Com o avanço e a popularização dos drones, a guerra do Rio chegou aos céus. E a tecnologia virou arma nas mãos dos bandidos para monitorar os passos da polícia e de facções rivais. São os novos “olheiros” do tráfico em favelas conflagradas como a Serrinha e Vigário Geral. Para o bem, no entanto, eles têm se tornado aliados indispensáveis de agentes públicos e privados de segurança. Nessa corrida, quem fica para trás são as polícias Civil e Militar fluminenses, sem investimentos na área. O Batalhão de Operações Especiais (Bope) é hoje a única unidade especializada da PM que opera essas aeronaves não tripuladas — que há mais de uma década ganharam os ares em guerras como as do Iraque e do Afeganistão. Mas elas já apoiam ações das Forças Armadas, reforçam a vigilância em eventos como o Rock in Rio e são usadas na guarda de indústrias, centros de distribuição e até de condomínios residenciais.
Do lado da criminalidade carioca, o chefe do tráfico na Serrinha, Walace de Brito Trindade, o Lacosta, foi um dos primeiros a adotá-las. Atual comandante do 41º BPM (Irajá), o tenente-coronel Maurílio Nunes conta que, há aproximadamente dois anos, quando era do Bope, foi apreendido um controle de drone na favela de Madureira. Na época, diz ele, um dos presos na ação relatou que a quadrilha tinha três aeronaves para vigiar a polícia e os inimigos.
Já no mês passado, a imagem de um drone sobrevoando o Parque das Missões, em Duque de Caxias, chamou a atenção. O veículo aéreo não-tripulado (Vant, como também são conhecidos) seria de Álvaro Malaquias, o Peixão, chefe do tráfico de Parada de Lucas, Vigário Geral e Cidade Alta. Apesar da constatação, a Polícia Civil informou que não abriu inquérito para investigar o caso, pois não tinha como provar de quem era o drone. O assunto é novo até para os investigadores.
— O problema é que temos a informação, mas falta a materialização — comentou um delegado, que pediu para não ser identificado.
Até por isso, na lista de tecnologias de ponta que precisam ser empregadas na polícia, especialistas na área de segurança põem os drones entre os prioritários. Para Wanderley de Abreu, da Storm Security, além do uso dos Vants, os agentes precisam ser capazes também de bloquear o sinal ou até sequestrar as aeronaves dos bandidos.
— Isso é muito comum nas ações militares americanas. É o “hijacking” de drones, ou seja, o sequestro deles. É possível “roubar” o controle dos aparelhos que estiverem voando. Além disso, nos Estados Unidos há aparelhos que fazem o drone inimigo pousar — explica Abreu. — A tecnologia é fundamental para o combate a qualquer tipo de delito, desde um roubo de carro até crimes de colarinho branco. A polícia tem que se preparar.
Na segurança privada no Brasil, é crescente o uso tanto dos drones quanto dos antidrones, ressalta Bruno Jouan, diretor da SegurPro, braço da empresa Prosegur. Ele explica que o sistema para impedir o sobrevoo de drones cria uma espécie de barreira eletromagnética, usada no Rio por empresas que precisam garantir segurança industrial e da informação. Já as aeronaves da empresa estão presentes nos serviços prestados a clientes na capital e em Macaé.
— Com visão aérea e móvel, conseguimos ter um espectro de vigilância maior e ganhamos agilidade. Usamos os drones no Rock in Rio. Com câmeras térmicas, pudemos enxergar à distância uma lancha com pessoas que tentariam pular as cercas e invadir o evento. Enviamos uma equipe para o local, que conseguiu interceptá-las — diz Bruno. — Mas também já sofremos com uma experiência ruim relacionada aos drones, usados por bandidos para monitorar uma base nossa que eles explodiram no Paraguai.
Entre os usos, o combate ao roubo de cargas
As possibilidades de utilização são muitas. Na Zona Norte, um condomínio tem utilizado os Vants para monitorar a mata vizinha e checar possíveis ocupações irregulares. As informações serão enviadas à prefeitura. Os bombeiros já usam os drones em salvamentos na orla e em buscas nos trechos de difícil acesso. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) os utiliza para coibir o desmatamento, incluindo áreas controladas pelas milícias. E o prefeito Marcelo Crivella lançou recentemente o projeto Sentinela Carioca, com drones para fiscalizar e dar apoio à PM.
Já em Duque de Caxias, na Baixada, a empresa de monitoramento FJ firmou parcerias para o combate ao roubo de cargas. Os caminhões têm rastreadores que travam os veículos na iminência de um perigo. Mas, se mesmo assim eles forem roubados e levados para as favelas, em pelo menos 20% dos casos os drones entram em cena.
— É o nosso último recurso. De um ponto seguro, levantamos voo para conseguirmos informações sobre onde a carreta e a carga estão. Mapeamos, por exemplo, possíveis acessos e qual a situação no entorno. E enviamos essa informação a nossas equipes e à polícia — diz Pablo Ferreira, assessor de segurança da empresa, contando que, em uma dessas ações, já teve um drone alvejado pelos ladrões.
O GLOBO
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