Saúde

Cientistas explicam por que ter cachorros faz bem para a saúde

Foto: Luiza Sayfullina/UnSplash

Se você tiver um cachorro e disser para ele que hoje é o Dia Nacional do Cão, desconfio que ele dirá: “Eu achava que todo dia fosse o dia do cão! Cadê o meu presente?”

Enquanto ele devora o petisco, pare um momento para refletir sobre tudo que o seu cão lhe propicia. Talvez seja você, caro dono, que está ganhando um presente: uma boa saúde.

Cães e saúde cardiovascular

Uma análise de quase quatro milhões de pessoas realizada em 2019 nos Estados Unidos, Canadá, Escandinávia, Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido constatou que ter um cão está associado a uma redução de 24% na morte precoce por qualquer causa. Quando os indivíduos já haviam sofrido um infarto ou um derrame, ter um cão mostrou-se ainda mais benéfico; eles tiveram uma probabilidade 31% menor de falecer por doenças cardiovasculares.

O estudo foi criticado por não levar em consideração outras doenças, status socioeconômico e outros fatores que podem interferir nos resultados.

No entanto, outro grande estudo publicado na mesma época demonstrou que donos de cães tiveram melhores resultados na saúde após sofrer um grande problema cardiovascular, como um ataque cardíaco ou um derrame.

O benefício foi maior para os donos de cães que moravam sozinhos. Sobreviventes de ataque cardíaco que moram sozinhos com cães tiveram um risco 33% menor de morte em comparação com sobreviventes que não tinham cães. Sobreviventes de derrame que moram sozinhos com um cão tiveram um risco de morte 27% menor.

A American Heart Association, a associação norte-americana do coração, lista redução do diabetes com um dos benefícios para a saúde decorrentes de se ter um cão. “Pessoas que levam seus cães para passear regularmente correm um terço do risco de ter diabetes do que aquelas que não têm cachorro”, afirma a associação.

Além disso, um cão (ou outro animal de estimação) pode oferecer um suporte social e emocional importante e é um “poderoso indicador de mudanças de comportamento que podem levar à perda de peso”, comenta a associação.

É claro que esses benefícios cardiovasculares são relacionados apenas a cães, não a gatos, cavalos, esquilos e similares. Muitos sugerem que a possível exposição a exercícios físicos explica o benefício: a associação norte-americana do coração aponta estudos que constataram que indivíduos que levam seus cães para passear fazem até 30 minutos a mais de exercícios por dia do que aqueles que não caminham com os cães.

Porém, em uma entrevista anterior à CNN, a doutora Martha Gulati, que é a editora-chefe da CardioSmart.org, a plataforma de educação do paciente do American College of Cardiology, uma associação norte-americana do coração, disse que não há um consenso sobre o motivo.

“É o cachorro ou são os comportamentos?”, pergunta Gulati. “É porque você está se exercitando ou é porque há uma diferença no tipo de pessoa que escolheria ter um cão em comparação com alguém que não o faria? Essas pessoas são mais saudáveis ou mais ricas? Não sabemos dizer.”

Ainda assim, embora “estudos não randomizados não possam ‘comprovar’ que adotar ou ter um cão leva diretamente à redução da mortalidade, essas constatações com certeza ao menos sugerem isso”, disse o Dr. Glenn Levine, presidente do grupo de redação da declaração científica sobre ter animais de estimação da American Heart Association, à CNN em uma entrevista anterior.

A associação sugere várias maneiras de se tornar ativo com seu cão a tiracolo:

Leve seu cachorro para fazer um piquenique. “Prepare alguns lanches saudáveis, como frutas, vegetais, castanhas sortidas e bastante água (inclusive uma tigela para o filhote). Leve uma bola ou outros brinquedos divertidos”, aconselha a associação.

Acompanhe seus filhos e cachorro nas fontes e chafarizes. “Quando estiver calor, pegue roupas de banho e protetor solar e corra pelos chafarizes com seus filhos e seu cãozinho”, sugere a associação, ou vá nadar em uma praia ou piscina que aceita cães.

Participe de caminhadas locais para arrecadação de fundos ou corridas divertidas que incluam cães ou brinque de jogar bolinhas para o seu cão ir buscá-las, aconselha a AHA. “Mesmo com apenas 10 ou 15 minutos, você e seu cão terão um tempinho para se exercitar e criarem uma conexão maior.”

Contudo, a associação também adverte que ter um animal de estimação é um compromisso que vem acompanhado de alguns custos financeiros e responsabilidades, portanto “o objetivo principal da adoção, resgate ou compra de um animal de estimação” não deve se resumir ao risco cardiovascular.

(mais…)

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Geral

Crise econômica, falta de liberdade e pandemia explicam protestos em Cuba

Foto: Yamil Lage/AFP/Getty Images

Milhares de pessoas saíram às ruas de Cuba no domingo (11) para se manifestar devido à situação econômica e à falta de liberdade, uma situação incomum para o país governado pelo Partido Comunista de Cuba, o único legal, desde a Revolução de 1959 e que faz lembrar da onda de protestos no início dos anos 1990.

As manifestações ocorreram em Havana e San Antonio de los Baños, segundo a CNN, e em outras partes de Cuba, segundo vídeos veiculados em redes sociais, que pareciam mostrar outros protestos em várias de cidades e vilas da ilha.

Um morador que não quis ser identificado, por sua vez, disse à CNN que os moradores de San Antonio de los Baños vinham passando por cortes de energia durante a semana e que isso havia “gerado” descontentamento na cidade.

Esses protestos são muito inusitados, pois o governo não permite qualquer tipo de manifestação e, caso ocorram, são imediatamente contidos. Desta forma, inúmeras prisões foram feitas e a polícia disparou gás lacrimogêneo para desmantelar algumas concentrações.

O que está acontecendo então em Cuba?

Condições econômicas preocupantes

Nesta ocasião, as pessoas reclamaram principalmente de cortes de energia, escassez de alimentos e o manejo do governo na pandemia de Covid-19, prejudicando uma economia já fortemente afetada por sanções durante o governo Trump e que depende do turismo, que praticamente desapareceu durante os bloqueios de 2020 para conter o vírus.

A queda do turismo, principal fonte de divisas do país, também provocou queda nas importações de bens essenciais, gerando escassez.

Consequentemente, o número de migrantes cubanos que tentam chegar aos Estados Unidos é o maior desde 2017.

De acordo com a Guarda Costeira dos Estados Unidos, em todo o ano de 2021 cerca de 500 cubanos foram interceptados no mar tentando chegar à costa da Flórida. Em 2019, eram 313 e, em 2018, apenas 259.

Os números são ainda menores do que os registrados durante o “Período Especial” no início de 1990 em Cuba, quando milhares de cubanos, em meio a uma onda de protestos, pularam ao mar, escapando das severas condições econômicas da ilha após a queda do regime da União Soviética, em 1991, principal aliado e parceiro comercial de Cuba.

Mesmo assim, eles mostram que cada vez mais cubanos estão dispostos a cruzar os perigosos 144 quilômetros de mar que separam a ilha da Flórida.

O papel da pandemia de Covid-19

Segundo a Universidade Johns Hopkins, Cuba relatou 238.491 casos e 1.537 mortes por Covid-19. Mas os números preocupantes são os mais recentes: 6.923 infecções e 47 mortes foram registradas no domingo, um recorde para o país desde o início da pandemia. Também os casos acumulados na última semana são recorde.

“Nas últimas duas ou três semanas o aumento de casos foi mais intenso. As autoridades confirmaram a variante delta no interior de Cuba”, disse à CNN José Geraldo Moya Medina, representante da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde em Cuba no início de julho.

Moya Medina disse que a situação é pior nas cidades do interior de Cuba e não tanto em Havana, onde começou a ser aplicada a vacina de desenvolvimento local Abdala, que teria uma eficácia de 92%, segundo autoridades cubanas. Uma segunda vacina cubana, a Soberana 02, teria eficácia de 62%.

Reivindicações por mais liberdade

Muitos manifestantes gritaram por “liberdade” e pediram a renúncia de Díaz-Canel. A polícia prendeu vários manifestantes e usou gás lacrimogêneo para interromper algumas manifestações. Os confrontos violentos com os manifestantes também foram relatados, jogando pedras e derrubando um carro da polícia.

Desde a Revolução Cubana de 1959, que derrubou o ditador Fulgencio Batista, Cuba é governada pelo Partido Comunista de Cuba e sob um regime comunista liderado por Fidel Castro, que mais tarde entregou o poder em 2006 a seu irmão Raúl Castro.

Alinhado com a União Soviética em tempos de Guerra Fria, elo pelo qual o país recebia subsídios no valor de US$ 4.000 a US$ 6.000 milhões anuais, Cuba viveu dificuldades econômicas nas últimas décadas, em meio a demandas crescentes por reforma e abertura de sua população.

A dura resposta do governo

O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse na segunda-feira (12) que as sanções comerciais dos EUA criaram miséria econômica na ilha e foram responsáveis ??pelos protestos.

As palavras de Díaz-Canel, que sucedeu Raúl Castro como presidente em 2018, pareciam se referir ao governo de Donald Trump, que promulgou algumas das medidas econômicas mais duras contra Cuba em décadas, incluindo sanções econômicas e restrições a viagens. Até agora, o governo Biden ainda não os suspendeu.

Ao final do mesmo discurso, garantiu que “a ordem de lutar foi dada, (…) os revolucionários precisam estar nas ruas”.

Enquanto o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, criticou o assessor de segurança da Casa Branca, Jake Sullivan, na segunda-feira, por fazer uma declaração em apoio aos incomuns protestos cubanos.

“O Assessor de Segurança Nacional da Casa Branca carece de autoridade política e moral para falar de Cuba. Seu governo destinou centenas de milhões de dólares para a subversão em nosso país e impõe um bloqueio genocida, que é o principal responsável pelas deficiências econômicas”, afirmou. Rodríguez em um tuíte.

Biden pede a Díaz-Canel que “ouça seu povo”

No tuíte que provocou a reação de Rodríguez, Sullivan expressou seu apoio ao povo cubano: “Os Estados Unidos apóiam a liberdade de expressão e reunião em Cuba e condenariam veementemente qualquer violência ou ataque contra manifestantes pacíficos que exerçam seus direitos universais”.

Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na segunda-feira deu seu apoio ao povo cubano em meio aos protestos e pediu ao regime de Díaz-Canel que “ouça seu povo e atenda suas necessidades”.

“Apoiamos o povo cubano e seu clamor por liberdade e alívio do trágico controle da pandemia e das décadas de repressão e sofrimento econômico a que tem sido submetido pelo regime autoritário de Cuba”, disse Biden em um comunicado.

CNN Brasil

Opinião dos leitores

  1. Segundo uma refugiada cubana morando no Brasil, lá você tem direito a comprar uma coxa de frango e cinco ovos por mês. É isso que a esquerda esconde.

  2. “A queda do turismo, principal fonte de divisas do país, também provocou queda nas importações de bens essenciais, gerando escassez.”

    Mentira. A principal fonte de renda era o parasitismo junto à Venezuela e a corrupção petista que drenava recursos brasileiros ao regime opressor, seja via mais médicos (trabalho escravo), Puerto Mariel, OffrShores etc.

  3. O paraíso dos esquerdopatas Brasileiros, que não querem nem visitar Kkkķ.
    Acabou a ajuda do Governo Brasileiro e a escravidão dos médicos cubanos. Aí o paraíso ruiu de vez.
    #SOSCUBA

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Comportamento

Internautas relatam aumento dos sonhos eróticos na quarentena; especialistas explicam

Foto: Shutterstock

Por causa da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), o mundo entrou em isolamento social e muitos estão longe dos namorados ou “crushes” e de possíveis relações sexuais.

Por conta disso, nas redes sociais muitas pessoas começaram a relatar que depois de entrar em quarentena, estão tendo mais sonhos eróticos que o normal – muito lúcidos – até lembrando do que ocorreu durante o sono.

 

O psicólogo especialista em sexualidade e relacionamento, Oswaldo Rodrigues Júnior, afirma que a libido é uma decorrência de fatores de interação da pessoa com o ambiente.

“Em uma situação de isolamento social, há uma série de efeitos negativos, dependendo da vida anterior da pessoa. Se a pessoa ou um casal sair para jantar, se divertir antes de uma relação sexual, isso fará falta na vida em quarentena”, diz Oswaldo.

Já para os solteiros, o psicólogo afirma que com a falta de contato físico e o aumento de outras atividades sexuais, como a masturbação, os sonhos são mais frequentes. “Os sonhos tendem a aparecer mais frequentemente, inclusive pela percepção de necessidade de contato físico, algo que é pressuposto pela atividade sexual”, diz o especialista.

“Os solteiros querem ter alguém por perto em meio a tantas coisas ruins e isso pode influenciar na libido”, afirma a fisioterapeuta pélvica e sexóloga Débora Pádua.

Ela afirma que ao estar acordado, em sã consciência, não permitimos que os desejos se aflorem. Por isso, no sono, isso se liberta e se revela em sonhos eróticos. “Se a pessoa não faz nada para que aconteça o desejo, como a masturbação ou o uso de um vibrador, é mais comum que os sonhos eróticos ocorram, já que eles não se completam durante o dia”, diz Débora.

As notícias ruins, tensão e o medo por causa da pandemia também influenciam. Se não há a liberação daquele desejo sexual conscientemente, os sonhos dão esta sensação. “Mesmo casais afastados virtualmente, mesmo tendo a masturbação ou algum ato virtual, aquilo não foi libertado efetivamente, por isso vem os sonhos”, afirma a sexóloga.

Como a falta de contato físico afeta o psicológico, Oswaldo indica que ao ter a atenção voltada às relações sexuais, “os pensamentos, percepções e sentimentos do dia ficam mais frequentes nos sonhos”.

IG

Opinião dos leitores

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Economia

Coronavírus e desaceleração mundial afetam cotação do dólar, diz Guedes

Foto: Adriano Machado/Reuters

A despeito da alta do dólar nesta quinta-feira, que atingiu novo recorde de R$ 4,662 no início da tarde mesmo após intervenções do Banco Central, o ministro da Economia, Paulo Guedes, classificou o patamar da moeda americana como “normal”, afirmou que o câmbio é “flutuante” e que sua flutuação agora será num nível mais alto. Para o ministro, a crise do coronavírus e a possível desaceleração da economia mundial explicam parte desse movimento.

– Lembra o câmbio flutuante? Que flutuava entre R$1,80 ou R$ 2,20 ? A flutuação dele agora é num nível mais alto: R$ 3,60, R$ 4,60. Não sabemos. É o câmbio flutuante. Só que ele flutua num patamar mais alto. É simplesmente Isso – afirmou o ministro, que participou de uma reunião com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, junto com o presidente Jair Bolsonaro.

Questionado se a moeda americana poderia chegar a R$ 5, Guedes afirmou que isso só seria possível se fosse feita “muita besteira”.

– Isso aí era perfeitamente previsível. Pô. Mas tá indo para R$ 4,30 ou R$ 4,40, tem o coronavírus, a desaceleração da economia mundial (…). Se fizer muita besteira ele pode ir pra esse nível. Se fizer muita coisa certa, ele pode descer.

O ministro frisou que a agenda de reformas precisa ser implementada para acalmar a moeda americana. No entanto, em ano eleitoral, como em 2020, a tramitação dessas propostas no Congresso costuma ser mais lenta.

– Claro que quanto mais rápido você apresentar as reformas, mais rápido você recupera a confiança e o dólar acalma. Preocupa o nível? Quando sobe rápido preocupa. Por isso que o Banco Central vende um pouco. Mas é natural – disse.

O Globo

Opinião dos leitores

    1. Mais um dilmista que entende de economia…. saia de blogs ideologicos. va estudar economia de verdade.

  1. E tem gente q acredita nesse embuste, capacho de banqueiro e especulador?
    Primeiro era tirar Dilma q o dólar voltava pra 2 reais. Mentira. Depois era só aprovar a reforma trabalhista q tdo ficaria as mil maravilhas. Mentira de novo. Depous era só aprovar a reforma da previdência q virariamos a Suécia. Nada e o povo pobre e trabalhador perdendo os seus direitos.
    O bom é q a classe média paneleira se achava rica reclamando com dólar a 2,5 reais agora nem na Agentina pode mais….
    Agora esse senhor q enganar mais quem?
    Mas dizem q se fizer arminha e pensar bem forte o dólar baixa.

    1. Deixa de ser babaca, atordoado e abobalhado. A economia do mundo está desacelerada por causa do coronavírus, isso, além da roubalheira de mais um trilhão de reais pela quadrilha esquerdalha são os maiores entraves da alavancagem da economia brasileira. Mais nada. As engrenagem da economia estão até bem azeitadas, restando ainda, segurança jurídica e umas reformas. Só após essas mudanças, iremos ter condições perfeitas e ideais para os investidores. O resto é tolice de de babaca petralha liso e desinformado, que serve de massa de manobra pra ladrões de dinheiro público.

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Saúde

Médicos explicam como a depressão se desenvolve nas diferentes etapas da vida; veja características de acordo com cada faixa de idade

SEGUNDO O ÚLTIMO LEVANTAMENTO DA ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE (OPAS), HÁ MAIS DE 300 MILHÕES DE PESSOAS DEPRIMIDAS NO MUNDO (FOTO: PIXABAY)

Segundo o último levantamento da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), há mais de 300 milhões de pessoas de todas as idades que sofrem de depressão no mundo. No Brasil, dados da Vittude (plataforma online voltada para a saúde mental), feitos com 492.790 pessoas, mostram que 5,9% dos respondentes se encontram em estado extremamente severo de depressão.

Principalmente se não for tratada, a doença pode voltar em diferentes períodos da vida ou se tornar crônica: o que muita gente não sabe é que é possível ficar deprimido não apenas na vida adulta e na adolescência, mas também na velhice e até mesmo na infância.

Depressão infantil: o tédio que nunca acaba

Durante o 8º Fórum de Sistema Nervoso Central da América Latina, evento promovido pela empresa farmacêutica Pfizer, nos dias 02 e 03 de agosto, a psiquiatra Sheila Caetano conta que embora a depressão tenha sido descrita no século 5 a.C por Hipócrates — sob o nome de “melancolia” — só começou a se falar em depressão infantil no século passado.

“Não porque não existia a criança deprimida no passado, mas porque não existia o conceito de infância. Até o século 17 e 18 as crianças eram ‘mini adultos’. Durante a Revolução Industrial na Inglaterra, você tinha crianças de 7 a 10 anos trabalhando”, afirma Caetano, que é pesquisadora da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).

Segundo a psiquiatra, o que pode causar depressão nesse período são fatores como doenças crônicas reumatológicas (em tecidos como ossos, músculos e articulações), histórico familiar de suicídio, abuso, abandono e contato com substâncias psicoativas. Mas ter depressão abaixo dos 6 anos de idade é considerado algo muito raro pelos especialistas.

Isso porque a criança ainda está “aprendendo os sentimentos” e como lidará com eles. “Geralmente quando vem a depressão ela é mais física, é uma criança que está sem comer, porque está fraca, porque não quer ir à escola e porque tem medo”, conta.

Dos 7 aos 12 anos, a doença tem mais chances de ocorrer e é um período em que já há capacidade de verbalizar o sofrimento — apesar de não entendê-lo. No período seguinte, dos 8 anos até a pré-adolescência, a criança já consegue interpretar os sentimentos. “O que eles falam muito quando estão deprimidos é que tudo é muito tédio e que o tédio não sai”, explica. “E elas já começam a esboçar um desejo de morte.”

Segundo Caetano, na infância não há noção avançada de letalidade em relação ao suicídio, mas há a intencionalidade. Com 7 anos, uma criança “quer dormir e não acordar”, mesmo que ela não entenda que isso não é reversível. “Elas não entendem que não vão viver de novo, mas já há esse ato”, diz a psiquiatra.

Adolescência: irritabilidade e impulsividade

ADOLESCÊNCIA É MARCADA POR FLUTUAÇÕES HORMONAIS INTENSAS QUE AUMENTAM OS RISCOS DE DEPRESSÃO (FOTO: PIXABAY)

Ter depressão durante a juventude traz principalmente sintomas como humor irritável, alternação de peso, anedonia (perda de prazer em atividades que se gostava de fazer antes) e mudanças anormais no sono. “O que vemos muito são adolescentes dormindo 12 a 17 horas por dia. Mas a família não entende como eles dormem tanto e ainda ficam cansados”, explica Caetano.

Quando se tem depressão na adolescência, há uma percepção subjetiva de tristeza, mas somada à impulsividade e à agressividade — fatores que apresentam um “pico” devido às mudanças hormonais. Assim como na infância, a noção de letalidade é menor: não por baixa compreensão, mas devido aos impulsos — nem sempre há um plano de suicídio. Por isso, é importante o diálogo dos pais com os jovens em um espaço sem julgamentos.

“A prevenção começa em uma questão simples de ter com quem falar”, diz Caetano. “A gente precisa sempre ter essa rede de suporte, pois as depressões mais leves e moderadas nós tratamos com intervenções psicossociais.”

Vida adulta: preocupações do trabalho e vida reprodutiva

Durante a vida adulta, a depressão se manifesta de modo diferente entre homens e mulheres. Elas são mais suscetíveis à doença, principalmente devido às regulações hormonais como o déficit de estrogênio, hormônio fabricado pelos ovários e liberado na primeira fase do ciclo menstrual.

“Até 8% das mulheres vão apresentar o quadro da depressão cíclica. Durante a gravidez e a lactação, até um quarto das mulheres deprimem”, afirma Carmita Abdo, psiquiatra da Universidade Universidade de São Paulo (USP), durante palestra no 8º Fórum de Sistema Nervoso Central da América Latina.

Segundo Abdo, as mesmas mulheres que sofrem com depressão durante a gravidez têm ainda mais chances de desenvolver a doença no puerpério, período de 45 a 60 dias após o parto. Muitas adquirem transtorno disfórico pré-menstrual, doença marcada por mudanças de humor extremas que desaparecem após a menstruação.

“Essa mulher só vai ser diagnosticada como deprimida no climatério [transição do período reprodutivo para o não reprodutivo] ou na menopausa, quando de fato o risco de recorrência da depressão é maior”, explica Abdo. Nos homens, ela conta, a depressão na vida adulta pode ocorrer devido à oscilação de testosterona, mas isso ocorre mais no final da vida, quando os índices dos hormônios começam a cair.

À GALILEU, José Alberto Del Porto, psiquiatra da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), explica que para os adultos é muito comum a manifestação do burnout, que alguns pesquisadores classificam até mesmo como sendo um tipo de depressão.

“Ele alude a fatores estressores no ambiente de trabalho e não é uma situação rara. Pode começar como uma situação de estresse ambiental e em pessoas predispostas ele pode acabar evoluindo para a depressão”, afirma Del Porto.

DEPRESSÃO É MAIS COMUM EM IDOSOS DO QUE EM IDOSAS (FOTO: PIXABAY)

Velhice

O psiquiatra Sérgio Blay, da Unifesp, conta que a incapacitação nos idosos com depressão é bem maior, considerando todas as doenças da medicina clínica e psiquiátrica. A depressão também pode aumentar os riscos de demência — Blay cita uma revisão de estudos de Lars Kessing, pesquisador da Dinamarca, sobre o assunto.

Um fator protetor para evitar as disfunções cerebrais atreladas à demência, segundo o psiquiatra, seria os níveis de escolaridade, que “protegem o cérebro” quase 60 anos depois. Na velhice, há maior incidência de depressão em homens, pois é o período em que os níveis de testosterona começam a diminuir de forma mais acenturada. Desse modo, na mulher idosa, a depressão é frequentemente não reconhecida. “A doença costuma estar muito associada com quadros de doenças cerebrovasculares e com a maior ocorrência de perda de função física e de problemas de visão nas mulheres idosas”, afirma Carmita Abdo.

Nos idosos, a depressão conta com alguns “fatores de risco”, como baixa renda (aposentadorias que prejudicam condições de vida e de alimentação), solidão e a viuvez, em decorrência da morte parceiro amoroso.

“Muito mais para homens há uma piora do quadro devido ao uso de álcool e à baixa inserção social”, afirma Abdo. “A mulher costuma continuar a manter no envelhecimento as relações familiares e de vizinhança.” O tratamento da depressão na terceira idade também tende a ser mais complicado, pois geralmente o idoso já toma muitos medicamentos: receitar o melhor antidepressivo, portanto, fica mais difícil. “Os nossos pacientes ainda se queixam na disfunção sexual, da insônia. É preciso perguntar para escolher um medicamento que tenha eficácia”, explica Abdo.

Galileu

 

Opinião dos leitores

  1. Muito boa a matéria, está de parabéns, o blog sempre trazendo informações de qualidade.

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