. O Brasil já comprou mais de 500 milhões de doses de vacinas e somos o 4° país no mundo em vacinação. Só estamos perdendo para países que produzem vacinas (EUA, Índia e China). Quanto a “sair de casa”, é claro que precisamos viver. Desde que tomamos os devidos cuidados, precisamos trabalhar, estudar e tocar nossas vidas. Mas, vc pode ficar trancado em casa, pode não tomar remédio algum, pode usar 3 máscaras ao mesmo tempo, escolha seu caminho. Respeite o direito alheio e cuide da sua vida.

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Diversos

OMS não apoia adoção de passaporte de vacinação contra Covid-19, diz porta-voz

Foto: Reuters

A Organização Mundial da Saúde (OMS) não apoia a exigência de passaportes de vacinação para entrada ou saída de países, devido à incerteza sobre se a vacinação contra Covid-19 evita a transmissão do vírus, e também por preocupações relacionadas à desigualdade no acesso aos imunizantes, disse uma porta-voz da entidade nesta terça-feira (6).

“Nós, como a OMS, dizemos que, neste estágio, não gostaríamos de ver o passaporte de vacinação como um requisito para a entrada ou saída porque não temos certeza de que a vacina previne a transmissão”, disse Margaret Harris.

“Existem todas essas outras questões, além da questão da discriminação contra as pessoas que não podem receber a vacina por uma razão ou outra”, disse ela em uma entrevista coletiva da ONU.

Harris também afirmou que a OMS espera analisar a listagem para uso emergencial das vacinas contra Covid-19 dos laboratórios chineses Sinopharm e Sinovac por volta do final de abril.

“Não está acontecendo tão rápido quanto esperávamos porque precisamos de mais dados”, disse ela, recusando-se a fornecer mais informações por razões de confidencialidade.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, apelou no mês passado aos países com suprimentos de vacina em excesso para doar 10 milhões de doses urgentemente para o consórcio Covax, que administra a aliança de vacinas Gavi.

Restrições de exportação da Índia da vacina da AstraZeneca produzidas pelo Instituto Serum deixaram o programa de compartilhamento de imunizantes com falta de suprimentos.

Harris disse que não tinha nenhuma atualização sobre essa questão: “Ainda estamos muito procurando por mais vacinas.”

CNN Brasil, com Reuters

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Diversos

Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RN mostra preocupação e discorda da finalização do novo Plano Diretor de Natal

Carta aberta à sociedade Natalense sobre a minuta de revisão do Plano Diretor de Natal

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte – CAU/RN, entidade que regulamenta o exercício da profissão no país, que tem entre seus propósitos institucionais pugnar pelo aperfeiçoamento e desenvolvimento da Arquitetura e Urbanismo, bem como zelar pela qualidade das cidades brasileiras, espaços urbanos que os cidadãos escolhem viver e que exercem direitos e deveres, vem a público externar sua preocupação e discordância quanto à finalização do processo de revisão que resultou na Minuta de Lei de Revisão do Plano Diretor de Natal, apresentada pela Prefeitura de Natal em audiência realizada no dia 20 de fevereiro de 2020.

Desta forma, o CAU/RN, alinhado a estes princípios, vem acompanhando de perto o processo de revisão coordenado pela SEMURB, do qual participaram ativamente seus conselheiros estaduais, seja nas audiências públicas, seja nos Grupos de Trabalho, constantes no Regimento de Revisão do Plano, aprovado em audiência pública.

Em apresentação realizada no dia 10/09/2019, durante a Oficina “Segmento de Entidades Profissionais”, o CAU/RN enfatizou seu apoio ao processo de revisão do Plano Diretor de forma democrática e participativa, cientes da importância deste instrumento como gerador de qualidade da vida urbana, de desenvolvimento socioeconômico e de preservação ambiental em toda sua complexidade. Na ocasião, destacamos que o debate sobre a vida nas cidades contemporâneas extrapolavam o mero debate sobre índices urbanísticos tradicionais, como coeficientes de aproveitamento, e que novos mecanismos mereciam ser debatidos e propostos para que atributos essenciais para a qualidade de vida nas cidades contemporâneas fossem contemplados, como proteção da paisagem, mobilidade, ênfase à escala do pedestre, vitalidade urbana e urbanidade.

O atual processo de revisão do Plano Diretor de Natal, apesar dos atrasos iniciais, foi extremamente intensificado por atividades de explanações e consultas à população em um curto espaço de tempo, a partir do segundo semestre de 2019, possibilitando o recebimento de um grande número de contribuições, dos mais diversos segmentos da sociedade, chegando ao número extraordinário tornado público pela própria SEMURB de mais de 2500 contribuições, as quais foram enviadas até o dia 15/01/2020.

Infelizmente, apesar do número e complexidade das contribuições da sociedade, a fase destinada à sistematização, análise técnica e priorização destas, confiadas aos Grupos de Trabalho, ocorreu em um tempo extremamente exíguo, inviabilizando para muitos dos Subgrupos dos GTS 1, 2 e 3, analisar o mérito das contribuições. Os representantes deste Conselho, participantes de subgrupos nos GTs, podem atestar que não houve tempo hábil para a devida consideração da maior parte das contribuições, etapa que foi considerada finalizada pela Coordenação Técnica do processo de Revisão no dia 08/02/2020.

Os membros dos Grupos de Trabalho foram surpreendidos, no dia 13/02/2020, com a convocação para apresentação da Minuta elaborada pela SEMURB, programada para os dias 18 e 19 de fevereiro. Na ocasião, foi externada durante estas reuniões a perplexidade pelo texto apresentado, que desconsiderou, sem justificativas, grande parte das contribuições populares, e que não embasou os critérios para a adoção de índices urbanísticos ou eliminação de restrições constantes do Plano Diretor em vigor.

Ainda assim, no dia 20/02/2020, tal minuta foi apresentada em audiência pública à sociedade, como sendo produto do processo de revisão, com o intuito, conforme declarado pela Coordenação Técnica e pelo Prefeito, de dar prosseguimento aos trâmites constantes do Regimento.

Desta forma, O CAU-RN está de acordo com a percepção de tantos outros segmentos da sociedade, de que o texto apresentado não faz jus à complexidade e variedade das contribuições enviadas até o dia 15/01/2020. Entendemos que com o atropelo na consecução das atribuições dos Grupos de Trabalho, perdeu-se uma grande oportunidade de aproveitar do capital humano e voluntário que se colocou à disposição do processo de revisão, emprestando seu conhecimento técnico para embasar, priorizar e validar ferramentas adequadas e pertinentes para o desenvolvimento urbano de Natal. Enfatizamos, assim, nossa compreensão de que a Minuta em sua versão final, apresentada no dia 20/02/2020, compõe uma visão aparentemente unilateral de quem a redigiu, e que não condiz com um processo participativo e democrático de um instrumento da mais alta importância, como é o Plano Diretor de uma cidade.

Assim, vimos a público solicitar que o Núcleo Gestor, entidade competente para validar a participação social neste processo, revise os trâmites considerados como finalizados pela Coordenação Técnica, a fim de oportunizar a verdadeira contribuição dos Grupos de Trabalho para uma nova versão de minuta a ser apresentada à sociedade.

Natal/RN, 02 de março de 2020.

Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Norte.

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Diversos

Mourão discorda do termo “ditadura” para período e minimiza AI-5: ‘Passam a ideia que todo dia alguém era cassado, e não foi assim’

Foto: Bruno Batista / VPR

O vice-presidente da República, Antônio Hamilton Mourão, minimizou em entrevista ao site Huffpost Brasil o Ato Institucional número 5 (AI-5), considerado pelos historiadores como a medida mais dura da ditadura militar, na qual se constituiu de uma espécie de carta branca para o governo punir como bem entendesse os opositores políticos. Mourão afirmou que é preciso ver quantas vezes o ato, que permitiu fechar o Congresso e cassar parlamentares, foi efetivamente usado.

— O Ato Institucional número 5 surgiu fruto de uma situação que se vivia aqui no País no final dos anos 60. Foi o grande instrumento autoritário que os presidentes militares tiveram à mão. É importante que depois se pesquise quantas vezes ele foi utilizado efetivamente durante os 10 anos que ele vigorou. Porque muitas vezes se passa a ideia que todo dia alguém era cassado, alguém era afastado. E não funcionou dessa forma. É importante ainda que a História venha à luz de forma correta — afirmou Mourão.

Nesta sexta-feira, o AI-5 completa 51 anos. O Ato foi baixado pelo governo do general Arthur da Costa e Silva, em 1968, que ficou conhecido como o “o ano que não acabou”. Uma das medidas previstas pelo Ato Institucional aumentava os poderes do presidente da República, que passava a ter autonomia para decretar, sem intermédio do Judiciário, o fechamento do Congresso Nacional e intervir nos estados e municípios. Era permitida também a cassação de mandatos parlamentares e a suspensão dos direitos políticos de qualquer cidadão por 10 anos.

Questionado se sabia dizer então quantas vezes foi usado, disse desconhecer e citou ele próprio o fato de o ato ter sido usado para fechar o Congresso em dezembro de 1968, quando foi editado, e em 1977 com a criação da figura de senador biônico.

— Nem eu sei. Mas não foi a quantidade que se diz. Por exemplo, o fechamento do Congresso acho que houve duas vezes. Foi logo que ele foi implementado, no final de 68, início de 69, e em 77, quando o presidente [Ernesto] Geisel colocou aquele famoso Pacote de Abril, que colocou a figura do senador biônico. Foram as duas vezes que o Congresso foi fechado com o uso do AI-5 — afirmou o vice-presidente.

Mourão afirmou que o AI-5 foi um “instrumento de exceção”, mas na mesma entrevista refutou o termo “ditadura” para se referir ao período de regime militar.

—Vamos colocar a coisa da seguinte forma: em primeiro lugar eu discordo do termo “ditadura” para o período de presidentes militares. Para mim foi um período autoritário, com uma legislação de exceção, em que se teve que enfrentar uma guerrilha comunista e que terminou por levar que essa legislação vigorasse durante 10 anos – disse.

O vice-presidente disse que Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes “não foram felizes” ao citar o AI-5 e afirmou que hoje o Brasil vive uma “plenitude democrática”.

O Globo

Opinião dos leitores

  1. Comparar a Revolução Democrática de 1964 com o Nazismo é muita canhalice.

  2. Críticar o Regime Militar brasileiro e aplaudir a ditadura sanguinária da China. É falta de coerência, burrice, cegueira ideológica ou o que?

  3. Sobre o regime militar, os jornalistas e as universidades criaram versões dos fatos e venderam o período como se aqui tivesse ocorrido situações que acontecem em Cuba e houve na Argentina.
    Passaram aos alunos que não se dão ao trabalho de ler versões distorcidas sobre o regime militar, como se os militares tivessem combatido contra pessoas inocentes e desarmadas.
    Não falaram aos alunos o que houve sequestro, assaltos, assassinatos, troca de tiros por parte daqueles que se vendiam como "salvadores da pátria" mas queriam apenas tomar o poder e implantar no Brasil um regime totalitário.
    Tanto que os mesmos que foram banidos e depois "perdoados", voltaram e passaram a ocupar cargos e funções públicas, atuando como antes, só que sem arma de fogo, visando tomar o poder e nele permanecer eternamente. A história se repete, só que hoje o povo sabe quem são, como agem e o que querem, só permanece o modus operandi de mentir, enrolar, dissimular para vender o que nunca irão fazer.

  4. deixo uma sugestão: peça a folha seca que faça uma pesquisa em pessoas com mais 50 anos e pergunte se ele se sentia segura durante o regime militar

    1. A população alemã apoiava Hitler. Muitos morreram por ele.

    2. Como também a população se sentia segura antes do golpe militar. A violência absurda teve início a partir de 1988

  5. Ah, como seria bom se não tivessem combatidos os comunistas com as mesmas armas que eles usavam, menos sequestros, assaltos a bancos e terrorismo(nem tanto, teve o caso rio centro e outros menos expressivo), hoje seríamos uma cuba mais arrasada ou mesmo uma Venezuela mais precoce. Era uma maravilha

    1. Ou talvez uma China, aliás esse era o medo do presidente americano John Kenedy.

    2. Essa petralhada sempre sonham com ditaduras assassinas, mau tse Tung e sua carnificina eram sonhos de consumo

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Política

Rodrigo Maia discorda da apresentação de texto alternativo à reforma da Previdência cogitado por parlamentares

 Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), discorda da apresentação de um texto alternativo à reforma da Previdência enviada pelo governo, como foi cogitado por parlamentares na semana passada.

Embora considere que seja “muito cedo” para essa discussão, uma vez que o prazo para emendas no projeto ainda está em curso, Maia defende que o objetivo do texto da reforma da Previdência seja trabalhar pela “maior economia” possível.

“Vamos discutir em cima de um valor e fechar o texto. Não tem essa coisa de texto alternativo, até porque o texto do governo já vai ser modificado na comissão especial, por exemplo, o BPC e a aposentadoria rural que não passam”, declarou Maia.

O BPC é o benefício de prestação continuada pago a idosos e deficientes de baixa renda. Congressistas já declaram que são contra manter mudanças para esses beneficiados na previdência, assim como a aposentadoria rural.

Para Maia, está “muito cedo” para definir o relatório da previdência. “O deputado Samuel Moreira está trabalhando no relatório, ainda tem o prazo de emendas, pode ter voto separado? Pode. Vai ter? Não sei”, disse Maia.

A PEC da reforma da Previdência foi entregue pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso em 20 de fevereiro. Em abril, ela foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que retirou do texto quatro pontos que constavam do projeto original.

Após a análise da comissão especial da Câmara, o texto precisa ser votado em 2 turnos no plenário antes de seguir para o Senado.

O governo deseja obter uma economia de R$ 1 trilhão em 10 anos, como prevê a proposta enviada pelo Executivo ao Congresso em fevereiro.

Perguntado se o valor de economia com a reforma da Previdência vai ser de R$1 trilhão, como quer o governo, ele diz: “Estamos fazendo conta. Pode ser de um, estamos trabalhando em cima de um valor”.

Maia voltou a cobrar articulação política do governo para aprovar a reforma. “Depende da capacidade do governo de conseguir a maioria. A nossa parte estamos fazendo”.

Reforma administrativa

O presidente da Câmara afirmou, também, que até quinta-feira (23) espera conseguir um acordo para votar a Medida Provisória que reestrutura de forma administrativa o governo federal.

Entre as medidas, está a recriação do ministério das Cidades, e a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Economia. O governo havia defendido a permanência do Coaf no Ministério da Justiça e Segurança Pública, mas foi derrotado em comissão na Câmara. Agora, aguarda votação em plenário.

O Coaf é uma unidade de inteligência financeira do governo federal que atua principalmente na prevenção e no combate à lavagem de dinheiro – crime que consiste na prática de disfarçar dinheiro de origem ilícita.

Andréia Saddi – G1

 

Opinião dos leitores

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